Capítulo Sete

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Acordo com o barulho das ondas, a casa dos meus avós fica à poucos metros da praia,  o som suave delas se quebrando ultrapassa qualquer distância.

Levanto da cama devagar para não acordar meus irmãos e na ponta dos pés vou até minha mala, pego uma calça preta, uma blusa vermelha de mangas compridas, amarro meu cabelo bem firme e coloco meu boné azul claro, calço meu tênis de cano alto, por precaução levo meu casaco preto de capuz, pois está mais frio que ontem, me pergunto quando começará a nevar...

Meus avós já estão acordados e ativos, tomo meu café da manhã reforçado e aviso que vou conhecer a cidade.

Desço as escadas da varanda e  vejo algo se mexendo no arbusto, Edward sai do meio dele com uma borboleta na boca.

-Não venha com ela pro meu lado! Você sabe que eu tenho medo..

-Não seja tola, já está morta!-Ele a coloca no chão e bate a pata em cima, ela nem se mexe.

-Já vai tão cedo?-ele diz.

-Sim, Celena combinou de me encontrar perto de um bosque, sabe onde fica?

-Fica alguns metros daqui, siga a rua e vire a esquerda quando ver uma placa de sinalização de animais silvestres entre ali.

-Ok.-digo.

-Vai voltar ainda hoje?-ele diz.

-Acho que sim- sorrio e saio.

A rua dos meus avós não tem muitas casas, em grande parte é área verde, aparentemente parece ser um bairro de velhos já que não vi muitos jovens por aqui.

Avisto a placa e entro na mata, é bem mais frio aqui e há resquícios de neblina, olho com atenção em todos os lugares mas não a acho, escuto um barulho vindo atrás de mim .

Celena surge atrás de uma árvore segurando uma mochila.

-Está atrasada...-Ela diz com voz de tédio –Vamos por aqui...

Eu a sigo arrepiando de frio, essa capa dela deve ser bem quente, já que as roupas de baixo não são tão quentes, uma blusa branca , calça preta e botas pretas sem salto. Olhando ela de perto somos quase do mesmo tamanho talvez com a diferença de ela ter dois centímetros a mais que eu.

Depois de andar por uns dez minutos paramos perto da margem de uma lagoa, ela tira o capuz e finalmente posso ver seu cabelo ondulado e cor de cobre, ela guarda a capa dentro da mochila e fica olhando para a água como se estivesse esperando algo acontecer.

-O que estamos esperando?-pergunto.

-O Portal abrir...

-Portal!?Como assim??

-Um portal, em determinados horários eles abrem, normalmente ficam em lagoas ou rios, mas se fecham no entardecer.....então não podemos esgotar o tempo lá, eu trouxe um relógio comigo depois de ir a cidade fazer compras-Ela diz sorrindo como se isso fosse super normal...

-Ta...- É tudo que eu consigo dizer depois dessa explicação mega rápida e “normal” como se eu já soubesse disso.

Ela entende meu desconforto e diz:

-Sei que é estranho mas com o tempo você se acostuma, nem todos sabem disso...eu acho bem prático se um dia tiver uma guerra isso poderia ser bem útil para pegar o inimigo de emboscada, felizmente ou infelizmente o tempo passa igualmente ao daqui ou seja seu treinamento vai ter que ser mais intensivo está pronta?

Fico pensativa eu poderia desistir disso e seguir minha vida sem saber como era meu passado, porém lembro dos meus pais, eles precisam de mim em algum lugar , precisam de minha ajuda.

-Estou-É tudo o que consigo dizer.

Algo brilha dentro da água,Celena coloca a mochila nas costas e pula DENTRO DA ÁGUA FRIAAA!!!!NEM FERRANDO QUE VOU TER QUE PULAR AI DENTRO!!!quando ela falou portal pensei que seria em cima da água não dentro dela, que demência!

Ela sumiu, nem sequer sinal de bolhas de oxigênio subindo na superfície, acho que ela deve estar me esperando do outro lado.

Faz um bom tempo que não nado em um rio, começo a dar saltinhos na margem esperando a coragem vir, mas ela não vem, minha cabeça diz que posso me afogar, ou congelar na água e quando eu chegar lá onde vou parar??Saio da água do outro lado ou caio do céu de lá?? O QUE EU FAÇO??

De repente escuto galhos se partirem atrás de mim, não olho para trás e pulo. JOSH!

Sinto a água gelada por uns segundos mas depois sou engolida pelo portal, começo cair descontrolada o que parece ser céu mas depois o mundo inverte e subo á superfície, estou boiando na água mas ainda estou gritando assustada até me dar conta disso.

Celena está tampando os ouvidos  e depois se aproxima de mim me puxando para a margem, eu deveria estar ensopada e ela também mas saio seca da “água céu”.

-Finalmente veio!-Ela diz me ajudando a levantar.

Tomo folego, por hoje acho que já foi o suficiente, olho ao redor,  é exatamente igual a parte de cima porém nada se mexe, nada tem vida como se fosse uma parte morta do universo e a parte do céu se mexe como um rio em movimento , consigo ver peixes nadando em vez de pássaros.

-Quem estiver do outro lado consegue nos ver?

-Não, estamos totalmente protegidas aqui.

-Como assim? Ninguém pode nos ver??

-É mais ou menos, é melhor manter você em segurança do que alguém pegar você na parte de cima e ver você não acha?

-Qual o problema de me ver? Não sou a única a ter poderes...

-Jennevieve você é mais especial do que pensa, seu poder é raro sua verdadeira família sempre o teve passando de pai para filho como um clã, eles nunca se misturaram, por isso você tem cabelos pretos e olhos negros...Todos do seu clã tem as suas características, seus avós devem saber disso mas escondem e seus pais também.

-Como assim? Escondem??

-Seu clã antigamente era considerado da nobreza, já houve vários reis e rainhas deles, sabe porque? Por causa dos poderes que vocês possuem, eles são raros e únicos e... você já deve ter percebido porque não tem uma sombra como pessoas normais tem...

-Sim...

Nunca entendi porque eu era a única criança do orfanato a não tem sombra, as diretoras me olhavam com desprezo e as crianças ficavam longe de mim, agora tudo faz sentindo...não era porque não gostavam de mim mas porque tinham medo de se aproximar...Olho para o chão onde minha sombra deveria ficar mas só vejo o mato.

-Espere...-olho desconfiada para ela-Você também não tem...por isso esta debaixo dessa árvore? Você sempre ficou em lugares mais escuros com pequenas exceções, como fez compra na cidade sem que ninguém desconfiasse de você??Você é igual a mim!!!

Ela sorri.

-Finalmente descobriu...sim eu sou, mas escondo minha identidade...eu fui em lojas que abriam de noite, onde não era tão perceptível, mas ultimamente as pessoas não ligam mais para quem tem sombra ou não, Jennevieve... nosso clã foi “extinto”, por isso você é rara, há mais como você mas estão bem escondidos.

-E seus olhos e cabelos?

-Eu pintei o cabelo e quanto os olhos, são poderes adicionais que consegui com o tempo...nosso clã pode fazer isso também.-Ela sorri e se aproxima de mim.

-Nunca tenha vergonha do que você é...

É tanta informação que não consigo pensar direito, tantas coisas vieram á tona...

-Conheceu meus pais?

-Não...- Ela desvia o olhar-Então vamos começar?

-Vamos...

-Qual a sua arma favorita?-ela diz.

Dou um sorriso e digo:

-Espada.

A Canção das EspadasOnde histórias criam vida. Descubra agora