Capítulo Único

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E lá estava Ochako mais uma vez, envolvendo o corpo forte dele em seus braços e sentindo o cheiro doce que sua pele exalava. O calor trocado entre os corpos a fazia tremer, agora se a causa eram seus sentimentos que ameaçavam explodir ou os soluços que rasgavam o peito dele, não sabia. Acariciou os cabelos verdes e o apertou mais contra si. Ele fungou e tentou reclamar, mas ela sabia que o fazia por obrigação, por se importar e achar que estava incomodando-a com seus problemas. Não entrava em sua cabeça que apoiá-lo era um papel que ela desejava, que segurar sua mão e impedi-lo de desabar fosse algo com o qual ela sonhava. Amava-o. Apenas isso. E amaria até o fim dos tempos. A voz rouca desculpava-se pelas manchas molhadas que suas lágrimas deixavam na camiseta azul que usava, mas ela não ligava. Não quando tinha Deku em seus braços com um olhar tão destruído quanto o que ele ostentava agora.

― Shhhh... – sussurrou. ― Está tudo bem. Tudo bem. Apenas ponha para fora e chore o quanto precisar.

Os lábios tremeram enquanto ele lhe sussurrava palavras de agradecimentos. As lágrimas escorriam pelas bochechas, deixando rastros nas sardas que ela tanto amava. Ela queria beijá-las, uma por uma, todas as noites, e ouvir o som delicioso da risada tímida que ele daria até adormecer. Mas o primeiro passo era o mais difícil.

Sabia o que ele fazia ali. Não acompanhara de perto as notícias – passara a última semana em uma missão diferente do outro lado do país – mas o falatório sobre a explosão do metrô causada por vilões se espalhara rapidamente entre os cidadãos. Midoriya havia estado presente. O pânico gerado e o número de vítimas havia sido um choque a todos que acreditavam nessa sociedade de heróis e em como o número de feridos diminuía gradativamente com suas ações. Agora, havia medo, insegurança e desconfiança. Se os heróis não mantinham as pessoas a salvo, para que existiam?

Agora, após a escola, ambos atuavam como profissionais e escalavam os degraus em seu caminho para o topo. Mas, ver aquilo, pessoas se machucando longe do alcance de suas mãos sempre lhe cortava o coração. E, nesses dias, quase que sem pensar, os pés dele encontravam o caminho para a casa de Uraraka e ele terminava a noite no conforto de seus braços onde não precisava temer que as lágrimas o tornassem mais fraco. Um soluço cortou o ar.

― Todas aquelas pessoas... eu não pude fazer nada... – ele se lamentava, os olhos cerrados fitando a cicatriz em sua mão direita. ― De que adianta ter o poder se não pude salvar ninguém? – O coração de Uraraka pesava. Não foi sua culpa! Queria gritar. Você fez tudo que podia. Mas sabia ser inútil. Enquanto houvesse alguém a ser salvo, Deku prometera estar ali para fazê-lo. E agora, essa promessa fora quebrada.

Sabia o quanto ele se esforçara para conter as lágrimas. Chorão como era no início, agora conseguia manter a expressão sob controle durante alguns momentos. E, quando isso acontecia, Ochako sabia que o veria em seu quarto horas mais tarde. Quando todos estivessem dormindo, quando não houvessem mais olhares julgadores, quando a dor no peito ficasse tão forte que ele não mais conseguiria aguentar. E correria para os seus braços.

― Eu não mereço uma amiga como você. – A voz rouca pelo choro sempre lhe dizia. E ela negava com veemência, sem deixar ele perceber o quanto aquelas palavras acabavam com si, o quanto elas prensavam seu coração espremendo-o em um órgão sem esperança. Amiga. Até mesmo a palavra tinha um gosto amargo em seus lábios.

Guardara seus sentimentos por tempo demais, silenciando-os em seu peito, prometendo a si mesma mantê-los sob controle até que seus objetivos fossem cumpridos e sua força houvesse se desenvolvido. Acontecera. E agora, mesmo agora, ela continuava a afogá-los dentro de si. Como poderia sequer mencionar o assunto quando era o único conforto que ele tinha, a única em quem confiava para ver suas lágrimas e seu momento de fragilidade? Não. Não poderia fazer isso com ele, mesmo que significasse mais angústia em seu peito, um peso a mais em seu coração. Aguentaria.

End of timeOnde histórias criam vida. Descubra agora