O causo do Vaqueiro José, Parte I

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— Nós nos falamos segundos antes do seu acidente. Não se lembra?

— Agora que você falou estou lembrando sim, esbarramos outras vezes não foi!?

­— Sim, nos conhecemos a mais tempo, a um bom tempo. Mas acho que você ainda não está lembrado de mim. — Disse a moça, abaixando seu rosto bastante constrangida.

Sentei-me na cama, olhando fixamente para aquela linda moça.

— Por favor, pode sentar aí nessa poltrona, desculpa a bagunça do meu quarto, não estava esperando visita.

— Não se preocupe com isso, só vim saber mesmo como você está, fiquei bastante preocupada por conta do seu acidente.

— Obrigado por se preocupar comigo, mas estou bem melhor, apesar desse galo enorme na minha testa. — Falei levando a mão na testa e cobrindo o horroroso inchaço. — Sim, eu lembro de você!

— Lembra é?

— Lembro sim! Até sonhei com você algumas vezes por esses dias.

Clara ficou surpresa, levou a mão até uma correntinha que ela tinha no pescoço e com o dedo, balançou-a para o lado e para o outro e perguntou:

— E como foram esses seus sonhos?

— Acho que foram mais lembranças. Sonhei que brincava com você lá na fazenda do meu avô, nos divertíamos bastante. Lembrei que te chamava de Clarinha e você me chamava de Biel.

— Então você lembra mesmo daquele tempo!? Nossa, foi a melhor época da minha vida. Eu amava aquela fazenda.

— E por que mesmo que você foi embora? Até hoje não consigo entender!

Eu gostava muito da Clarinha quando éramos menores, tínhamos uma ligação muito forte. Quando estava na cidade, ficava contando os dias para retornar à fazenda novamente. Minha mãe me disse que quando ela foi embora da fazenda com a sua família, eu fiquei até com febre emocional. "Pobre Biel, não consegue aguentar uma perca tão grande, pobre coraçãozinho." Dizia minha mãe.

É de suma importância que eu conte a vocês tudo o que eu sei, o que me disseram e o que a Clara me disse, sobre ela e sua família e sobre sua partida da fazenda. É uma história que vale a pena ser contada e ser ouvida.

****

José Rodrigues, o pai de Clarinha, sempre morou na fazenda, filho de vaqueiro, seguiu a profissão de seu pai. Ele era apaixonado pelo que fazia e também apaixonado pela vaquejada. E foi quando assistia a uma dessas vaquejada no Parque Antônio Roco, que ele conheceu Sandra, a mãe de Clara.

As vaquejadas costumavam ser grandes eventos nas cidades pequenas como Viçosa. Nessas cidades não tinha muitas atratividades ou diversões constantes, por isso, quando era época de vaquejada centenas de espectadores lotavam a arena. A euforia estava no ar naquele dia, muita gente conversando, dançando, bebendo sua cerveja gelada ou descendo goela abaixo inúmeras doses de cachaça destilada.

Sandra estava bastante concentrada observando a vaquejada, quando dois jovens vaqueiros sentaram perto dela. A moça não tirou os olhos do jovem magro e alto, pele bronzeada do sol e um bigode que ela achava deveras charmoso.

— Olha só que dois partidões, Sandra! Com aquele vaqueiro eu até que fugiria. — Disse Joana, amiga de Sandra.

— Você está falando de qual vaqueiro? — Perguntou Sandra.

Meu nome é GabrielOnde histórias criam vida. Descubra agora