Capítulo 14

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Enquanto lia a carta, (já estava bem próxima dele, a um palmo de distância) não conseguia parar de sorrir, e confesso que estava até um pouco vermelha. Acabei de ler e olhei para ele, que estava me encarando com aqueles olhos penetrantes castanhos escuros e suas olheiras profundas.

-- Amei o jeito que você comparou os girassóis com meus olhos -- disse quase sussurrando, e ainda sorrindo feito boba -- e sinto a mesma conexão que você, nunca tinha sentido isso antes -- falei olhando pra baixo sem jeito.

Nos olhamos profundamente nos olhos e estávamos nos aproximando lentamente, a rumo de um beijo, bem aquelas cenas de filme romântico, quando Emma abriu a porta do porão bruscamente, nós dois levamos um susto;

-- Gente nós fizemos limonada e estamos no jardim reunidos -- disse ela apressada -- opa, desculpa, esqueci de bater, arruinei o momento né? Desculpa, mas então se vocês quiserem se juntar a nós, estamos no jardim.

-- Emma, quantas vezes preciso te falar pra bater antes de entrar! -- disse Enoch gritando com ela.

-- Enoch, não precisa falar assim com ela, ela não fez por mal. Emma, nós já subimos pra encontrar vocês. -- eu disse para acalmar a situação.

-- Tudo bem, desculpa gente -- disse ela sem graça saindo do porão e deixando a porta aberta.

-- Ela não devia ter aberto a porta sem bater -- ele disse para mim ainda meio nervoso

-- Vamos lá pra cima tomar limonada, o dia tá lindo -- disse com um leve sorriso e dei um beijo na bochecha dele, depois peguei sua mão e fomos para o jardim com os outros.

Bebemos limonada deitados preguiçosamente ao sol, jogamos croqué, cuidamos dos jardins que, graças a Fiona, mal precisavam de cuidados e discutimos nossas opções para o almoço.

Após um almoço cheio de sanduíches de ganso e pudim de chocolate, Emma começou a incitar os garotos mais velhos para irmos nadar.

— Nem pensar — resmungou Millard, que estava com o botão superior da calça quase estourando. — Estou tão cheio quanto um peru de Natal recheado. — Nós estávamos jogados em móveis muito estofados pela sala de estar, cheios a ponto de estourar. Bronwyn estava deitada sobre um divã com a cabeça enfiada entre duas almofadas.— Eu iria afundar direto — ouvi sua voz abafada dizer.

Mas Emma era persistente. Dez minutos depois de muito insistir, ela conseguiu arrancar Hugh, Fiona e Horace de suas sestas e desafiou Bronwyn, que aparentemente não resistia a qualquer tipo de competição, a uma prova de natação. Eu convenci Enoch de ir, pois estava louca pra dar um mergulho. Quando nos viu todos saindo de casa juntos, Millard nos deu uma bronca por tentar deixá-lo para trás. O melhor lugar para nadar era na baía, mas chegar lá significava caminhar pela cidade.

— E esses bêbados malucos que acham que somos espiões alemães? — disse

Jake. — Hoje não me sinto com vontade de ser perseguido com porretes.

— Seu pateta — disse ela. — Isso foi ontem. Eles não vão se lembrar de

nada.

— Só se enrole numa toalha para que eles não vejam suas, hum, roupas do

futuro — disse Horace. Eu estava vestindo calças jeans e um moletom amarelo, meu traje

habitual, e Horace vestia o seu terno preto de costume. Ele parecia seguir a escola de vestuário da srta. Peregrine: morbidez ultraformal, independentemente da ocasião. A foto dele estava entre as que eu encontrara no baú despedaçado e, numa tentativa de se "embecar" como sugeria o retrato, ele tinha exagerado completamente: cartola, bengala e monóculo, uma produção total.

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