Gatos são considerados guardiões entre os dois mundos: dos vivos e dos mortos. Muitos os têm como guardiões e acreditam que possuem poderes, mas poucos sabem que seus olhos guardam portais para o outro mundo.Tenha cuidado ao olhar profundamente por muito tempo, nunca se sabe o que pode te olhar de volta.
Ela teve um sonho.
A chuva caía lá fora enquanto relâmpagos estouravam nos para-raios das casas próximas. Era tarde da noite e nenhuma casa parecia estar acordada. A rua silenciosa só existia pelo som das gotas d'água que estouravam incessantemente contra o chão.
A televisão chiava na sala.
Já devia ter passado do horário da programação normal. Sem pensar em quem havia deixado ligada, a jovem se levanta da cama para desligá-la. Passa pela pequena cômoda e ignora seu reflexo diminuto de cabelo desgrenhado.
O ranger da porta parece mais alto do que ela estava normalmente acostumada. Esperou alguma reação vinda de outro quarto e nada. Subiu nas pontas dos pés e andou sem muito equilíbrio até o início da escada. A cada passo, a madeira rangia com o peso de seu corpo, era algo incômodo e longo demais até.
O chiado ficava mais e mais forte com a aproximação. Ela mesma não se lembrava de estarem vendo a televisão tão alta na noite anterior.
Havia chegado ao final da escada e com isso o rangido havia parado, isso, para ela, era um grande alívio.Sua imaginação completava lacunas com sons e para ela cada rangido podia ser um significado de atrair a atenção de fantasmas, cada sombra poderia ser alguém observando-a e era por isso que odiava sair da cama de noite. Mas lá estava ela.
Um estrondo fez as janelas tremerem quase que junto com o clarão que o precedeu. A menina deu um pequeno pulo para o lado com o susto.MIAAAAAAAAU
O silêncio foi cortado pelo longo e alto miado da gata que estava deitada e teve seu rabo pisoteado pela garota em meio ao susto. O som alto e rasgado ecoava pela sala, enquanto ela se abaixava, levando o dedo até sua boca e susssurrava para que ele se acalmasse.
— Shhhh Lady, shhh, vai acordar todo mundo! Desculpa menino.
O gato saiu correndo logo após ela tentar alcançar para acalmá-lo. Ainda com o coração batendo rápido, a jovem riu baixo por ter se assustado tanto. Respirou algumas vezes, o mais fundo que pode antes de seguir até a televisão.
A sala estava vazia e além da iluminação esbranquiçada do chuvisco, vez ou outra um clarão azul mudava a direção das sombras e logo tudo tremia com o trovão. A mão pequena alcançou o botão e girou-o lentamente até ouvir um clique, seguido da tela tornando-se negra. Outro raio estourou perto, iluminando a sala. A jovem, que olhava para o vidro, agora escuro, se assustou ao ver um contorno próximo ao pé da escada.
— Juro que não fui eu quem deixou ligada a tv papai. — ela virou-se rápido para explicar, mas sua voz minguou ao notar que não havia ninguém lá.
Do andar de cima, o som de uma porta batendo forte preencheu o silêncio do intervalo entre os trovões. Nessa altura, seu pequeno coração voltava a bater rápido. Não queria levar bronca, mas também, não queria ver algo que não veria se estivesse em sua cama.
Apressada, correu sem se importar com o som de seus pés descalços sobre as tábuas de madeira. Sempre olhando pra baixo para não tropeçar, a pequena menina subiu os primeiros degraus.Tap, tap, tap, tap.
Tap tap, tap tap, tap tap.
Ao notar que havia um som intercalando com sua corrida e que o mesmo vinha de sua frente, ela parou. Seus olhos ergueram-se enquanto ouvia apenas a chuva e sua respiração. Notou pés, os sapatos brilhavam como novos, pretos como a noite do lado de fora. A calça, igualmente negra, escondia a provável finura das canelas tortas que sustentavam o corpo magro. Fora do alinhamento normal, o corpo parecia fraturado em pequenas partes como se tivesse caído de uma altura considerável.
As mãos finas começaram a estalar com o movimento dos dedos pálidos e ossudos. O terno desalinhado parecia maior que o corpo que o vestia. Ao olhar o rosto alongado, como se a mandíbula estivesse pendurada, os olhos com órbitas vazias e a pele macilenta, escondido em parte pela cartola tão escura quanto o resto de suas vestes, a menina gritou.
Com um passo em vão, seu corpo rolou escada abaixo e antes de tudo escurecer ouviu a risada seca do homem no topo da escada.
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HISTÓRIAS DE TERROR - Contos de Halloween (DEGUSTAÇÃO)
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