Cap.21 - Garotos

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Conforme caminhavam para a quadra, as amigas discutiam sobre o que iria acontecer. Tatiane estava bastante apreensiva e procurava acalmar-se observando a paisagem. Ao longe via as piscinas azuis cercadas por extensas grades esverdeadas, e para além delas, alguns estudantes já se divertiam aproveitando a manhã ensolarada. Trilhavam pela grama observando as folhas secas e galhos que caíram por ali. Havia várias árvores pelo terreno, abaixo delas estavam mesinhas de concreto, onde grupinhos conversavam despreocupados. Também eram visíveis casais de patos abeirando tranquilamente a descida do morro que dava para o córrego oculto pela vegetação, aquela área também estava tomada pelos colegiais e ouviam-se gritinhos, gargalhadas e som de violão.

— Eles estão ali — Lizi chamou a atenção da colega no instante que deixaram a grama, voltando a trilhar pela estradinha de pedras.

— Lizi, Lizi, Lizi, o que estou fazendo aqui?! — Tati agarrou o pulso dela e de supetão deu de ombros para voltar. Sentia o estômago dando nós e não prosseguiria com aquilo.

— Amiga, não faz isso. — Lizi a puxou impedindo que corresse — Não precisa ficar tão nervosa, é só uma conversa. Nada demais, entende? "Oi, tudo bem? meu nome é Tatiane, foi legal te conhecer, nos esbarramos por aí". É só isso, haja naturalmente.

"Agir naturalmente?!" Até parece. Para uma maluca como a Lizi tudo devia ser mais fácil. Bastava levar a vida como uma grande piada, como se nada fosse realmente sério. No fundo tinha uma invejinha da colega, queria ser mais confiante como ela, menos tímida.

Enquanto tentava acalmá-la, Lizi percebe que o garoto descia sozinho em direção às duas. Os amigos que o acompanhavam ficaram sentados na calçada lá atrás, à sombra da quadra. Ciente desta aproximação, Tati respirou fundo, agora não havia nada que pudesse fazer e se saísse correndo seria motivo de chacota também no ensino médio. Então o garoto se aproximou.

— Oi — Ele disse dando um selinho na bochecha de cada uma. Era um tanto baixinho, carinha de moleque e na orelha usava um piercing minúsculo. O sorriso era muito branco e envolvente.

— Olá — Lizi respondeu procurando deixar a amiga em evidência. Agora que o garoto enfim chegara, ela também se sentia tímida.

— Cara, vocês são demais. O que foi aquilo na noite de apresentação da mascote? Ri litros.

O rapaz usava um boné de aba reta e seus pequenos olhos brilhantes ocultavam-se pelos cabelos castanhos desgrenhados.

— Você esteve lá? — Se Lizi não tomasse atitude de falar algo, haveria um constrangedor vácuo, já que Tati simplesmente parecia ter perdido a voz.

— E quem não estava? — Ele começou a sorrir observando Tatiane inquieta ao olhar para trás. Vendo que ela agia estranhamente, o garoto virou-se em direção aos amigos que observavam tudo de longe, e após um sinal deles voltou a tentar contato.

— Nossa, quando você saiu daquele caixote, tipo, foi muito hilário — O garoto sorriu e logo ficou bastante sem jeito.

— Hilário? — Tatiane enfim falou um tanto rude — Eu não vi nada de "hilário" naquilo. Pelo contrário, quase morri de vergonha — a garota não dava abertura, de jeito nenhum.

Parada logo ao lado, Lizi sentiu vergonha por ambas. "Pra que tanta violência?!", questionou-se, e discretamente deu um cutucão nas costelas da amiga, que fechou a cara.

— Bem, eu... quis dizer que você foi muito legal — o garoto sorriu sem graça — Sabia que é a nova estrela da escola? — ele ajeita o boné tentando disfarçar.

— Sério? — Tatiane revirara os olhos e deu de ombros. Seu coração parecia querer sair pela boca e a única pergunta que permeava os pensamentos era: "Onde diabos o Derick se enfiou?".

Confusões no ColegialOnde histórias criam vida. Descubra agora