Era um fim de tarde solitário em casa. Minha irmã havia saído com o namorado, e o meu, estava viajando com os pais. Observava os flocos de neve caírem vagarosamente e se acumularem na janela, a paisagem lá fora era a de um imenso lago congelado, onde casais patinavam submersos em felicidade, logo ao lado, crianças brincavam do que parecia ser uma guerra de bolas de neve. Daria tudo para, neste momento, estar nos braços de Lysandre enquanto ouço-o cantar mais uma de suas canções para mim.
Ouço o som da campainha no andar de baixo, grito um "Já vai" enquanto desço a escadaria. Olhando através do olho mágico da porta, noto o carteiro que em suas mãos segura um envelope, aguardando ser atendido. Abrindo a porta, sou recebida com um sorriso.
—Senhorita... — Checou o envelope para confirmar o nome. — Alice Hall?
–Eu mesma! — Digo retribuindo o sorriso.
–Assine aqui por favor. – Ele retirou da bolsa uma prancheta junto de uma caneta, entregou-os a mim que assinei sem hesitação. Após assinar o formulário de entrega, o envelope me foi entregue e o carteiro se dirigiu para o carro com o logotipo dos correios me desejando um ótimo fim de tarde.
Fechei a porta atrás de mim e corri rapidamente para meu quarto, lendo o nome do remetente, um sorriso brota de meus lábios; Lysandre. Dentro do envelope havia um CD junto a um cartão postal com a foto do Monte Fuji. No cartão, para a minha tristeza, apenas uma frase estava escrita naquela caligrafia caprichada.
"Toque o CD apenas após meia noite"
...
As horas passavam se arrastando, nunca o tempo foi uma tortura. Faltava cerca de uma hora para o horário das onze chegar, já havia lido e relido o cartão postal mais de cinquenta vezes, reparando em cada de talhe de cada letra da caligrafia de Lysandre, esperava algo mais, sobre como está sendo a viagem, o que ele fez de novo ou se escreveu novas músicas. Ele havia espirrado um pouco de seu perfume no cartão e me deleitava com aquilo, era algo nosso espirrar perfume em cartas que trocávamos, pois não importa o quão longe estejamos, teremos um pouco do cheiro um do outro para recordar.
Apesar da curiosidade ser grande, conseguiria aguentar pelo menos mais uma hora.
...
O horário das dez chegou junto de Wendy e Castiel, que faziam algazarra pela casa, provavelmente um pouco bêbados após voltarem do bar que costumavam ir quando saiam com alguns amigos.
—Ainda acordada maninha? — Wendy bateu em minha porta, os cabelos um pouco bagunçados e o rosto avermelhado.
—Recebi um envelope de Lysandre esta tarde, estou aguardando chegar certo horário para poder entender o que ele me mandou.
—O que tem meu brother? — Castiel apareceu, agarrando a cintura de minha irmã, também tinha o rosto um pouco avermelhado e os cabelos bagunçados, o que indica que, em algum momento, ambos devem ter se estapeado como costumavam fazer, bêbados ou não.
—Assunto meu e dele katchup. — Mostrei a língua pra ele que retribuiu o gesto.
—Nossa, como vocês são duas crianças. — Se desvencilhando de Castiel, Wendy corre pelo corredor gargalhando sendo seguida por ele. Ouço a porta do quarto no fim do corredor bater.
—Por favor, poupem-me o barulho e de ser tia cedo! — Grito me levantando e fechando a porta do quarto.
Me aproximei da minha mesinha de estudos, ligando o notebook logo coloco o CD para tocar. Era apenas áudio, nada de vídeo, novamente para minha infelicidade pois gostaria de ver Lysandre, mesmo que pela tela de um computador.
"Oi meu amor, sei que deve estar com saudades e louca para me ver, também estou e só nesta semana já gravei umas sete músicas só para você. Espero que goste."
A voz de Lysandre tinha o poder de fazer qualquer um flutuar nas nuvens, suas melodias são doces e agradáveis, assim como o próprio. Era como se ele estivesse neste exato momento aqui, cantando para mim, afagando meus cabelos com carinho.
Meu celular vibra trazendo uma nova mensagem.
"Venha até a varanda
—Lysandre"
Vou em direção à varanda de meu quarto aos tropeços, quando abro a porta da mesma, uma lufada de ar gélido do inverno me faz arrepiar e, logo ali em baixo, Lysandre me aguardava com uma pequena caixa de chocolates.
—Chocolates para minha dama. — Disse ele abrindo um enorme sorriso, escalou uma árvore próxima à varanda. — Gostaria de ter trazido rosas, mas o frio e acabaria com elas da mesma forma que está acabando comigo. — Ele ri, meio sem graça.
Eu o ajudo a pular a varanda e entrar no quarto para se esquentar, não vestia roupas apropriadas para o inverno rigoroso que estava, usava apenas um casaco não muito grosso e um cachecol. Enrolei-o em uma coberta e o abracei para ajudar um pouco mais.
—O que aconteceu que voltou mais cedo?
—Apenas estava com saudade de você e de casa, sabe que não gosto de ficar muito longe de onde cresci, principalmente se você está aqui me esperando cheia de saudade.
Um sorriso estampou meu rosto e o abracei com mais força, em seguida o beijando.
—Seus olhos... - Ele Interrompeu o beijo por um momento e me encarou com aquele olhar profundamente apaixonado - Um azul escuro feito o céu noturno, o brilho que eles têm são as estrelas... as quais formam constelações. — Me puxou para outro beijo, um beijo com mais paixão e desejo que o fez me puxar para mais perto, sentando em seu colo. — Seja minha esta noite ? — Seus olhos bicolores me encaram ansiosos por uma resposta.
—Nesta e em outras milhares.
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Um céu estrelado
RomanceAlice passa grande parte de seus dias em seu quarto, esperando a volta de Lysandre de sua viagem ao Japão, até que recebe um misterioso envelope com um CD e um cartão postal de seu amado.