Capítulo Único.

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Ao abrir os olhos demorou um pouco para compreender a situação, não era nada fora das suas concepções de normal, mas não gostaria de usar aquela palavra, costumeiro ou familiar pareciam ser mais adequadas.

O chão, as paredes, os corpos e consequentemente ele estavam cobertos de sangue já seco, ao seu lado estava um cadáver retalhado, reconhecia aqueles fios azuis de qualquer lugar. Splendid. Pela primeira vez, não sentia remorso do que fizera.

Mas a sua frente era seu ponto de total atenção, seus olhos estavam presos nas orbes vermelhas, aquele pequeno corpo trêmulo que parecia que iria quebrar a qualquer momento, a respiração falha, as lágrimas que não paravam de cair, as pequenas mãos que agarravam os próprios cabelos e mais uma infinidade de detalhes que deixavam claro que ela presenciara todo o massacre.

O soldado não pode deixar de derramar lágrimas ao vê-la naquela situação, não entendia como Fliqpy havia a deixado viva, questionava-se se deixá-la ir seria a melhor opção, e no fundo de sua cabeça podia ouvir os murmúrios tentando-o de seu outro "eu".

Ainda focado na ruiva ele ignorou Fliqpy e lentamente engatinhou até ela, que em choque retraiu todos os músculos de uma só vez, não tinha voz, força ou coragem para gritar.

O soldado parou quando estava frente a frente a ela, recordando-se do quão belo o sorriso de Flaky era, mesmo a conhecendo por meses tivera que reprimir fortemente os desejos de tocá-la, beijar aquela boca e saciar todo o seu desejo o resguardado dentro de si.

Inconscientemente, ele pousou a mão uma possa de sangue ainda úmido – esse vindo do grotesco corte transversal no rosto de Splendid – e o levou até o rosto dela, manchando-o da ponta de um lábio até o outro num singelo formato de sorriso, sem se dar conta Fliqpy tomava novamente conta da situação.

Flaky pousou o olhar em Splendid e o soldado se mostrou irritado, por que ela insistia em sempre olhar para o idiota que pagava de herói e não para ele?! Um verdadeiro herói de guerraMaldito fosse aquele maldito azulado que com sorte estaria queimando no inferno!

Alucinado, ele a abraçou enterrando o rosto em sua clavícula e sussurrando coisas sem nexo.

— Olhe para mim... Eu vim te salvar... Não ele... Ele não está aqui... Eu estou... Eu estou..!

A ruiva então passou os braços lentamente por ele, não por compaixão, e sim porque em sua linda cabecinha escarlate aquela seria a única maneira de sobreviver.

Se Flippy realmente acreditasse que ela o amava ela poderia escapar, fugir e se tivesse coragem, poderia até mesmo vingar seu amado Splendid, as terríveis memórias da matança a deixaram enjoada, afinal tudo havia começado por sua culpa ela havia escolhido sair com Splendid do que com Flippy, lembrava-se dos olhos furiosos no momento que o soldado os vira juntos, de quando ele a arrastara pelas ruas a levando até sua casa enquanto era perseguido por Splendid.

Ela passou os dedos trêmulos pelos cabelos esverdeados e com a voz rouca e chorosa, mas que não vacilara em nenhum momento, sussurrou em resposta aos seus murmúrios doentios:

— Estou olhando somente para você agora... Flippy...

Dor foi tudo o que sentiu no momento seguinte, a dor lancinante que se alastrava por suas costas enquanto ela sentia a dura empunhadura da faca militar do veterano em sua espinha.

O calor do abraço dele foi substituído pelo frio de seu olhar amarelado e o hálito álgido de seu sorriso pontiagudo e por mais quente que fosse o sangue espesso se alastrando em sua roupa, a ruiva sentia-se tão gélida como um iceberg.

Ele segurou sua mão a levando da altura de seu rosto enquanto a via o olhar aterrorizada.

— Tão macia... — ele piscou os olhos e seu sorriso aumentou — Não nego que seu sorriso é o mais belo que já presenciei... — cortês ele aproximou os lábios dos delas que já sentia a vida se esvaindo por seus magros dedos.

O soldado a beijou da forma que sempre quisera tocando-a como sempre foi de seu interesse, a marcando para mostrar ao azulado a quem ela pertencia e quando acabou, sentiu-se realizado, satisfeito.

Contudo, algo faltava em meio aquela festança, o olhar vítreo da ruiva incomodou até mesmo Fliqpy, o sorriso escarlate permanecia em seu rosto, mas ele queria algo mais, a parte inumana do veterano a observou por longos e psicóticos minutos, seus olhos amarelados ganharam um brilho além do familiar doentio, e uma lágrima escorreu solitária por seu rosto, para enfim sussurrar para o nada:

— Ei Flaky... Olha pra mim também...


Fim!


See me... (Happy Tree Friends)Onde histórias criam vida. Descubra agora