ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ úɴɪᴄᴏ

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Estávamos sozinhos e chovia.

Pelo que sei das telas, de suas composições e de seus próprios desejos ingênuos, este seria o momento "perfeito" — e as aspas aqui se aplicam por também ser ingênuo o mito da perfeição.
      Eu voltava do serviço do dia, exausto, tentando proteger minha bolsa. Certo que era apenas um chuvisco, um nada demais, mas com o acúmulo, as mais finas gotas de chuva poderiam ser corrosivas.
      Ele chegou com um guarda-chuva, chegou assim, sem avisar, sem se fazer perceber, e já fazia parte de meu microcosmos privado.

      — Oi, meu amor — disse ele, com um gracejo a mais no qual não percebi por estar demasiadamente envolvido na pureza daquele sorriso apaixonante.
      — Oi, Joon — disse eu, com mais infinitos olhares de quem acabara de aprender que, daquele ápice em diante, seria impossível retornar à banalidade.

Fomos andando e conversando sobre nosso pequeno e instável mundo, desfrutando do aconchego que o abrigo móvel sob o qual estávamos acobertados generosamente nos concedia. Foram horas abundantemente agradáveis até a chuva secar, e no fim, ele embalou meu coração com o toque gentil de seus lábios nos meus. Eu já não conseguia acreditar na vida sem tê-lo por perto. Seu efeito em mim era como o efeito da chuva para pessoas solitárias e choronas — devastador.

Um ano acabara de se dissolver como uma nuvem pálida e leitosa. Porém, o cinza cor-de-garoa não demorou a atracar. Surgiu uma viagem para ele — coisa de artista renomado. Ele foi, eu fiquei, ele voltou, eu estranhei. Havia mudado. Falava menos comigo e mais com os e-mails, perdera em parte a antiga suavidade na voz e tinha muitos compromissos, sem nome nem hora para regressar. Eu, entendedor de seus desejos (até mesmo dos mais ingênuos), sabia então, que era nosso fim. Voltei a morder os lábios e à provar sabores amargos. E com o acúmulo, as mais finas gotas de chuva poderiam ser corrosivas.
      Foi no dia que ele me deixou. Discutíamos sobre nosso pequeno e tempestuoso mundo. Ele foi embora e eu o seguia, desejando sua volta, ele andava rápido, como se fugisse da própria decadência. Eu precisava alcançá-lo, necessitava de seu perdão. Eu estava errado em condená-lo e decidido a lutar por nossa permanência, mesmo que sozinho. Como doeu vê-lo nos braços de outro...

Ele não fazia ideia de como sua chuva também me transbordava.

Daquele dia em diante, "nós" deixou de levitar sob nossos translúcidos particulares. Agora, somos só Seokjin e Namjoon; o Sol e a Lua, astros completamente distintos feitos um para o outro, que não orbitavam no mesmo espaço, sequer competiam no mesmo jogo.
      Foi assim, sem aviso prévio, sem permissão para que eu me preparasse. Não havia outra opção senão "seguir em frente" — e mais uma vez utilizo das aspas da inocência! Minha chuva perene com um brilho ingênuo no olhar que eu levaria para sempre nas melodias da memória! Como foi longo cada segundo até que sua chuva parasse de me corroer...

one shot melancólico é essencial.
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– aby

rain┊namjinOnde histórias criam vida. Descubra agora