I want to see you smile but know that means I'll have to leave

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Vi quando você largou a última rosa vermelha antes de começarem a fechar o buraco onde meu corpo iria ficar pela eternidade, ou até que os vermes fizessem seu trabalho. Vi quando Sirius puxou seu corpo até que estivesse presa entre Marlene e ele, abraçando você tão apertado que consegui sentir o ar faltando em seus pulmões. Senti o clima ficar pesado quando o padre disse suas últimas palavras e as lágrimas não paravam de cair por seus lindos olhos.

Seus olhos. Aí está uma das coisas que me fizeram cair de amores por você desde a infância, Lírio. Aquelas esmeraldas brilhantes estavam sempre me cercando, até mesmo em meus sonhos.

Não consegui ir embora, Lily. Não quando você chorou até o amanhecer e se deixou consumir pela solidão, pela tristeza. Tive que fazer alguma coisa amor, tive que ficar com você. Eu vi quando Remus e Dorcas bateram na nossa porta para te fazer companhia e você recusou, afirmando estar bem. Rem sabe quando as pessoas mentem Lils, mas ele deixou você ficar só sem insistir.

Eu tive que fazer alguma coisa, sabe?

Foi nesse dia que mostrei minha presença pra você pela primeira vez e vi em seus olhos o medo de estar alucinando. Você repetiu a mesma frase para as paredes, deixando seu corpo cair até o piso frio.

— Você está louca! Sozinha e louca! Ele morreu, não está aqui, nunca mais vai estar...

Fiquei ao seu lado, sussurrando o quanto te amava e que não iria embora até vê-la feliz. Demorou, mas você me viu. E aquele sorriso lindo se abriu para mim outra vez.

Ah Lily, seu sorriso brilha mais que o sol. Você era o meu sol.

Nossos amigos acharam estranho o quão rápido você ficou bem, considerando os fatos, como disse Peter em um dos jantares que você preparou aqui em casa. Bem, na sua casa. Percebi que aquilo te machucou... todos eles juntos e você, mesmo que comigo, continuava sozinha. Que culpa você tinha afinal, eu era apenas um fantasma bobo e apegado. Assombrei a sua vida Lírio, mesmo sem você perceber.

Mesmo sem eu perceber.

Atrasei sua trajetória quando me recusei a partir e isso machucou você, machucou a mim.

Te acompanhei durante um tempo, sempre presente quando você se sentia triste. O que passou a acontecer com frequência. Nossos jantares na quinta-feira depois do seu trabalho foram ficando tão amargos quanto os bolos que costumávamos tentar fazer juntos. Você foi ficando amarga, amor. E eu não consegui ver isso sem sentir minha alma quebrar.

Você era o ser humano mais doce que conheci e deveria se manter assim, querida. Mesmo que para isso eu tivesse que partir definitivamente.

[...]

Demorou até a coragem aparecer, confesso. É difícil Lily, foi difícil te deixar ir para sempre. Mas eu te amo tanto, meu amor, tanto... que te quero feliz, saudável, bem. E isso só iria voltar a acontecer quando eu fosse embora.

Me apaixonar por você foi tão fácil quanto aprender a caminhar Lily, mas saber que não iria mais ter seu corpo junto ao meu na nossa cama, seus cabelos bagunçados e espalhados pelo travesseiro ou seu olhar preguiçoso pelas manhãs... isso foi difícil.

Estudei todos a sua volta por um tempo, sem você perceber é claro, e tentei da melhor maneira possível deixar meu ciúme de lado quando seu colega no jornal te chamou para sair. Havia se passado um ano desde que aquele maldito acidente de carro tirou minha vida e tudo continuava igual, exceto pelo fato de que eu estava pronto para partir.

Ouvi quando Marlene comentava com Alice sobre sua aparência. Que parecia frágil, pronta para quebrar a qualquer momento. Elas estavam certas minha flor, você estava longe de parecer aquela leoa destemida que sempre aparentou ser.

Não podia deixar você definhar Lily, não mais. Sem que você visse coloquei algumas rosas brancas na sua mesa do escritório, com um bilhete endereçado.

Dizia ser de John Goldstein, mas era meu. Coloquei o que você gostaria de ouvir, o que despertasse seu espírito outra vez e abaixo deixei o número dele para que você ligasse.

E você ligou.

No outro dia, mas ligou. E não imagina o quão feliz isso me deixou, amor. Uma centelha de vida havia despertado no fundo da sua alma quebrada e era o primeiro passo para que ela se curasse.

Saí do seu sistema aos poucos, deixando de responder, de rir das suas piadas sem graça, de cantarolar para você dormir. Foram necessários mais de dois meses para que a desintoxicação estivesse quase completa. Isso foi o que me tornei em sua vida Lírio, me tornei tóxico.

Quando sumi de vez, você passou a acreditar que estava realmente louca e visitou alguns médicos. Isso te fez bem, te deixou leve outra vez. A doutora Richards falou que já era hora de voltar a viver e você fez isso, mesmo que não estivesse cem por cento certa dessa decisão. O primeiro passo, que seguiu com louvor, foi doar todos os meus pertences.

Ou quase todos. Sei que guardou o terno que usei em nosso casamento e não julgo você por isso, querida. Está tudo bem, vai ficar tudo bem.

O segundo passo foi começar a sair quando se sentisse confortável e amei ver você sorrindo com as garotas outra vez, dançando até cansar os pés. Você riu e isso deixou Marlene tão emocionada que tropeçou, derrubando bebida em um rapaz que passava por ali.

O terceiro passo foi se abrir novamente para as pessoas e ele começou a acontecer quando novamente John chamou-a para sair. E dessa vez, ao contrário da última, você aceitou o convite.

O terceiro passo foi o mais difícil, não é? Sei que foi, pois conheço você com a palma da mão. Mas relaxe, as coisas vão se ajeitar com o tempo.
[...]

Sabe Lily, aprendi muito com você durante todo nosso tempo juntos e seria egoísmo não permitir que você dividisse com o mundo todo o amor e a luz que tem dentro de si. Sinto muito se por alguns momentos fui a escuridão que tomou conta de você. Fazem cinco anos desde que parti e me alegro em ver que sua vida voltou ao normal.

Espero que continue tão radiante quanto está agora, com John e o pequeno bebê que estão esperando juntos, além da promoção que você ganhou no jornal. A nova diretora chefe do Profeta, um orgulho. Lembre-se que nossas memórias estarão sempre presentes em nossos corações, querida. Nunca irei esquecer você.

Chegou a hora em que te digo adeus, Lily. O momento que demorou a chegar, mas chegou. Vendo você cercada por nossos amigos e por seu novo marido, sei que é o momento certo. Você está feliz outra vez e isso me deixa assim também.

É hora de finalmente ir embora, Lírio.

[...]

O clima estava quente naquela tarde e todos os presentes na comemoração do aniversário de John estavam no quintal da casa dos Evans, aproveitando o sol. Lily estava sentada na grama ao lado do marido, que acariciava-lhe a barriga de três meses.

Os amigos estavam rindo e discutindo sobre futebol e balé quando uma luz brilhante chamou sua atenção. A ruiva olhou para os lados em busca de qualquer sinal que os outros haviam visto aquele fenômeno também mas encontrou apenas expressões que pareciam congeladas, em câmera lenta.

A mulher novamente virou-se em direção da luz, apertando os olhos para conseguir ter uma visão melhor. Um sorriso triste e aliviado brotou em seus lábios ao avistar um homem castanho acenando, em um ato de despedida. O sopro de uma brise leve bateu-lhe no rosto, causando um arrepio gostoso na pele.

Ela sabia o que estava acontecendo e não conseguiu conter as lágrimas que pareciam pesar quilos presas em seus olhos. James Potter estava realmente partindo e levava consigo uma parte do coração de Lily.

O soar de um sino foi a última coisa que ela ouviu antes de sentir braços circulando sua cintura. Tudo havia voltado ao normal.

Adeus, James. - sussurrou a mulher, ainda encarando o vasto céu azul.

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