Capítulo 7

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|| Marocas ||

Betina entra na sala acompanhada de um homem. Ele é loiro, tem um sorriso bonito e os olhos azuis, que não desgrudaram de mim desde que eles adentraram o recinto.

- Esse é Otávio, o melhor fornecedor que nós poderíamos encontrar. Ele tem uma ampla experiência com produtos naturais e faz parte das maiores marcas de cosméticos atuais. - Betina diz, enquanto o tal de Sr. Otávio continua me encarando. Me mexo desconfortável e olho para os lados, tentando ver se algum de meus companheiros também repararam nisso. Meu olhar se detém em Samuel, que tem uma expressão nada amistosa no momento, encarando o homem que me encara. Oh céus, de certo que ele percebeu o mesmo que eu. - Bom Otávio - Betina prossegue normalmente - esses são Samuel, Paulina, Bento, Carmem e Marocas, que junto comigo formam a equipe da Miudeza.

- Marocas - diz Sr. Otávio, caminhando em minha direção, parando de frente para mim e pegando minha mão para beijar - é um imenso prazer conhecê-la. Ouvi tanto sobre você. Tenho lido as notícias desde que você e sua família foram resgatados no mar, acompanhei cada passo seu, e ouso dizer que a senhorita é muito mais bonita pessoalmente, mesmo naquelas fotos que saíram no ateliê de Zelda Larocque - ele diz e eu coro, puxando minha mão, ao mesmo tempo que Samuel levanta tão rápido de sua cadeira que todas as atenções se voltam para ele. Eu agradeço por isso, tenho certeza que minha face demonstra a incredulidade por tamanho atrevimento dele ao citar aquele momento tão embaraçoso para minha pessoa e reputação.

- Samuel Tercena - Sr. Otávio age como se não tivesse percebido a tensão no ar e nem a cara de meu namorado. - Também já ouvi falar muito de você, um famoso empresário. É um prazer conhecê-lo, claro que nem tanto comparado ao de conhecer a criadora da nova linha da Miudeza - e seu olhar se volta novamente para mim.

Ora, que falta de modos, será que ele não percebe que está sendo insolente? Nem ao menos notou as outras pessoas na sala, se dirigindo somente a mim e Samuel.

- É um imenso prazer a todos nós conhecê-lo também, Otávio - Sra. Carmen quebra o silêncio constrangedor e se posiciona ao lado do filho, segurando os seus ombros, como se temesse o mesmo que eu, que Samuca avançasse sobre o homem. - Mas agora que estamos todos devidamente apresentados, acho que temos coisas pra discutir não é mesmo?

Aos poucos a tensão se dissipa, mas ainda sinto Samuel nervoso, evitando meu olhar. Queria poder ir até ele, segurar seu rosto em minhas mãos, força-lo a olhar em meus olhos e acalmar seu coração. Mas me contenho, e sigo apresentando nossa empresa e ideias ao Sr. Otávio. Ao final do dia é possível ver muita evolução, e nossas amostras e aromas começam a tomar forma, me sinto tão feliz que procuro olhar de meu namorado, que mais uma vez não está voltado para mim.

- Bom - Sra. Carmen fala em um tom para todos ouvirmos - o dia foi muito produtivo, mas preciso pedir que finalizemos por hoje, estou exausta e preciso do meu apartamento só para mim, para relaxar.

- Acho que você está certa, Carmen - diz Natália - Além do que, se a gente parar agora, ainda da tempo de eu e o Bento pegarmos um cineminha - ela continua e pisca para Bento, que faz uma cara de assustado.

- Cineminha? - ele questiona.

- É Bento, assistir um filme romântico, no escurinho, só nós dois - Senhorita Natália continua e vai se aproximando dele, que vai dando passos para trás, fugindo da moça. Os dois saem da sala enquanto acho graça da situação, tenho certeza que formariam um belo casal. A voz de Samuel chama minha atenção.

- Bom, então se é só isso, vou indo. Estou com uma dor de cabeça e preciso de cama. - Ele da um beijo na cabeça da mãe e sai, sem ao menos olhar para mim.

- Samuel, espera, me da uma carona. - Betina pega sua bolsa e sai atrás dele. Fico estática, ainda tentando entender o que aconteceu, e muito nervosa pela ousadia de Betina de ir atrás de Samuel.

- Não sabia que os dois ainda eram noivos - diz Sr. Otávio, se dirigindo a mim, Carmen e Paulina.

- E não são - percebo a alteração em minha voz e dou um leve pigarro, afim de disfarçar - Não há mais nada entre Samuel e Betina, Sr. Otávio. Agora, se o senhor não se importa, nós precisamos organizar a sala para deixarmos a Sra. Carmem a sós em seu lar.

- Claro - ele diz um pouco sem graça. - Eu vou indo. Boa noite.

- Boa noite - dizemos em coro.

Sra. Carmem se oferece para acompanhá-lo até a porta, deixando eu e Paulina sozinhas. Começamos a organizar a sala e percebo Paulina inquieta.

- Há algo de errado, minha amiga?

- Marocas, você não notou algo estranho nesse Otávio?

- Estranho? Me pareceu uma boa pessoa, talvez um tanto quanto impertinente. - digo, e penso na reação de Samuel.

- Marocas, acho que você não percebeu, talvez por estar com a atenção voltada para ele e o Samuca, mas a Betina parecia estar se divertindo com a situação, como uma criança quando consegue o que quer. Acho que você deveria ficar de olho.

Nesse momento Sra. Carmen retorna a sala, e finalizamos a arrumação. Paulina questiona se iremos embora juntas, mas dou uma desculpa e ela vai sozinha. Me aproximo de minha sogra.

- Sra. Carmen... Apenas... Carmen - começo - gostaria de agradecer novamente por nos oferecer sua residência para iniciarmos esse projeto. E também nos desculpar pela bagunça.

- Que isso, Marocas. A minha alegria é ver meu filho feliz. Ver todos vocês felizes. Ô minha querida - ela passa a mão em meu rosto. - Eu gostava tanto da ideia de ser sua sogra.

Me contenho para não contar nada a ela. Ainda não é hora, e não é uma decisão somente minha. Me contento em abraçá-la para tentar transmitir o que sinto. Me despeço, chamo um carro de aluguel e me dirijo a casa de Samuel. Ele me deve explicações. Tento não pensar que pode estar com Betina. Entro em seu prédio e subo o elevador. A porta de seu apartamento está encostada, então entro de uma vez, sem avisar minha presença e o procuro pela casa. Custo a encontrá-lo, e estou prestes a ir embora quando vejo a porta que dá acesso ao grande tanque de água aberto.

Respiro fundo e entro, temendo o que posso encontrar.

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