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Seria essa mais uma das histórias de superação que você conta a seus netos, esperando que eles parem de reclamar de suas vidas moles? Não, eu não contaria. À medida que você pode enxergar os acampamentos bombardeados em Casablanca, também pode enxergar o sofrimento físico de Homero, um contador de meia idade, chefe pé-no-saco de outros contadores com menos experiência num escritório no Vale do Itajaí. O cheiro de pólvora no ar, unido ao podre dos corpos (ou partes deles) que ali jaziam há quatro dias desde que as bombas formaram um cogumelo laranja no céu azul da África.

Homero tentou coçar sua pança, dando-se conta que seu braço direito já não o acompanhava desde os primeiros dias do acampamento no litoral, quando fora amputado por seu amigo, ou funcionário mais fiel, Eliezer. Ele olhou para o céu africano, esperando ver nuvens no formato de girafas ou elefantes, mas tudo o que viu o deprimiu mais ainda.

Cantil seco há mais ou menos oito horas, sem comida, sem ninguém. Quem sabe ele encontrasse uma tribo de narcotraficantes canibais, e lhes prestasse serviços contábeis em troca de abrigo, água e alimento. Homero viajava e muito na maionese. O objetivo agora era claro: chegar à Ceuta, o único pedaço de terra civilizado naquele continente, dizia o capitão de seu navio, que morrera terrivelmente triturado pelos dentes de um tubarão baleia no meio do Atlântico.

Ceuta era um território espanhol situado no extremo Norte do Marrocos, próximo ao Estreito de Gibraltar. Lá eles devem ter tortillas! O pobre homem não parava de pensar nisso. Enquanto andava cambaleando, por conta de uma cãibra na perna direita, uma figura vinha o seguindo. Homero nem olhou para trás, estava se cagando de medo. Pensou que com seu andar diferente, o monstro pudesse pensar que ele fosse um dos dele. Mas monstros não pensam, Homero! Nem você!

A aberração grunhia de forma deprimente, andava quase como Homero. Ele pensou, que aquele podia ser um de seus companheiros mortos no acampamento, motivo pelo qual ele se recusava a olhar para trás. Apenas apertava o passo na medida que conseguia, enquanto sua mente obtinha uma frequência de pensamentos repetitivos:

Água, água, Helena, água, um ensopado de camarões, água, Helena, Helena... Helena! Onde estás, Helena?

Você deve estar se perguntando quem seria a moça em questão. Helena da Silva era uma funcionária de seu escritório, pela qual ele nutria um amor platônico maldito. Dois anos! Dois anos e ele nunca disse que a amava! Exceto por uma vez, três dias antes da merda ser jogada no ventilador e pessoas começarem a comer pessoas literalmente, mas ele não foi muito convincente. Digamos que suas atitudes não a convenciam. Homero era um verdadeiro pau-no-cu. Quem não o odiasse naquele escritório, o odiava em dobro. Começava a escurecer no Norte da África.

Normalmente, aquele pedaço de carne amaldiçoado que o seguia, já o teria pego. Mas dada as condições ruins para um mamute daquele lugar, ele mal tinha forças para morder Homero. Sorte ou azar dele.

No momento em que o pé direito do contador deu de cara com uma pedra formosa, seu dedinho começou a latejar. Ele ficou bravo, mas bravo mesmo! Se abaixou mesmo correndo risco do morto-vivo o devorar por trás, agarrou a pedra com a mão que lhe restava (o que não foi o suficiente para tirar aquela maldita). Ele tentou de todas as maneiras, mas seu cotoco começou a sangrar. Merda!

Rraaarrrrrrrrrr!

Disse o morto-vivo. Então, Homero disse o mesmo o que ele. Levantou com a força de uma só mão -que ele usava para tudo, até para atividades desnecessárias-, e deu um... Espera! Ele queria dar um soco na cara do feioso, mas sem perceber, ele levou sua "mão" direita, que era um cotoco ensanguentado, direto na boca do monstro. Que por sua vez, não jogou a oportunidade fora e começou a mastigar aquele pedaço de carne necrosada como se fosse sua última refeição.

Ahhhhhhhhhhh!!!

Disse Homero, muito puto... Ele empurrou o mal-intencionado com a mão esquerda e saiu correndo como uma gazela, veloz e formosa.

A noite chegara.

Frio. Frio para burro! O homem se encolhia e tremulava no chão como Ian Curtis em uma de suas piores crises, mas era só o frio. Quem diria que pode nevar no deserto? Aqueles pequenos flocos só poderiam ser neve, ou cinzas. De um vulcão? Não importa, estava muito frio para levantar. Nada o tiraria dali, de jeito maneira. Até que ele ouviu um grito, agudo que doía, vindo de uns vinte metros dali, provavelmente.

Um pedido de socorro. Parecia que alguém precisava de ajuda, mas estava tão frio...

Boa noite! Aos que leram até aqui, os meus agradecimentos. Peço desculpas por qualquer possível erro de ortografia, e caso encontrem, favor reportar. Decidi dividir este conto em três partes, pois as duas últimas ainda não existem, então, peço que salvem o livro para que sejam notificados quando as últimas partes forem postadas. Espero que não demore. E comentem, por favor! Abraços :")

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⏰ Última atualização: Nov 29, 2020 ⏰

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Âmbar (um conto com zumbis)Onde histórias criam vida. Descubra agora