The monster under your bed

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Autora: BeatrizAmarins

Olá, jovem criança.

Hoje é Halloween e eu venho lhe contar quem eu sou.

Eu sou o monstro que habita sob sua cama; aquele que lhe dá pesadelos e lhe faz almejar dormir com a luz acesa, embora seus pais sempre a apaguem quando você pega no sono.

Sou o seu maior medo, apesar de nunca ter me visto.

Os ruídos que eu emito te apavoram; ah, como eu amo o som de seus gritos, como eu amo lhe manter acordada horas à fio.

Seu medo me alimenta, me faz crescer, me torna mais forte. Veja bem; eu não lhe assusto por mal, eu dependo disso para sobreviver.

Sem seu medo eu não existiria. É, realmente, uma pena o fato de você estar crescendo e de que não está mais se assustando tão facilmente.

Logo terei de encontrar outra criança, outra alma pura que possa me alimentar.

Eu escrevo esta carta para lhe dizer que sim, seus pais estavam errados ao afirmarem veemente que monstros não existem e que, caso existissem, não viveriam sob uma cama ou no fundo de um armário.

Você estava certa. O ruído que ouvia à noite não era proveniente dos galhos da árvore que batiam na janela.

Por Deus! Nem ao menos havia uma árvore perto da janela do seu quarto, nunca houve.

Seus pais deviam ter lhe dado ouvidos quando ainda podiam, enquanto sua alma ainda estava intacta.

Você consegue sentir a diferença? O peso sendo colocado sobre seus ombros?

Eles lhe dirão que isso é decorrente de seu crescimento, que com a idade vem responsabilidades e que o peso ficará cada vez maior. E realmente ficará... mas não, não será devido às responsabilidades.

Irei ser o mais claro e sucinto possível.

Quando você nasce, sua alma é demasiadamente grande para seu corpo, ela fica espremida aí dentro e vai se soltando aos poucos conforme você cresce.

Sua alma vai diminuindo de tamanho e densidade conforme me alimento de seu medo, de seu pavor e quando você atinge a idade adulta isso pesa sobre você.

Entende, agora, que o peso em seu ombro não tem nada a ver com as responsabilidades trazidas pelo crescimento propriamente ditas?

Poderia dizer que sinto muito por ter usurpado parte de sua alma, por lhe causar desconforto futuramente; todavia estaria mentindo.

Vocês não se sentem culpados por alimentarem-se de animais inocentes... tudo culpa da cadeia alimentar, não é mesmo?

Pois bem, eu sou o topo da cadeia alimentar e, para mim, você não passa de mais um animal que deve ser abatido para a minha sobrevivência, pois isso é tudo o que realmente importa.

Devo dizer-lhe, também, que; ao contrário do que você pensa, a luz acesa não me afasta... ela me desperta, me deixa ainda mais faminto e te traz para mais perto de mim.

Criança tola! Se humanos — assim como muitos animais — dormem quando as luzes se apagam, o que lhe fez pensar que com "monstros" seria diferente?

Reflita sobre isso antes de permitir que apaguem sua luz, uma vez mais.

Com desprezo,

O monstro que habita sob sua cama.

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