Capítulo Único

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20 de setembro de 2018

Uma melodia de trovões estava sendo ouvida por Daniel. A sensação de chuva entrando nas suas narinas o deixava calmo, mas ao mesmo tempo, o cenário que ele via da janela de seu quarto escuro era prejudicante para si mesmo. Um fenômeno climático normal já o afetava psicologicamente, assim como um sorriso inocente de uma criança podia entristecer um adulto que não teve uma infância boa. 

Relâmpagos.

Uma lembrança, um sentimento de saudade que ele não conseguia se livrar. Uma dor que em qualquer ação que este fazia, cada vez mais sentia. O adolescente estava lutando diariamente contra isso, tentando de inúmeras maneiras quebrar essas correntes do passado, mas elas se reconstruíam ou eram resistentes demais, ainda sendo mais um dos reféns do retrocesso. 

Trovão.

Olhou para seu celular. Estava sem internet por causa da tempestade. O desbloqueou, e entrou no seu Whatsapp. Sua última conversa com ela estava fixada. Ele se recusava a retirar aquilo, por mais que o machucasse. Não sabia o porquê, mas acreditava que não queria perder suas lembranças dela.

Clicou na conversa, e respirou fundo com seus olhos fechados. Mensagens suas não entregue a ela continuavam intactas. A foto dela continuava presente, uma linda garota morena de cabelos castanhos sorrindo era mostrado. Daniel tentou não abrir a foto da mesma, mas não resistiu a tentação. 

Ao fazer isso, mil emoções como a culpa vieram a tona, circulando sem parar dentro do consciente do menino de cabelos escuros. "Por que eu nunca falei como ela era bonita...?" Pensou. 

Leu as conversas que tinha com ela. Sentimentos que ele nunca teve coragem de dizer queriam escapulir de sua boca. Acabou se formando um sorriso inconscientemente após rever tudo aquilo. Mas ao mesmo tempo que tinha tal felicidade, sua enxaqueca atacava sua cabeça. O estresse se misturava com a sensação do vazio no coração, causando uma dor ao menino a cada segundo. Até tentou parar de ler aquilo, mas se deteve, pois sabia que se continuar fugindo, não ia sair do lugar.

Mais um relâmpago, seguido por uma ventania que vibrou o vidro da janela.

Num instante, percebeu que havia algo que nunca tinha visto.

Um áudio não ouvido dela no meio de uma conversa.

Daniel não sabia o que aquilo fazia lá, nunca notou que ela tinha mandado um áudio. Sem perder tempo, clicou no "play", e ele pôde testemunhar mais uma vez sua voz.

— Ei Daniel! Você sempre quis me ouvir cantar de novo, não é? Bem, para não ser uma chata que não cumpre promessas, aqui vai, tá? Mas sendo sincera...não espere muito, ok? Ainda mais que eu tenho vergonha... e meu violão quebrou, então dá para cantar acapella. - Daniel ouviu ela respirando fundo, e começou a cantar a melodia. Ele conhecia aquele tom, pois a música era uma que eles cantavam. Just a Kiss de Lady Antebellum.

Lágrimas caindo como a chuva.

A voz dela era como se fosse de um anjo. Calma e sensível, que mostrava o como ela era.

Sua mente parou de se perguntar como não tinha visto essa mensagem antes. O som entrava nos tímpanos de Daniel e ele gravava mentalmente. Aquela música era algo que ambos sentiam um para o outro, mas nunca tiveram a força necessária para dizer isso. Mas era tarde demais para o menino dizer o que ele tanto queria para sua amiga.

A música acabou, junto com o áudio. Mas Daniel apertou de novo para ouvir. E de novo. E de novo. E de novo.

E de novo.

Repetiu pela décima vez. E saiu do seu quarto para a rua mesmo na chuva. Suas lágrimas se misturavam com as gotas de água no céu, mas aquela sensação não saía dele. 

Ele corria, corria para o lugar que ela estaria.

                                     ***

22 de maio de 2018

Daniel foi recebido por um bom dia com um emoji de coração vermelho de Luana. Porém, ele não pôde responder na hora, pois tinha que se arrumar para ir a escola. Ele só conseguiu escrever para ela de volta na hora do recreio, quando esta não havia recebido a mensagem. 

Pensando que ela estava em aula agora, não ficou preocupado, e aproveitou o intervalo para comer e conversar com seus amigos.

O dia de escola havia acabado, e Daniel voltou para casa. Porém, ao verificar se ela tinha respondido, ela ainda não havia recebido. Se enganando ao acreditar que ela tenha ficado na escola, relaxou sua mente ao cochilar.

Teve um pesadelo. 

Luana estava na sua frente, mas estava com os olhos borrados. Ela não estava longe, mas não parecia estar perto. Pois ao Daniel tentar tocar a mão dela, ele atravessou o nada. Aos poucos, a figura de Luana foi se borrando como os olhos. E quando ele tentou impedir, ela sumiu como pó.

Acordara do pesadelo, já era noite. Verificou se ela tinha respondido.

Nada.

Ela não tinha recebido.

Dias depois, uma tempestade ocorre. E no mesmo dia, no jornal estava uma notícia de suícidio de uma menina.

                                 ***

Ofegante, Daniel chega no seu destino. Estava morrendo de frio a cada segundo. Mas não ligava mais para nada. 

Ele andou pelo ambiente sombrio, até chegar no lugar exato.

O túmulo de Luana.

Não havia flores, pois a tempestade acabara destruindo a anterior.

Ele nunca teve a coragem de visitar-la. Não tinha direito de chorar por ela. Pois para o jovem, o suícidio dela foi causado por ele. 

A chuva escondia seu choro. Ele agarrava a sepultura de seu amor nunca declarado, quebrando suas unhas ao arranhar a sepultura.

Era a única coisa que ele poderia fazer. 

Somente chorar.

Cai desajeitado ao lado da cova de Luana. Acaba tocando o áudio dela cantarolando a música favorita deles.

A chuva aumenta, Daniel fecha os olhos, cantando a música, ficando cada vez mais lenta e fraca.

Um último suspiro sai do covarde que nunca soube dizer. Morrera de forma patética, desistindo de tudo.

Lágrimas na ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora