Fábio, Luís e Jorge são meus amigos desde o começo do ano, e às vezes me diziam coisas que eu odiava ouvir como: "A Helena só quer cola", "ela só está te usando", "ela é mandona", "ela só liga para si mesma", ou seja, fatos que sempre neguei mas que agora são tão mais lógicos que me sinto leigo ao lembrar.
Durante o intervalo o assunto veio ao toque, os três estavam na conversa e Fábio disse: — Foi uma péssima escolha, porque ela é mais esforçada e te dá mais atenção —. A partir disso fiquei completamente desnorteado em relação às minhas escolhas. — Apunhalou a menina pelas costas, que ato de covardia — disse Luís a meu respeito, algo esperado depois de tantas verdades virem à tona. Jorge não se manifestou, enciumado estava antes da tragédia acontecer, agora pouco importa o que está rolando. Quão rude o ser humano inconsciente pode ser? Na verdade isso não teve um impacto totalmente negativo, muito pelo contrário, abriu as portas da verdadeira face oculta desmascarada pela reflexão. Mesmo tão tarde, veio no momento certo.
A tragédia ocorrida, acompanhada de uma ideia totalmente impremeditada, resultou numa escolha boba, levando em consideração o gasto em dinheiro. Helena gosta de chocolate, logo, desembolsei a grana necessária para obter uma doce barra de chocolate por um salgado preço. Na hora imaginei que seria uma ousada tentativa de refazer nossa aliança, porém não foi como planejado.
Primeiramente, fui mais cedo a escola. Ela chega por volta de 6 horas e 30 minutos, e nesse exato instante cheguei. Nenhum sinal. Mas lá estava Paulo, um novato da turma que demonstra interesse por ela em raros momentos. Estava no banco verde da praça, o mais próximo do portão de entrada da escola, Cumprimentei-o e fui para outro assento. Eu estava assustado pois durante meses via ela naquele banco sozinha aguardando a hora de entrar, e quando eu vinha mais cedo chegava de surpresa para alegrar suas manhãs. Primeira etapa da missão, fracassada. Hora do plano b.
No final da aula, peço a ela para conversarmos em particular. O convite foi aceito e o pedido de desculpa foi reproduzido. Desculpas aceitas desde o dia da insatisfação, isso me aliviou, mas o foco estava por vir. Na saída do portão, vou seguindo-a até seu ponto de transporte, estáticos estávamos, abri a mochila, revelei a surpresa. — Nossa, é o que eu mais gosto. Ah, não precisava — foi o que ela disse pouco tempo antes do seu transporte chegar, o ônibus branco com detalhes em vermelho da linha Rosas Transportes indo para a segunda rua do bairro Noia. A despedida foi breve, do "tchau" ao abraço com curto intervalo de tempo junto ao mais sensível tateamento diferencial de seu leve corpo.
Foi um instante que abriu as portas para o otimismo. Entretanto, mal sabia que era apenas passageiro e logo logo as coisas voltariam ao estado desastroso. Isso foi suficiente para desvendar o verdadeiro ego escondido em seu caráter, revelado aos pouco até chegar no principal ponto.
Transbordando de expectativas eu estava até o dia de aula chegar. Nenhum efeito favorável até então. Sou o fracasso em pessoa. Dias, semanas e meses se passaram, nada mudou. Há quem diga que o sucesso vem das apostas na vida, mas nem todas são justas.
Em resumo, digo que uma decisão foi feita, a contradição foi aceita e a insatisfação não será desfeita. Por mim Mikael Silva.
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A face oculta
Teen FictionA seleção faz parte do cotidiano, especialmente se você possui algo a mais. Segundas intenções são essencialmente complementares aos objetivos de certas pessoas. Mas a Marionete se dedica ao esforço sem notar que seu trabalho é apenas o que eles que...