O Fim Pode Ser Um Início?

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Era mais uma reunião. Já estava ficando cansativo. Há cada mês que passa, torna-se mais regular nossos encontros: de anual para semestral, trimestral, bimestral, mensal, semanal. Eu deveria sair dessa vida, não deve demorar muito para que se torne diárias essas reuniões para resolver a grande besteira que fizemos.

Mas eu apenas não posso desistir, sei quais seriam as consequências disso. Por mais que minha mera existência não vá servir de muita coisa, o certo é continuar...

Vou para meu escritório exausto e sento-me em minha cadeira. Faço com que as rodinhas dela deslizem de frente para trás e vice-versa, tentando destrair-me. Foi em vão.

Todos os cartazes, todas as aulas, todas as experiências, todo tipo de forma de propagar uma resolução não serviram de nada. Bilhões e bilhões jogados no lixos, como se fossem... oh, prefiro nem dizer. Lembrar só me entristece mais.

Retiro meu paletó preto e afrouxo minha gravata vermelha. Minha vontade era estar desnudo, o calor é imenso. Giro minha cadeira para trás deparando-me com “o novo litoral”. Eles botaram em todos os espaços desse edifício janelas para essa visão, a intenção deles é de nos torturar.

Quanta dor sinto em meu peito. Infarto talvez não seja nada comparado a isso, infarto seria melhor. Morrer seria melhor.

Por que não cometo suicídio? Essa poderia ser minha salvação...

Abro lentamente uma gaveta. Visualizo minha pistola, jamais utilizada. Brinco com ela. Travo e destravo. Enfio na boca, coloco contra meu pescoço, em cima de minha cabeça. São infinitas as formas que eu poderia atirar. Mas não vou fazer isso, não posso fazer isso. Tayhu e minha esposa Yumi ficariam em péssimo estado. A depressão sucedida de suicídio, igual a mim, estaria confirmada. Não posso fazer isso, não posso ser o culpado de suas tristezas seguidas de morte.

Em nosso casamento, prometi fazê-la feliz. No dia do nascimento de nosso filho, prometi ser o melhor pai. Não posso fazer isso, não posso. Eles me prendem aqui. Eles, eles, eles. Eles e apenas eles. Pode ser torturante estar trabalhando nisso, estar vivo, mas o farei por eles. Sempre por eles.

Cansado desses meus pensamentos rotineiros, dessa visão rotineira, vou para um lugar que também está virando rotina.

Por uma passagem “secreta” entro numa câmara quase vazia, com pouca iluminação e empoeirada. Essa luz é o suficiente para que eu consiga fitar o que há em minha frente: um imenso quadro feito da árvore que havia aqui no Japão, em seu tronco talhei meu nome e o de Yumi quando nos tornamos namorados. Sorri. Porém esse sorriso se desfez rápido ao lembrar-me que essa árvore foi destruída pelo desmatamento, pelos verdadeiros e antigos litorais agora tomados inteiramente por água graças ao aquecimento global.

Cidades destruídas. Quase todas as espécies de animais “irracionais” mortos. Doenças por toda parte. Flora agora inexistente. Sei que falta pouco para nós humanos termos o mesmo fim, a única coisa que pode ajudar é esse meu trabalho na ONU. Por meu filho e minha esposa sigo lutando inultimente, pois sei que a extinção está por vir. E não vai demorar muito para nos alcançar.

Outro Título (Temporário)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora