Pelos dias que se seguem, eu faço exatamente o que Manuela aconselhou: penso.
Penso, e penso muito.
Depois de desabafar com a minha amiga e estar mais tranquila para refletir sobre tudo o que vem acontecendo, consigo chegar às seguintes conclusões:
Primeira: eu sou uma completa estúpida;
Segunda: eu me tornei tão imatura quanto uma criança de cinco anos;
Terceira: eu amo louca e desesperadamente John Berryann.
Por incrível que pareça, engolir essa terceira conclusão foi mais fácil do que as outras, afinal, eu só precisava admitir a mim mesma que essa paixão já tinha evoluído para amor há muito tempo. Mesmo querendo negar com todas as forças, principalmente, nestes últimos dias em que eu estava fula da vida com o que ocorreu.
Quanto a minha imaturidade, céus, tenho vergonha só de lembrar. Certo que eu nunca fui a pessoa mais paciente e que as minhas antigas experiências amorosas não contribuíram muito para que eu soubesse lidar com situações como esta. Mas, arremessar um par de tênis? E, ainda por cima, cogitar jogar o meu pobre notebook?
Desde quando eu me transformei esse projeto de trem desgovernado?
Okay, admito que deixei a raiva me cegar e simplesmente me aprisionei em suposições, sendo que poderia ter resolvido a situação apenas escutando o que ele tinha a dizer. Porém, o mínimo que eu poderia ter era um pouco de vergonha na minha cara. Não é à toa que o garoto mal tem olhado para mim ao longo da semana.
Conversei com a minha amiga "ajuizada", procurando por um bom conselho, mas receber um "para de frescura e vá falar com ele" não me valeu de muita coisa. Se Manuela soubesse o quanto estou envergonhada por agir daquela maneira tão grosseira e tola, não teria aberto a boca para dizer asneira.
Queria ver se fosse ela no meu lugar...
Diferente dos outros dias, eu não tenho mais evitado os olhares de John. Na verdade, tenho feito o possível e o impossível justamente para que me olhe, nem que seja por uns segundos. Porém, agora é ele que foge de qualquer interação. E estou sentindo na pele o quão doloroso é ser menosprezada pela pessoa que se ama.
Pois é... Aqui se faz e aqui se paga, Clarinha.
Bem feito para mim. Talvez assim eu aprenda a ser menos idiota.
– Perdida no mundo da Lua à essa hora, Clara?
Dou um pulinho e olho para trás, deparando com um Jackson risonho.
– Oh, você me assustou!
– Me desculpe.
Sorrio, assim como ele.
– Indo para a próxima aula? – pergunta.
– Sim, a minha é no Terceiro C. E a sua?
– Terceiro B. Vamos juntos, então?!
Dou de ombros e seguimos para as escadarias. Nem lembro mais quando foi a última vez que fizemos esse pequeno trajeto juntos. Depois da reunião pedagógica, os nossos horários mudaram e quase não trombamos nos corredores. Se nos vemos, é apenas na sala dos professores ou no refeitório, e mal conseguimos conversar graças ao trabalho.
Subimos as escadas para o terceiro andar trocando uma ou outra palavra, e cumprimentando os alunos que passam por nós; uma vez diante a porta do Terceiro C, me despeço para entrar na classe, contudo, Jackson segura sutilmente o meu ombro.
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Inabalável
RomanceSe apaixonar não estava nos planos de Clara, especialmente por um de seus alunos do Terceiro Ano. Mas aconteceu e é recíproco. John Berryann também se rendeu ao sentimento e os dois vivem um relacionamento escondido dos olhos de todos, sob as fachad...