Capítulo 1

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      Seth cobriu o rosto para evitar o mau cheiro que emanava do lugar. Era um cheiro comum para ele, mas jamais se acostumaria àquilo. Desviou de um corpo em decomposição e apertou uma de suas lâminas celestiais um pouco mais forte. A lâmina era curva, lembrando muito uma cimitarra árabe. Ele sabia que aquele cheiro terrível atraía todo tipo de criatura desprezível e ninguém deveria encontrar uma delas desarmado. Aquelas pessoas, que agora jaziam em pedaços espalhadas pelas ruas cidade, descobriram isso da pior maneira.

      Como se pudesse ler os pensamentos de Seth a lâmina celestial apresentou um brilho levemente alaranjado e aqueceu um pouco em suas mãos. Um par de asas negras se abriu alguns metros à frente fazendo uma brisa morna levantar o cheiro pestilento. Mahaziah olhou por sobre o ombro e por entre as asas e lançou um pedido de desculpas silencioso para Seth, que apenas assentiu com a cabeça. Aquele não era o melhor momento para discussões, eles estavam sozinhos e não sabiam quantos demônios ainda restavam naquele lugar; pelo brilho da lâmina em suas mãos Seth podia apenas saber que não eram muitos, ou ao menos não eram muito poderosos. As asas de Mahaziah estremeceram ao mesmo tempo que o brilho da lâmina se intensificou e Seth praguejou baixinho.

      - Merda!

      Com grunhidos que mais pareciam uma risada medonha a criatura saiu de dentro de uma das casas e se postou no meio da rua, seus olhos esbugalhados fixos em Mahaziah, a criatura deformada e monstruosa fedia terrivelmente, Mahaziah as vezes os chamava de orcs porque era assim que os humanos costumavam descrevê-los antes da grande guerra; o anjo segurava uma espada incandescente e suas asas, agora revestidas com penas que mais pareciam um metal negro e luzente, encontravam-se totalmente abertas. Mahaziah era alto e negro como o ébano, musculoso e com olhos de um dourado profundo, seu rosto sempre mostrava bondade e gentileza, a não ser que uma batalha estivesse prestes a começar. Era esse o caso. O demônio riu alto e emitiu um grito rascante, fazendo com que seus seguidores saíssem de seus esconderijos cercando Seth e Mahaziah. Os dois puseram-se de costas um para o outro e se prepararam para a luta. Seth contou oito demônios e pela temperatura da lâmina que segurava sabia dizer que eram apenas aqueles.

      - Sabe anjo, seu humano exala um cheiro inconfundível, eu pude farejá-lo antes mesmo de vê-lo. - gritou o demônio expelindo uma gosma preta e rindo.

      - Eu disse que você precisava de um banho - Mahaziah debochou.

      Seth firmou os pés no chão e se preparou para o confronto. Sua lâmina celestial ficou incandescente e partiu ao meio o primeiro demônio que investiu contra ele. Isso fez os outros demônios partirem para o combate ao mesmo tempo. Seth tirou outra lâmina das costas e atacou também. Ele podia sentir as lâminas vibrarem em suas mãos sempre que tocavam o corpo de um dos demônios. Sentiu o peito queimar ao ser atingido pelo golpe de um deles. O golpe lançou Seth no ar por alguns metros e as lâminas saíram de suas mãos.

      - Seu humano parece irritado, talvez eu deva matá-lo de uma vez. - o demônio debochou.

      - Você pode tentar. - Mahaziah sorriu de maneira irônica.

      Seth levantou-se de um salto e rapidamente recuperou suas lâminas, sorriu para o demônio chefe e com um aceno de cabeça  voltou para o combate com os outros. Decapitou o primeiro que investiu contra ele e atravessou uma espada no segundo. Sentiu os braços do anjo envolvê-lo e as asas gigantes servirem de escudo contra os espinhos que um dos demônios lançou.

      - Uma vez anjo da guarda, sempre anjo da guarda - Mahaziah sussurrou em seu ouvido.

      Assim que a chuva de espinhos cessou o anjo abriu as asas e partiu com sua espada em direção ao demônio chefe, a luta não demorou muito e o demônio terminou com uma espada flamejante atravessada em sua cabeça. Os outros demônios foram vencidos facilmente e suas carcaças foram incineradas em seguida. Na verdade era isso que acontecia com demônios quando morriam, seus corpos pegavam fogo e desapareciam, ao contrário dos humanos, que ficavam apodrecendo exatamente onde caíam.

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