Em sua memória.

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Quando o sombroso fúnebre de um dia chuvoso impremeditado devorou os céus naquela manhã de segunda-feira, eu já sabia; era sintoma dolente do vazio que você havia deixado.

Sabe, Hinata, não havia acordo entre nós. Você era você, eu era eu, meu meio termo não entendia o teu todo e muito menos esses tons de azul em teu olhar. Você costumava acordar cedo da matina, independente da circunstância, só para admirar o nascer do dia que, inegavelmente, encantava-te. Era-me peculiar, mas talvez porque meu íntimo, ainda imerso em ignorância, não compreendia a tua essência. Tu era o raiar do sol, o limiar do lampejo que tingia as manhãs de Sendai, e eu só pude reconhecê-lo quando a cidade tornou-se opaca, contagiando-se com tua ausência.

Da varanda do quarto que era nosso, eu contemplo as nuvens desalegres, que derramam-se em lágrimas e gemem tormentosas. Provavelmente, já não estão a suportar a saudade que teu lume deixou, e quando a falta já não cabe mais no peito... Ela goteja, serena e fraca, porque sente a necessidade de exceder os limites do coração.

Se você não acredita, olhe para o céu. Ele é um mero rabisco do despontar deturpado das manhãs enfadonhas que surgiram em meu peito.

Olhe para o CéuOnde histórias criam vida. Descubra agora