É difícil sobreviver com as novas condições da Terra. Já vai fazer dois anos que a pandemia atacou meu planeta, dois anos que os seres humanos foram condenados à extinção. Entretanto a possível salvação, a única salvação, fui eu quem trouxe ao mundo.
Lembro-me como se fosse ontem: eu e George, meu noivo, felizes pela minha gravidez planejada. Isso foi há quase três anos; isso foi quando não imaginávamos qual seria o futuro de nossa criança.
Gêmeos. A ultrassonografia mostrou que seriam gêmeos, porém preferímos optar por não saber o sexo dos bebês. Mas além de não saber isso, havia outra coisa que não sabíamos. Outra coisa que não deram a opção de sabermos.
Essa clínica era de um grande cientista que ainda não tinha muito prestígio. Ele previa a doença que dizimaria a humanidade.
Ele conseguiu criar em segredo um único frasco com um líquido que impediria a contaminação, que daria imunidade do super vírus causador dessa enfermidade. Mas ele morreu antes de fabricar mais. Ele não tinha família nem empregados ou amigos, vivia sozinho. Seu laboratório era no porão, era lá que estava esse "antídoto", escondido até que a nova dona da clínica resolveu invadir a casa do falecido com a intenção de roubar suas pesquisas. Foi quando ela soube do problema e da solução. Além de que tinha o cadáver lá.
Só que já era tarde demais.
Ela não sabia, mas vários países já estavam com essa doença. Uma doença sem vestígios, sem sintomas. Uma pessoa infectada por esse vírus pode ir dormir bem hoje e no dia seguinte simplesmente não acordar.
Não havia tempo para produzir novos antídotos, então ela só conseguiu pensar em uma ideia: misturar o líquido do frasco com material para inseminação artificial. No material meu e de meu noivo.
Eu e ele fomos presos na clínica nos últimos meses da minha gestação. Era necessário assegurar minha vida e, principalmente, dos meus bebês. Eu sabia que só deixaram George comigo pela minha saúde mental; para que nada, absolutamente nada, interferisse na criança que eu carregava em meu útero.
Mas chegou a hora do parto. Não existiam mais do que cem mil pessoas no mundo naquele momento, inclusive alguns médicos que acompanhavam minha gravidez morreram. E para a surpresa de todos, não foram gêmeos, foi um único bebezinho que nasceu. Nos únicos dez segundos de paz que tive após o nascimento dele, resolvi chamá-lo Gregory, pois sempre achei o apelido "Greg" uma graça.
Entretanto o nascimento de uma única criança arruinaria quase que totalmente os planos. Entendi isso em meio a gritos e surtos dos cirurgiões e outros ao nosso redor. Eles esperavam duas crianças, um menino e uma menina, que se reproduziriam apesar do alto parentesco e perpetuariam a espécie novamente.
Esses cientistas ficaram loucos. Não quiseram colocar meu pequeno em meus braços, disseram que tinham que levá-lo para fazerem algum estudo com ele. Eu e George não poderíamos deixar.
Meu noivo arrancou nosso bebê dos braços do médico, e me deu para segurar enquanto ele lutava com aqueles lunáticos sequestradores. Alguns poucos caíram desmaiados com armas ao chão, outros fugiram provavelmente para pedir reforços. Pegamos as armas e fugimos.
Ao sair do local, encontramos um carro que tinha um cadáver em decomposição e meu noivo o retirou lá de dentro. Entrei carregando minha criança, mas George levou um tiro.
Olhei para trás, eram os loucos, eles atiraram. Eu perdi minha sanidade naquele momento.
Não importava que eles estivessem com feições arrependidas, eu tinha que vingar a morte do meu amado.
Deixei Gregory no banco, peguei uma arma para cada mão e saí disparando. Não me importava se me matariam. Naquele momento não pensei no futuro do meu filho, fui levada pela ira.
Mas sobrevivi. Peguei meu filho, as armas daqueles que assassinei e fui vendo como ficou uma Terra que agora, aparentemente, só tinha dois humanos.
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Outro Título (Temporário)
AléatoireContos que espero que façam você refletir um pouco melhor sobre a vida, além de ter assuntos que, de alguma forma, eu considere como um caminho para o fim do mundo. Cada capítulo, um conto único e independente, que fala de diferentes temas com abor...