Autora: Rayane Araujo Salatiel
Plot: Amor romântico entre mulheres
Inglaterra, século XVII
Personagens: 3 - Katie Hawley, Anne Johnson, Clarke Berryann.
Um dos personagens, devido a sua criação extremamente religiosa, é intolerante e impiedoso, o que demonstra com frequência como padre e caçador de bruxas. Externamente, parece incapaz de se comover com qualquer coisa. Internamente, a aparência é confirmada. Dedicado; estudioso; persegue seus objetivos até alcança-los.
Katie Hawley estava pensando em Anne Johnson novamente. Anne era a dama de companhia de uma de suas amigas mais próximas, era linda, parecia um anjo, com seus longos cabelos castanhos e olhos selvagens – como gostava de lembrar. Aqueles olhos poderiam me devorar por inteira, pensava consigo mesmo toda vez que a via. A conhecera no último verão. Todos os anos, a família Hawley passava o verão na casa de campo. E por acaso, ou força do destino, a família Berryann também se encontrava por perto. Foi assim que conheceu Anne.
Katie caminha até a janela e observa a paisagem ao seu redor. Ela sempre amou a paz que encontrava ao olhar o mundo caótico do lado de fora. Era como se tudo que ela sentisse fosse expresso pela correria das várias pessoas que transitam pela rua. Um turbilhão de sentimentos floresce todas as vezes que pensa na vida ali. A agitada Europa arrancava dela a esperança de viver aquele verão para sempre.
A chuva rompe no céu, Katie observa ao longe alguma coisa dançando na chuva, percebe já não se trata de uma coisa, mas de alguém. Se aproxima ainda mais da janela e o que vê faz seu coração acelerar numa velocidade impressionante.
"Anne", sussurra o doce nome.
Katie engole seco. Encara o próprio reflexo. Ajeita o vestido, passa os dedos pelos cabelos ruivos e respira fundo.
Uma batida na porta a faz pular. Anunciam que a família Berryann está de volta à cidade. Não sabe ao certo o que dizer, não sabe se fica contente com a notícia, afinal poderia encontrar sua melhor amiga, e melhor ainda, poderia ver Anne, ou se deve se preocupar, já que isso significa que o queridinho Clarke Berryann também estará.
Clarke foi enviado pelos pais para um colégio católico, e Katie sentia que cada vez que ele voltava parte dele ficava lá. O doce e atencioso Clarke foi completamente substituído por um intolerante e impiedoso Berryann. Uma vez ele vira sua irmã e Katie passeando pelo campo, rindo uma da outra, de mãos dadas, e fez o maior escândalo que a Inglaterra já presenciou. Agora as duas só saem se a dama de companhia estiver com elas.
Clarke era dedicado e estudioso. Fazia tudo com excelência e os padres do colégio se impressionavam com sua desenvoltura. Acabou se tornando o responsável de punir qualquer um que desrespeitasse as regras do lugar, e nunca desistiu de nada que quisesse. Sentia ciúmes de Katie, mesmo sabendo que ela não o pertencia. Via em seus olhos castanhos claros os pecados que queria cometer.
Anne, dançava na chuva enquanto voltada para a mansão Berryann. Havia ficado encarregada de acompanhar a senhorita Berryann até a loja e prepará-la para o jantar. Anne ensaiava a dias o que diria a Katie quando a visse. Já havia escrito um bilhete, já havia preparado o lugar, já tinha a carta em mãos, só faltava chegar a hora do jantar e tudo acontecer. A chuva cessa.
Eram sete horas. A campainha toca.
"Você está adorável hoje, Katie" disse Clarke.
Katie sorri educadamente, com os olhos passeando pelo lugar.
"As mulheres estão no jardim, pode se juntar a elas, se quiser" o mordomo aponta para a parte externa.
Katie saiu para o jardim e Anne correu para acompanha-la, caminhava com um sorriso em seus lábios. Quando se aproximou pôde ver o brilho em seus olhos. Anne a contemplava com amor, a afeição que sentira por Katie desde a primeira vez que a viu só aumentava. Cercadas por nada além da noite e flores recém-plantadas elas se entreolham, não precisam dizer nada.
Em voz baixa, quase como um sussurro, escapam dos lábios de Anne as palavras que Katie queria tanto dizer: "Eu estou apaixonada por você, senhorita Hawley". Katie a encarou, olhou ao redor, precisava se certificar de que estavam sozinhas ali. Sussurrou ainda mais baixo: "Anne, eu amo você". No momento que as palavras escaparam, seus lábios foram de encontro ao de Anne e naquele instante, se perderam. Já estavam sem fôlego quando de longe ouviram um grito.
Assustadas, se afastaram e o que viram era a fúria impetuosa saltando dos olhos de Clarke. De repente tudo escureceu. Só conseguiam enxergar o negro céu noturno. Vários gritos. Várias blasfêmias. Sentiam a pele arder, e não era o calor de minutos atrás. Katie olhou para as mãos, presas às correntes, seu vestido amassado e sujo, uma gota de suor escorre de seu rosto, é salgado o gosto, é avermelhado a cor.
Anne solta um gemido agonizante, não pode chegar perto de Katie, e o desespero toma conta do ambiente. Segurando ambas, com os dentes cerrados, está Clarke. Ele parece zangado, suas mãos tremiam de ódio e repulsa. Não entendia porque Katie fizera aquilo. Todos os verões e as cartas que trocavam não significou nada. O único sentimento que o dominava era a ira. Gritava desesperado. Gritava louco. Apertava cada vez com mais força – uma força surpreendente – os finos braços das duas mulheres. Para ele, elas mereciam a morte, mereciam a fogueira, mereciam ser punidas pelo pecado que cometeram. Para Clarke, aquele erro era o passaporte certo para os Infernos.
Ninguém o impedia. O tempo passava sem que ninguém fizesse nada. Cada minuto parecia durar uma eternidade.
Katie não enxerga mais nada, seus olhos estão pesados, a dor em seu corpo é insuportável. Anne se esforça em manter o corpo de pé, da mão direita deixa cair um bilhete. Seus olhos se fecham. Um grito abafado cai no silêncio da noite. De repente, a tempestade.
"Me encontre na ponte, à meia-noite. Vamos partir. Com amor, Anne."
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DOAÇÃO DE PLOTS | Desafio 4
RandomProposta de criação: 1. Sorteio de plots incríveis feito em sala de aula presencialmente. 2. O plot que o aluno sorteou será inserido antes de sua história.