problema

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eu sabia que você era problema, saeng. eu sempre soube e, ainda assim, esse saber não impediu-me de me aproximar de ti.

você era quieta, solitária, misteriosa. todo esse maldito clichê como um sinal de alerta de "fique longe", que a típica mocinha parece nunca conseguir resistir. e eu, com essa obsessão de não ser estúpida no amor e muito menos uma dessas mulheres que se permitem ser machucadas por acharem que podem consertar alguém, me tornei exatamente uma delas.

entretanto, eu não queria te consertar. eu nunca quis. de alguma forma, ainda não quero.

rejeição sempre foi meu ponto fraco, meu monstro no armário, debaixo da cama, em minha mente. esse monstro que me seguia, não importando onde eu estivesse. e tudo que você fazia era me rejeitar. você tornou-se o monstro, tzuyu. e eu sequer posso culpar-te, eu quem permiti. não só permiti como me pus aos seus pés para que sentir-se livre em me pisar.

e eu continuei tentando. quanto mais me rejeitava, maior se tornava meu desejo de agradá-la. qual o meu problema? por que insisto tanto nesse masoquismo emocional?

sempre foi um jogo, certo? você era do tipo de pessoa que gostava de brincar com corações, deixá-los com sede de teu carinho, para tornar mais fácil sua conquista.

quando achou que já era o suficiente, era a hora de arrancar meu coração de meu peito e segurá-lo firmemente em tua mão. mas teu segurar era bruto, você o apertava com força demais.

meus lábios eram simples e doces morangos. entretanto, insistiu em manchá-los com aquele vermelho sangue do vinho mais refinado que escorria pelos teus. meu corpo necessitava de carinho, calor humano, e teu toque era frio como um iceberg, aquele no qual bati quando me deixei seu seu brinquedo.

tu possuía essa dualidade tão característica de ti: tão fria, mas quente como o inferno. dualidade comprovada cada vez que bateu em minha porta no meio da madrugada, exigindo meu corpo uma noite mais. este que, mesmo que minha mente tentasse negar quando sóbria, meu coração embriagado entregava-te sem qualquer esforço. você não precisava pedir. eu já era sua. e esse domínio sempre agradou-te, certo? consegui finalmente agradá-la, da maneira mais autodestrutiva possível.

querida, me diga, por que insiste em me machucar?

agora que eu era completamente tua, de corpo e de alma - aquela que roubou com cada toque - você acorrentou-me, para que pudesse se divertir um pouco mais sem que eu pudesse escapar. querida, você não sabia? se tudo que eu tinha, eu havia dado para ti, como eu poderia escapar? eu queria você. eu a queria tanto que mesmo a simples ilusão de te ter era o suficiente para mim.

agora que teve tudo que desejava de mim - meu amor, meu carinho, minha atenção, meu coração, minha alma e meu corpo - já havia tido o suficiente. para que manter um mesmo brinquedo quando há tantos lá fora?

você era uma maldita vampira emocional, sempre foi. uma noite nunca foi o suficiente para você, e um compromisso era demais. você tinha essa necessidade de sugar alguém. roubava para ti tudo que havia dentro da tua escolhida, preenchendo o vazio que deixava apenas com a necessidade de teu carinho, e então usava tudo aquilo que sugou para tentar preencher teu próprio vazio.

teu apertar bruto de meu coração se tornou a dor que eu precisava, o sinal de que você ainda me queria. e, ironicamente, quando parou e o deixou ir, doeu mais do que todos os apertos.

o problema, o verdadeiro problema, é que suas correntes permaneciam prendendo-me, ainda que você não estivesse mais lá. e quanto mais eu tentava quebrá-las, mais elas me quebravam.

você me acorrentou, tzuyu. e não se importava o suficiente a ponto de me entregar as chaves ao bater a porta e caminhar para longe. você me acorrentou, e não se importou em notar que de nada adiantava soltar meu coração, se as correntes ainda mantinham-me presa a ti. você me acorrentou e nunca teve o mínimo cuidado de não apertar essas correntes tão fortemente.

mas claro, a culpa era minha. eu sabia que você era problema.

correntes┋satzu. twice.Onde histórias criam vida. Descubra agora