Capítulo Três

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KRISTEN BLAKE TAURUS

Tudo bem, o uniforme do acampamento não era tão ruim. A blusa amarela até que ficava bem com a bermuda caqui. O meu cinto marrom estava aparente, com a camisa dentro da calça como orientado, e eu parecia realmente uma campista. Os tênis ainda estavam brancos, mas não por muito tempo, considerando que terra e lama eram mais que suficientes para o sucesso de um acampamento de verão.

Aventurei-me em brincar com os grampos e fiz um rabo de cavalo alto, deixando uma franja de queixo dividir meu rosto. Estava ótimo.

Valentine tinha me ligado, se desculpando por não vir ao alojamento se pedir. Eu estava com tanta pressa para me livrar do tour com os calouros no programa de verão que fui o mais breve possível. Arrumaria tempo para uma ligação mais tarde.

Hunter, um dos donos do acampamento de verão, havia perguntado qual seria meu custo-benefício com a ida até o local. Era mais afastado da cidade, enorme. Eu não teria condições de bancar um táxi e não tinha carro. Poderia chorar uma carona para Owen, mas ele ao menos tinha tentado contato depois de... Hm... O acontecido. Não parecia apropriado.

Pensei em dizer que iria andando, mas Hunter me ofereceu um dinheiro extra para acompanhar as crianças do ônibus durante a ida. Como elas iam embora mais cedo que os funcionários, na volta, ele prometeu que a esposa teria uma solução. Aceitei, claro. Eu trabalhei como babá tempo o bastante para saber como calar crianças.

Já pronta, fui ao ponto de encontro e esperei pelo ônibus amarelo. Chequei meu celular, temendo alguma ligação do meu pai. Não tinha nada além de uma chamada desconhecida.

Tudo bem, as coisas deviam estar bem.

"Kristen Blake?" o motorista perguntou abrindo as portas gêmeas e eu assenti sorrindo. O senhor de idade não hesitou em corresponder e fez um gesto convidativo com as mãos, indicando que eu poderia entrar.

Por alguns segundos, pensei que estávamos sozinhos e íamos buscar as crianças. O transporte estava tão silencioso que não parecia estar lotado de crianças de dez a quinze anos. Pareciam distraídos demais com os telefones e fones de ouvido. Sérios, sem conversas e até separados por gênero. Meninas de um lado e meninos do outro. Sem trocar uma palavra.

O motorista pareceu notar minha confusão e soltou uma risada franca. "Jovens e seus eletrônicos. É o maior problema da Barb durante as atividades."

Voltei meu olhar aos jovens e uma lâmpada se acendeu em minha cabeça. Eu tinha em média dez anos a mais que alguns ali, então, precisaria tentar não ser a tiazona do acampamento. A maioria das carrancas me lembrava de Owen, quietos e atentos.

Se eu consegui fazer aquela estátua se divertir, eu conseguiria lidar com essas crianças. Não iria envolver bebidas, sexo... Mas eu ia conseguir alguns sorrisinhos.

Peguei minha bandana amarela e caminhei para frente no corredor dos assentos. Alguns olhares –principalmente o de garotos, cheios de hormônios – se levantaram e foram cutucando colegas do lado, tirando os fones e bloqueando os celulares. Em alguns segundos, fui conquistando a atenção de todos.

"Olá, campistas!" comecei estampando um dos meus melhores sorrisos "Eu sou Kristen e serei sua monitora esse verão. Eu sei que pode ser um saco ficar sem sinal para seus celulares e que provavelmente metade de vocês está aqui por que o pai mandou..." risadinhas se formaram e eu soube que estava conquistando a empatia dos jovens "Mas vai ser divertido. Que tal conhecer um ao outro? Eu vou passar essa bandana e quem a tiver fala o nome, idade e o que vai fazer no meio do mato. Tudo bem?" a maioria dos adolescentes pareceu se esconder, como se não quisesse ser o primeiro a se apresentar.

Distração MútuaOnde histórias criam vida. Descubra agora