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Está tudo bem. Está tudo bem. Está tudo bem. Eu repetia o mantra mentalmente enquanto caminhava ao lado de Morgana, em direção ao pátio onde iriamos encontrar os nossos respectivos jogadores, depois do pequeno intervalo que tivemos. O mantra não funcionava, minha mão coçava o que deduzi ser vontade de estalar meus cinco dedos com precisão no centro da cara do homem.

- Os jogadores que ficaram com a minha turma podem se juntar a nós aqui. - fui tirada dos meus pensamentos pela voz grossa do professor Ortega.

A sensação de ser observada ainda pairava sobre mim. Levantei os olhos e o encontrei novamente caminhando em nossa direção, sem tirar os olhos dos meus, com a expressão dura, as mãos estavam dentro do bolso da calça. Sustentei nossos olhares esperando que a cara dele queimasse, acabando com aquele circo, mas nada mudou.

O grupo dele se juntou a nós. Meu corpo retesou quando vi ele esticar o braço para comprimentar Ortega.

- Nossas alunas, Isa e Morg. - o professor nos apresentou, apontando para nós duas. - Elas acompanharão vocês hoje.

Me limitei a sorrir em cumprimento, torcendo de coração que aquilo evitasse um aperto de mão. Mas pelo visto não foi o suficiente quando me peguei apertando a mão de Lucas Vázquez, Varane e outro que se apresentou como Isco.

- Mas que porra. - falei em português quando vi a mão de Toni esticada em minha direção.

Ele não tem senso, não?

- Olha a boca, mocinha.

Escutei uma voz masculina falar na mesma língua que eu, ao meu lado. Me virei rapidamente para encontrar o dono dela. E para a minha surpresa e alívio, era o Casemiro.

Notei que minhas mãos estavam molhadas de suor, só pela menção de tocar em Toni outra vez. Me apressei em passá-las discretamente em minha saia para que secassem.

- Isa. - estendi minha mão para ele, ostentando o melhor sorriso que eu consegui colocar em meus lábios. Na verdade, estava tentando fingir que conseguia ignorar o homem que estava próximo a nós.

Ele apertou minha mão devolvendo o cumprimento, sorrindo pra minha mão.

Evitei procurar o olhar que continuava tentando me desvendar, mas olhei Morgana por cima do ombro, passando um recado explícito: vem comigo que é sucesso.

- É muito bom receber nossos conterrâneos aqui. - disse minha amiga empolgada estendendo a mão para o jogador brasileiro. - Morg.

Ele acenou rindo, enquanto se cumprimentavam.

- Então, vocês são de que lugar do Brasil? - questionou em inglês para incluir todos.

Eu não queria incluir todos.

Estava tentando ao máximo não olhar para Toni, mas consegui ver claramente que ele ficou atento ao nosso assunto, o que me deixou estranhamente ansiosa. Ele queria saber sobre mim?

- Somos de Minas. - Morgana respondeu também em inglês. - Belo Horizonte, precisamente.

- Atlético ou Cruzeiro?

- Atlético.

- Cruzeiro. - Morg responde o jogador.

Casemiro nos olha com a sobrancelha arqueada antes de cair na gargalhada, consequentemente nos fazendo rir também.

- Vocês são como Toni e eu. - Casemiro fala apontando para o amigo.

Porra, Casemiro! A conversa estava fluindo tão bem. Why?

- Eu jogo pela Seleção Brasileira, ele pela Alemã.

Nesse momento realizo que Toni e os outros já estão inseridos na nossa rodinha. Que bela merda. Será que ao menos ele poderia parar de me encarar como se eu fosse um ET? Ele que era a coisa estranha ali.

Aqueles OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora