alex turner .
Mais um gole. O álcool desce rasgando a minha garganta, apesar de ser um dos décimos shots que virava, não havia me acostumado com o ardor do uísque de segunda, produzido na Irlanda.
Aquelas bebidas iam cautelosamente, dominando meus pensamentos e senso de realidade. Nada me deixava dormente o suficiente, para que pudesse esquece-la de vez.
— Sua garotinha, está superando todas por você. – Por conta da música ensurdecedora que martelava contra as quatro paredes do estabelecimento, um dos meus parceiros teve que gritar para que conseguisse escuta-lo.
Encostei minha cintura na altura do balcão de madeira, fazendo um árduo esforço para acha-la diante a multidão que se aglomerava na mesa de sinuca. Angie conseguia roubar o fôlego dos meus pulmões, sua face chapada e desinteressada ao jogo a sua frente, reatando um fogo ardente dentro de meu estômago. Ainda mais, quando retribuiu o olhar, me fazendo viajar naquela imensidão esverdeada com tons prateados.
Por um instinto incontrolável, já estava a abrir um sorriso fraco, mas antes mesmo dele se formar, um homem mais velho a abraçou por trás, causando toda a pouca felicidade que ainda me restava, ir direto ao inferno.
— Foda-se, estou enlouquecendo. – Ajeitei a jaqueta de couro preta no corpo, passando os dedos pelo topete já bagunçado. Aquela mulher me fazia perder a pose de badboy, me fazia perder a cabeça. — Preciso de um tempo. – Anunciei em vão, já que os rapazes pareciam mais interessados nas garotas que haviam acabado de entrar. Apanhei o maço de Dunhill, levando um dos filtros até a boca.
Com passos firmes de ódio, e dê certo modo, vacilantes e instáveis, fui ao toalete mais próximo. Por que não poderia apenas seguir em frente? Vai dar três horas da manhã novamente, e não consigo parar de pensar nela.
Limpei o espelho habitualmente sujo com marcas de batom, encarando friamente o reflexo. O cenário a minha volta se movimentava, os objetos estavam multiplicados, insistia vê-la, mesmo que estivesse aos braços de outro alguém. Estava tentando mudar minha mente, enquanto meu coração me obrigava a admirar a beleza norueguesa, que Angie carregava.
Liguei a torneira deixando a água corrente escorregar por entre os dedos, levando-a até o rosto. Mesmo com o frio que assolava a cidade, sentia-me em chamas igual o cigarro que estava a queimar. O clássico ritual da nicotina rodando aceleradamente, pelas artérias.
Talvez, devesse ir para casa. Mas, sem ela ao meu lado? Compartilhamos tantas madrugadas juntos, que parecia insuficiente.
Voltando a área das mesas, conseguia observa-la saindo do pub, num estado deprimente de bêbada. Tropeçava nos móveis e nas pessoas que passava, carregando seu característico All Star vermelho nas mãos. Seu companheiro sedia grosseiramente os ombros, para que Angie pudesse se apoiar. Nítido em sua expressão rabugenta, que não cuidaria dela quando chegassem em casa.
Paguei pelas minhas despesas, despedindo dos meus amigos, que pediram para que ficasse e aproveitasse o restante da noitada com outra garota. O que não fiz, já que soava nojento e enjoativo. Minha garota era Angie.
O vento cortante da rua, veio de encontro com meu peito assim que empurrei a porta. Conforme ia andando, sem muita direção de onde estava indo, sentia diferentes calafrios vagarem pela minha pele. A sensação vívida, que tudo se resumia a um belo borrão e não pesava mais que uma pluma.
Desbloqueei o celular, após algumas tentativas, incerto sobre o passo seguinte: “Onde você está agora além daqui, dentro de mim?”
A mensagem foi enviada.
Prossegui, sem equilíbrio. Não sabia onde iria parar, mas sabia onde queria parar. Os becos escuros, convidavam meus pensamentos desistentes como uma armadilha perigosa, e a pouca movimentação puxava-me de volta, sempre quando trombava com desconhecidos.
“Está tudo bem?” “Apenas, quero te encontrar.” Com mais dificuldade que a primeira vez, digitei com demora, tentando não errar as palavras.
Segurava o aparelho celular com tanta força, que era capaz de senti-lo fazendo parte de mim, como se pudesse atravessar a palma da minha mão, entre os ossos e a carne. O mesmo, depois alguns minutos, começou a tocar uma música do The Neighbourhood, sua banda preferida. Ela estava me ligando.
— Por que você só me liga, quando está chapada? – Perguntei em descrença, assim que atendi.
— Porque as noites foram feitas, especialmente para dizer coisas, que não podem ser ditas no dia seguinte. – Respondeu com a fala embaralhada, e tanto quanto devagar. Meu coração pulsou mais forte.
— E o quê você tem a me dizer, Angie?
— Ainda te amo, e ainda penso em todos os momentos que passamos juntos. Mas, não podemos, Alex. Não podemos estar juntos, pois você nunca me pertenceu. Esse amor, nunca foi meu.
A ligação foi interrompida, a bateria ao fim havia cortado nossa chamada, me fazendo delirar e tremer pelo modo que as palavras me atingiam. A voz dela ecoava na minha mente, fazendo com que os meus joelhos falhassem, e fosse de encontro com o chão. Aos poucos, tudo se tornava na mais misteriosa escuridão.
Estava sonhando? Não saberia, pois também estava chapado.