café e contemplação.

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Todos os dias Jeongguk observava da varanda de seu quarto aquela cafeteria inaugurada há pouco tempo no final da rua, sempre movimentada e atrativa aos seus olhos e também aos dos outros que sempre passavam por ali, não hesitando e entrando ali para comprar ao menos uma balinha.

Estava tão curioso para conhecer tal lugar, mas as vezes a própria casa parecia muito mais aconchegante naqueles dias frios. Porém poderia muito bem ir lá e tomar um chocolate quente para se esquentar. E foi com tal curiosidade e vontade de comer algum bolo bem doce que moveu os pézinhos até o próprio guarda-roupa, procurando por um casaco quente o bastante e que o deixasse bem aquecido durante a curta caminhada até o fim da rua reta.

Passou pela sala grande, onde lançou um sorriso meigo para os pais, que encontravam-se no sofá assistindo algum filme aleatório e bem aquecidos pela manta. E antes de sair, olhou ambos mais uma vez antes de se pronunciar.

ㅡ Irei àquela cafeteria nova comer alguma coisa, vocês dois querem que eu traga algo? ㅡ Checando se a carteira estava em seu bolso, esperou por uma resposta.

ㅡ Seu pai não quer nada, mas eu quero uma fatia de bolo de chocolate, bem recheado. Faz tempo que sua mamãe aqui não saborea um bolo de fora. ㅡ Riu a mais velha, lançando uma piscadela para o filho, que retribuiu e fechou a porta após dizer que não iria demorar, já que em poucos minutos iria escurecer, e mesmo que não fosse distante não gostava de ficar fora de casa ao anoitecer.

Os olhos curiosos do garoto rolaram por toda a rua úmida pela leve chuva que caia ali, o que o fez cobrir os fios castanhos com a touca larga do casaco. As mãos grandes adentraram os bolsos, as pernas movendo-se na medida que era confortável para si. Não caminhava nem rápido e nem lento, bom o bastante para manter a respiração calma, já que considerava-se um sedentário daqueles, bastavam dois passos mais rápidos do que de costume pra ter um ataque cardíaco.

E não demorou tanto para chegar ao estabelecimento, abrindo a porta e ouvindo o sininho soar pelo local, atraindo alguns olhares em sua direção, que resultou em suas bochechas rosadas. Jeongguk não gostava de atenção de estranhos, principalmente quando estava sozinho. Já era um desafio para si ir até àquele lugar sozinho.

E tentando afastar tais pensamentos que voltou a caminhar, desta vez olhando a bancada com alguns doces, pães e bolos. A boca encheu d'água, tudo ali parecia tão delicioso que queria apenas devorar um por um.

Os olhos redondos e escuros se afastaram dali, o corpo movendo-se para longe preferindo sentar-se na mesa do canto e dar uma olhada no cardápio para ver quais guloseimas eram aquelas no balcão. Quieto e concentrado, quase se assustou quando ouviu a voz desconhecida e doce soar com calma.

ㅡ Já sabe o que vai pedir, senhor?

ㅡ Oh... eu. ㅡ Travou por alguns segundos olhando o homem em sua frente, com um caderno pequeno de anotações em sua mão. Percebeu todas as tatuagens em seus braços, perguntou-se como ele havia conseguido aquele trabalho, as vez era difícil arrumar empregos quando se tinham tatuagens, ainda mais aquelas tão visíveis. ㅡ Eu quero... uh. ㅡ Engoliu em seco, o rosto queimando novamente enquanto as mãos levemente suavam, tal sensação era estranha, jamais vira um alguém tão belo como aquele e também nunca havia sentindo tal sensação por um homem. Jeongguk estava talvez nervoso?

ㅡ Me desculpe, você está se sentindo bem? ㅡ Aquele que então parecia uma obra esculpida pelos deuses lhe perguntou, olhando-o preocupado.

E foi ali que pareceu sair de seu transe.

ㅡ E-eu estou bem, eu quem peço desculpas... Bem, quero um chá gelado, um pedaço de bolo de chocolate para entrega e dois cupcakes de baunilha. ㅡ Droga, Jeon! Você queria um chocolate quente.

ㅡ Certo! Muito obrigado, tenha uma boa noite.

Antes que este pudesse se afastar, sorriu largo até os olhos se fecharem e Jeon declarou-se um homem morto de amores, abaixando a cabeça um pouco sem graça e sentindo o sangue ainda concentrado em seu rosto.

Não demorou muito para aquele que até então era desconhecido por si se afastar. E assim moreno pode soltar o ar com calma de seus pulmões, encarando a rua com bastante movimento de alguns carros e pessoas caminhando pela calçada através da enorme janela de vidro. Encostou o rosto ali por alguns instantes, completamente atencioso enquanto seu interior lutava para entender porque havia ficado tão tenso perante alguém que nunca tinha visto antes.

ㅡ Jeon Jeongguk está enlouquecendo, era só o que faltava. ㅡ Murmurou baixinho consigo mesmo, buscando pelo celular e logo desbloqueando o aparelho em mãos, deslizando os dedos até encontrar um jogo qualquer para sua distração.

Jeongguk não gostava de tais hábitos, mas também não conseguia se controlar. Sabia que era difícil dialogar com pessoas desconhecidas, mas mesmo assim insistia, não queria parecer estranho. Em várias situações ele se pegava constrangido, mas não de tal forma como aquele homem. Talvez poderia classificar aquilo como o surto mais intenso que tivera ao tentar contato com alguém, e no momento não sabia explicar o porquê.

As pessoas costumam dizer que isso acontecem em momentos que você nem pode esperar e com pessoas que você nunca viu na vida, e Jeon estava convencido de que era exatamente aquilo que havia acontecido, e não culpa de tais surtos internos que as vezes tinha.

Desde criança sempre fora quieto, isolado das pessoas. Sofreu com fobia social até seus dezesseis anos, e desde então passou a frequentar mais lugares abertos para superar todos os problemas que atrapalhavam e muito a sua vida. Ser filho único foi péssimo, seus primos moravam longe, não tinha muitos amigos quando criança e metade do tempo era gasto em casa jogando e brincando sozinho. Jeon tivera uma infância sozinha e triste, e querendo ou não isso o influenciou a ser tão fechado, tanto para emoções quanto para conversar.

E seu maior sonho era superar aquilo de uma vez só.

ㅡ Aqui está. Tenha uma boa refeição. ㅡ Novamente o dono daquela voz causou efeito em si, desta vez um arrepio que percorreu por todo o seu corpo, fazendo estremecer levemente, mas sem que o de cabelos meio azulados acabasse percebendo.

ㅡ Muito obrigado. ㅡ Agradeceu, desta vez arriscando o encarar um pouco mais, fitando os olhos pequenos. Quase fez um bico quando ele se afastou, deixando o garoto curioso sentado no canto daquele estabelecimento.

Seria estranho Jeon dizer que estava super interessado em saber quais eram seus gostos? Por que todas aquelas tatuagens que desenham o seu corpo, por quê a cor tão viva e colorida nos fios de seu cabelo. Até mesmo por quê ele estava tão sorridente e sem blusa num frio daqueles. Será que ele não sentia frio ou estar ali perto de coisas quentes mantia o seu corpo aquecido demais para sentir frio? Ou qual eram seus gostos musicais, o seu perfume preferido.

Droga, nunca esteve tão curioso em conhecer alguém e porque justo com aquele cara? Não sabia nem o seu nome.

Mas pela primeira vez em toda a sua vida, Jeon Jeongguk estava disposto a conhecer alguém, e este seria o cara da cafeteria.

margarida - jikook. [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora