Não foi sempre que eu fui como sou hoje. Eu era um poço de futilidade ao ponto de pegar a namorada do melhor amigo.
Por ter uma boa aparência e ter uma condição financeira um tanto mais privilegiada que a maioria dos outros caras, eu nunca tive problemas em ficar com a garota que eu queria, fosse ela solteira ou não. Se eu quisesse, eu conseguia. Simples assim.
Eu sei que todas as que aceitavam ficar comigo por esses termos eram tão fúteis quanto eu, mas eu não ligava. Eu só queria manter a minha imagem de popular, "o cara que pegava todas".
Eu me achava o máximo.
Por essa razão acabei perdendo boa parte dos meus amigos, e os poucos que ainda mantinham a amizade, era apenas por interesse, status. Outro exemplo de futilidade.
Isso tudo começou a mudar quando eu conheci Andressa. Ela era totalmente diferente de todas as garotas que eu conhecia. Ao invés de cair no primeiro papinho que eu dizia, ela me evitava. Sempre que eu tentava bancar o bom moço só para impressiona-la (como já havia feito outras vezes com outras garotas), ela ria da minha cara e dizia que eu era um idiota por achar que ela cairia naquela baboseira.
Ela me ignorou tanto que eu simplesmente fiquei intrigado demais para desistir dela. Eu simplesmente não queria saber de mais ninguém. Ela era quase uma obsessão para mim. De início, por motivos egoístas; eu queria provar para mim mesmo que eu era capaz de conquista-la. Depois isso mudou, eu realmente queria estar com ela. Ela havia me fisgado.
Chegou um ponto em que eu não aguentei mais e a interceptei enquanto ela caminhava sozinha pela rua e conversei com ela.
- Você de novo? – Perguntou, enquanto revirava os olhos.
- Me deixa provar que eu posso ser melhor que isso?
Ela pareceu surpresa, e pela primeira vez eu pude ver dúvida em sua expressão. Vendo que aquela era minha deixa, eu comecei a falar e coloquei tudo pra fora. Falei que estava disposto a mudar por ela, se ela me desse uma chance.
Para a minha surpresa, ainda que hesitante, ela aceitou, mas disse que antes de sair comigo queria ver a minha mudança.
Eu concordei.
Foi um longo caminho até deixar aquele longo percurso de babaquices para trás, mas depois de um tempo ela finalmente me aceitou. Acabou que não foi só um fica, mas quanto mais ela me permitia se aproximar, mais eu gostava dela.
Por fim, começamos a namorar e eu passava a ser o cara mais feliz do mundo.
Certa vez, eu convidei Andressa para acampar na floresta. Era um dia lindo e ensolarado de verão. O céu era uma linda tela azul com pequenos chumaços de algodão que eram as nuvens, complementando a paisagem, e as árvores nunca estiveram tão verdes. Um cenário perfeito para um piquenique à dois.
Nós caminhamos até a beirada de um lago onde armamos nossa barraca. Ficamos ali aproveitando o momento só nosso.
Eu levei duas varas e tentei ensina-la a pescar. Não fizemos lá uma boa pescaria, mas conseguimos pegar alguns peixes.
Quando a noite chegou, fiz uma fogueira e começamos a assa-los, mas também havíamos levado outras opções, só por precaução.
- Que bom que trouxemos marshmallow e linguiça. – Comentou Andressa, tentando segurar a risada. – Se dependesse da nossa pescaria nós passaríamos fome.
- Ei! Não foi tão ruim assim.
- Foi sim. – Conclui ela, finalmente soltando a risada que estava contendo até então.
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Pássaro Negro
Short StoryTodos merecem uma segunda chance, o direito de mudança, de tentar ser uma pessoa melhor. Isso é uma coisa boa e necessária. Mas não se iluda; uma segunda chance não significa que seu erro foi esquecido.