Sob a lua prateada

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Inglaterra-
Passado

Todos os dias são uma dádiva, especialmente quando este dia é o Halloween.

Tord, até momento em que sua inocência gentil prevalecia, nunca soube o por que de se mudar tanto. Especulava que tinha algo com o emprego de seus pais, mas nem assim se importava—Para um garotinho de apenas seis anos, ele havia visto muitas coisas que adultos não tinham, e gostava disso como nunca gostou de algo antes—Se sentia, de certa forma, superior aqueles que nunca tinham visto o que viu.

E aquela noite, em especial, vislumbrou  apenas outra maravilha que poucos veriam ao longo dos anos. Maravilha esta, que mesmo crescendo a odiar, apreciava com todo esmero —Desejando que fosse sua para sempre— Mas isso, pensou um certa vez, seria extremamente mesquinho da parte dele.

O jovem rapaz escolheu uma fantasia de cor avermelhada —Composta por papelão de todas as formas, bem como qualquer tecido que pudesse encontrar— Seus pais haviam ido atender mais uma emergência de trabalho, portanto, iria pedir gostosuras ou travessuras sozinho. Normalmente, Tord teria obedecido seus guardiões e ficado em casa, mas a chance de desfilar por aí, usando uma fantasia de robô vermelho,  que além de tudo era feita por si mesmo, e ainda por cima ganhar doces de graça era especialmente atraente.

Então assim o fez, arrumou uma lancheira de abóbora que tinha usado ano passado em sua cidade anterior, vestiu as partes 'robóticas' que ficavam estranhamente confortáveis nele, e seguiu seu rumo,pela primeira vez em uma vizinhança nova,sozinho.

As luzes eram hipnotizantes, a cada passo que dava era de certeza que encontraria abóboras iluminando seu caminho, fazendo até ele querer se perder nelas. O vento, muito frio naquele dia de outono, o guiava com tanto carinho que podia apenas o comparar ao gentil toque de seus pais, e a energia das outras crianças era, simplesmente, contagiante— Pondo um sorriso em sua face numa questão de segundos.—

Não precisava de amigo nenhum para ter um tempo agradável, muito menos de acompanhante que fizesse a certeza de que estaria seguro. Não mesmo! Isso  é coisa para criancinhas e, de acordo com Paul, Tord agora era um homenzinho.

Então, quando seus olhos cor de mel aterrissaram em um grupo de jovens, aparentemente amigos, —Em uma de suas desventuras a busca do mais épico dos doces na casa de uma vizinha —Fez  o que fazia de melhor: Os ignorou completamente, bem, até a medida do possível.

"Aw! Você pegou os melhores doces!" Exclamou um rapaz da mesma idade de Tord, sua fantasia era simples, porém bem elaborada—Uma jaqueta verde com orelhinhas e um rabo de gato, bem como a pintura de bigodes em suas rosadas bochechas.

"Não tão bom quanto os meus, Edd!" Rebateu baixinho um tímido vampiro ruivo, escondendo-se atrás da saia de uma mulher que compartilhava da cor vibrante em seus cabelos, presumidamente, sua mãe.

"Estamos perdendo tempo, pessoal!" Por fim falou um fantasminha, e logo por isso nosso jovem norueguês aprendeu o que era ódio. Sua fantasia era simples demais— Apenas um lençol branco, nem mesmo se dando o luxo de esconder os espetados cabelos do rapaz, que causavam um volume indesejado no topo— E,ainda assim, na região de seus olhos, era completamente negra! Como fizera isso? Como ficou melhor que ele quando, apesar de não demonstrar, havia passado horas e horas num esforço que,ao final, não teria ficado nem metade do que este garoto britânico qualquer tinha bolado?

"Minha mãe diz que é feio encarar!" Complementou o fantasminha, fitando-lhe nos olhos, mesmo que fosse difícil de perceber. "Tom! Ele deve estar só assustado de tanto ver fantasias hoje." Defendeu o gatinho, sorrindo para Tord.

"Eu sou Edd, o que acabou de falar é Thomas, mas chame ele de Tom,e aquele com a Senhora H. É o Matt!" Era certo de que o norueguês colecionava características— Assim nunca esqueceria de ninguém— Como as sobrancelhas grossas de Paul, a franja boba de Pat e agora, o sorriso acolhedor de Edd, as sardas estrelares de Matt e....O que Tom tinha de único mesmo?

Por mais uma vez naquela noite, Tord sorriu, Thomas não tinha nada de especial nele.

"Tord." Disse com um sorriso quase automático, não era atoa que havia vindo vestido de robô. "Você gostaria de uma carona pra casa, Tord? Está bem tarde, onde estão seus pais?" Perguntou a 'Senhora H.' Suposta mãe de Matt, quem quer que fosse, tinha razão:Que horas eram mesmo?

"Huh...Claro, senhora." Tord engoliu  em seco— Sempre teve esse nervosismo ao falar com adultos ou autoridades.—A resposta pareceu satisfazer a mulher a sua frente, que sorriu aliviada, mesmo não sabendo onde estavam os pais do garotinho, de uma coisa tinha absoluta certeza: De que não estavam em lugar nenhum que importasse, este sendo, perto de seu filho.

Assim foram os cinco para o carro de cor lilás, Matt no banco da frente com sua mãe, e Edd, Tord e Tom nos de trás, cada um com sua respectiva sacola de doces no colo.

E então, no momento em que ia sair do carro para sua casa, o jovem norueguês viu a pequena maravilha da noite.

Thomas se sentava ao seu lado, portanto, teve que se levantar para que Tord saísse do veículo. Logo, confiou sua sacola de doces à seu amigo, sentado na janela oposta, e se levantou para sair, acabou dando uma pisada em falso, o fazendo tropeçar carro afora.

Neste momento, sob a luz da lua prateada, que o estrangeiro viu os olhos de Tom— E que paisagem!— Veludo ébano revestindo o infinito em seu rosto, dois pedaços de um céu imaculado de qualquer estrela.

Edd tinha um sorriso, Matt sardas, e Tom? Tom tinha apenas não uma, mas duas, razões a mais para ser o foco da atenção de Tord—Mesmo que a atenção fosse, inevitavelmente, negativa.

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Eu adoro o Halloween! Vocês não?

De qualquer forma, espero que tenham gostado desse capítulo! Críticas construtivas são sempre bem-vindas.

Esse, assim como o outro, foi betado por Urso_P !

Até logo!

Este lado do paraíso [DESCONTINUADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora