único.

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Já haviam dois meses do acidente que colocara Chenle naquele hospital. O garoto estava em um coma há um tempo, e não estava dando reações de que acordaria fácil.

Talvez não acordaria.

Jisung estava há dois meses visitando o garoto, sem nenhum dia de falta.

Quando não deixavam que ele entrasse no quarto do chinês, alegando que não era dia para visitas, Jisung, permanecia do lado de fora. Ele estava crendo que sua presença sempre estaria ali e que quando Chenle acordasse, ele o contaria tudo.

Mas, ah, quem ainda acreditava que ele iria acordar?

Jisung. Sim, apenas Jisung tinha toda essa esperança.

Os senhores Zhong encaravam tudo de modo negativo, acreditavam que estavam apenas adiando o inadiável.

Os outros amigos do mais velho encaravam as poucas chances dele acordar um pouco céticos. Por que ele não havia acordado ainda? Será que realmente iria conseguir?

Jisung ia todos os dias para contar tudo a Chenle, até mesmo, o que havia comido em seu almoço ou o que Renjun havia feito para irritar a pouca paciência de Donghyuck.

— Hoje, Lele, a gente teve aula de biologia no laboratório! Eu lembro que você sempre teve medo de se aproximar daquelas bactérias que a professora guardava. Nós vimos tudo no microscópio. – Disse sorrindo, os seus olhinhos brilhavam lembrando das cenas antes passadas naquela sala.

Chenle realmente tinha medo de quando encostar, acabar por derramar as bactérias e causar alguma infecção no local. E, Jisung, amava rir de toda essa paranóia do garoto.

Olhou para o chinês sereno na maca, seus olhinhos estavam fechados e a respiração era calma.

— Por que você não acorda? – Passou os dedos pela bochecha do mais velho, com um olhar triste. – Todo mundo me diz pra desistir, mas eu não consigo. Eu não quero, Chenle.

Colocou as mãos na nuca e respirou fundo, deixando algumas lágrimas caírem.

— Eu nunca iria aceitar que me tirassem você, nunca. Seria tão injusto que logo você fosse para longe de mim. Eu prometi, por todos esses sessenta e sete dias, que iria continuar persistindo, porque eu te amo. – Sorriu triste, lembrando de todas as coisas que haviam vividos juntos e pensando, seriamente, na possibilidade de serem os últimos momentos. – Se eu imaginasse que pudessem ser os últimos momentos antes, eu teria te contado o quanto meu amor se estende.

Passou a mão pela mão pequenininha do chinês. Sempre teve vontade de poder caminhar com ele de mãos dadas, sempre teve vontade de ter essa proximidade. Mas ele se esqueceu que o tempo passa fora do que nós queremos. O nosso tempo não é o tempo que nós vivemos.

— Você lembra daquela música que adorava me ver dançar? – Perguntou mesmo sabendo que não obteria uma resposta. – Eu sempre dizia que não estava bom o bastante, e você falava que o meu insuficiente sempre seria o suficiente pra você. Ou muito mais que suficiente.

Jisung nunca prestava atenção nessas palavras, mas sempre que ensaiou, após o acidente, ele se lembrava disso. Ele começou a entender o que o garoto queria dizer para si, e sorria se lembrando do sorriso doce do garoto toda vez que dizia isso.

Para Chenle, Jisung seria mais do que suficiente em tudo. Ele era tudo. Ele é tudo.

— Eu continuei ensaiando até chegar no meu máximo. – Sorriu orgulhoso. – Você ficaria muito feliz de ver que eu finalmente me orgulho de mim mesmo. – Sentiu a feição cair, mas manteve o sorriso, ele sempre foi esperançoso.

Abriu a porta do quarto e viu que não havia ninguém no corredor, estavam todos os médicos e enfermeiras ocupados, e a visita no quarto de Chenle duraria mais algum tempo.

Pegou o celular e colocou quase no último volume, tomando cuidado para não chamar a atenção quando começasse.

— Eu gostaria mesmo de te mostrar isso. E eu vou. Quando você acordar eu vou te contar que fiz isso. – Ficou de pé em frente a maca do garoto, desbloqueou o celular e colocou na música que adoravam escutar e dançar.

Chenle não gostava muito de dançar para as pessoas, ele se dizia muito desastrado, mas amava ver seu dongsaeng dançando.

Jisung esperou a introdução começar e começou com os primeiros passos. Só que, desta vez, enquanto dançava, não pensava no vídeo que via para memorizar, ele pensava nos momentos em que dançou com Chenle, que puxou o garoto para dançar com si.

Ele sentiu seu corpo mais leve, parecia que a partir desse momento, a música fez parte dele com todo o sentimento possível. O simples fato de colocar lembranças de algo que poderia estar pela última vez acontecendo, o fez ter o maior proveito de todos os movimentos que seu corpo era capaz de fazer sob aquele ritmo.

Sua respiração ornava com as batidas e, desta vez, ele não sentiu que estava errando. Ele sentiu como se fosse quando estava dançando com Chenle. Nada importava naqueles momentos, não interessava se estariam fora da coreografia, interessava a felicidade.

Ao escutar o fim da música chegando, se assustou pela forma que havia feito tudo naturalmente e em como havia passado rápido.

— Eu espero que você saiba que me ajudou a fazer melhor, Lele. Eu espero que você acorde para eu dançar novamente com você. – Estava tentando recuperar sua respiração enquanto falava, mas soava totalmente calmo. Deu um aperto leve na mão do mais velho e pegou sua mochila, abrindo a porta para sair do quarto.

Jisung sempre acreditou que a dança podia curar tudo.

Chenle sempre acreditou em Jisung.

Após o garoto estar quase deixando a sala, o quadro de batimentos de Chenle acabou ficando um pouco mais rápido, mas nada demais, Jisung nem notou.

A verdade era que a paixão pelas coisas e pessoas, cura.

E quando Jisung deu as costas, seu mundo todo caiu ao escutar um ruído vindo do quarto. Aquilo não podia estar acontecendo.

Jisung? – Chenle murmurou, abrindo com dificuldade os olhos.

Ele havia acordado de um sonho? Bom, não sabia. Mas, pelo que lembrava, ele estava dançando com Jisung.

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