bellyache

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Alcanço meus fios esverdeados e toco-os como se quisesse certificar que ainda os tenho. Entorpecido, aqui estou eu jazendo nessa garagem escura e assustadora. Mais que ela, eu sou assustador. Olho para as minhas próprias mãos e encontro-as escarlate. Eu não quero pensar sobre que tipo de sangue cobre-as, eu apenas estou preocupado por ter secado e se tornado tão parte da minha pele antes alva quanto os meus traços delicados. Na minha unha há uma lasca de pele alheia, não quero adivinhar de quem seja. Eu estou sozinho aqui e no meu headphone toca Gasoline — quando, na verdade, meu maior desejo é espalhar gasolina em tudo e pôr fogo, inclusive em mim mesmo. Sacudindo a cabeça afasto esse pensamento, fitando cada arranhão em cada braço meu e perguntando-me o porquê de eu não estar sentindo dor por isso.

Estou mascando uma goma estranha de banana, sussurrando o quão desapontado estou. Meus amigos não estão longe. Possivelmente há como encontrá-los no porta-malas do meu carro. É um Mercedes. E lá estão seus corpos amontoados, pingando sangue e cheirando a cachaça barata. Pensando bem... Não sei exatamente qual deles eu tenho o sangue em mãos. Talvez de todos.

Mark foi o pior de todos. Minha paixão avassaladora negada transformou-me num monstro psicótico e, juro, culpa minha não foi ter sido a morte mais violenta dentre todos. Ele gosta de bater, de me arranhar. Foi ele quem arranhou meu braço e agora eu sorrio com isso. Sempre carregado com a mania de pedir-me para parar:

— Para de me amar, Chenle — ele não me amava de volta.

— Para, Chenle! — ele não gostava de cócegas.

— Para, pelo amor de Deus, para! — ele não queria que eu matasse-o.

Pois então eu estou rindo agora porque as coisas deram uma reviravolta parcialmente divertida. E essa garagem escura me assusta, eu ainda tenho medo de monstros. Minha camisa nova está toda suja e eu simplesmente não me importo se terei de lavá-la.

Logo eles estarão aqui, com suas sirenes irritantes e pedidos para que eu erga a minha mão, como bem vi nos filmes. Virão atrás do dinheiro, meu amável dinheiro trancafiado no meu quarto. Está dentro de um compartimento sob lascas de madeiras removíveis do assoalho.

E eu estou tão assustado. Acho que sou muito novo para ser preso. Sim, eu sou muito novo para ser preso.

Eu estou velho demais para o passado e novo demais para o futuro. E se meu futuro é ser preso, eu absolutamente não estou preparado.

Eu queria apenas deixá-los com medo, mas eu fui muito impulsivo. Não deveria ser bem uma vingança, mesmo que eu soe vingativo. Não deveria culpá-los por não serem como eu. E meu amante está na sarjeta, ao lado do meu carro; eu deixei-o ali. Foi um erro tê-lo matado?

Eu perdi minha cabeça, eu perdi minha cabeça. Onde eu estava com a cabeça? Pensei que iria me sentir bem, mas agora estou com dor de barriga.

Sim, tudo o que eu sinto é dor de barriga.

end gameッz. chenleOnde histórias criam vida. Descubra agora