POV - Fernando HaddadPois bem, aceitei o convite de Ciro para esticar a noite.
Clóvis Mattos mandara fechar a boate mais cara da cidade exclusivamente para as comemorações da sobrinha.
Já eram altas horas e só me abalei a ir até o outro lado da cidade porque minha consciência pesava.
Haviam duas filas na calçada, de onde já se ouvia o som alto.
Antes que eu me encaminhasse a uma delas, uma promoter de salto altíssimo e sorriso engessado veio me cumprimentar.
" Dr. Haddad, boa noite. Não é para o senhor ficar na fila. Dr. Ciro Gomes o quer no camarote vip." - Explicou, pedindo licença para pôr uma pulseira fluorescente em meu punho.
Solicitou que a acompanhasse até o elevador panorâmico. A segui pela penumbra da pista, aliás bem agitada aquela hora.
" Bom divertimento." - A funcionária me desejou, indicando que entrasse na estrutura toda em vidro.
Tão logo as portas se abriram, já na entrada me deparei com um casal de costas para mim, a garota no colo do cara, se esfregando nele lascivamente, os beijos ressoando alto, entremeados de gemidos suaves.
Não foi difícil adivinhar quem eram.
Como não era de segurar vela, pigarreei para chamar a atenção. A menina tirou a boca da do cara e me fitou com ar de enfastio e o batom borrado." Aí, Painho, seu homem chegou."
Lavinia trocou o vestido azul de bonequinha por um tubinho de renda vermelho brilhante, que subiu tanto que quase podia lhe antever a calcinha. Ela transpirava a sensualidade, numa energia sexual tão forte que me senti tolhido.
" Oxe, e eu lá tenho homem? Me respeite, cabrita !" - Fingiu zanga, Lavinia deitou a cabeça em seu ombro, notavelmente embriagada.
Super sem graça - Sobrando ali ! - Com as mãos nos bolsos, falei a que vim.
" Eu vim em paz. Precisava me desculpar, Lavinia. As coisas que eu lhe disse não se dizem a nenhuma mulher. Vai contra tudo no que acredito. Aquelas moças não são mais bonitas do que você." - Disse com sinceridade.
Ela me lançou um olhar enigmático. Fui incapaz de dizer se a estava agradando ou não. Mas tive a resposta pra essa pergunta logo em seguida. A jovem desenganchou as pernas dos quadris de Ciro, sentou-se de lado e ajeitou a saia, pondo-se um pouco mais decente.
" Deixa baixo. Eu também fui bem escrota. É um homem bom e decente. Quando assumir, vão tentar tirar isso de você e moldá-lo aos interesses não do povo, mas do PT. Se não entrar no jogo, se não obedecer como um cãozinho treinado, se tornará a nova Dilma. Vão te execrar e depois descartar em dois tempos."
Fiquei atônito um segundo.
Ciro fez um meneio positivo - " Lavinia tem razão. Você está no lugar errado." - Concordou, a abraçando por trás.
Era a segunda bofetada da noite, e essa doeu mais. Alcancei a poltrona à sua frente, tentando não baixar o nível, retruquei.
" E o que a senhorita entende de política? A sério mesmo, cientificamente, não na base de achismos?"
Tomou fôlego antes de responder, passando a mão pelo cabelo longo lustroso.
" Veio em paz, certo? Eu também não quero briga." - Ponderou, erguendo as mãos. - " Não é segredo para nenhum dos senhores que quem realmente manda na política são os donos do dinheiro desse país."
" Mas eu não estou à venda !" - Exclamei, já me exaltando, e saltei do meu assento. - " Eu nem deveria ter vindo !"
Serena e indiferente a meu achaque, continuava me mirando de um jeito intenso. Me senti despido, devassado por aqueles olhos verdes. Não achava aquilo certo. Ela era mais nova do que minha caçula.
" Claro que não está à venda. Um homem como você não tem preço. Mas precisa do apoio das pessoas certas." - Umedeceu os lábios com a língua.
Fui baixando minha bola, voltando a meu lugar na poltrona macia. Calado, as mãos cruzadas, tentando deglutir o que acabara de me ser dito.
Não acreditava que Lula e o PT pudessem me jogar fora daquela maneira.Ciro tirou a moça de cima de si e ficou de pé.
" Então, Fernando, pode não parecer, mas eu também estou aqui a trabalho." - Gesticulou, estalando os nós dos dedos. - " Tenho de tratar um dedinho de prosa com umas pessoas aí, tu não poderia me dar uma olhadinha na Lavinia? Ela tá meio altinha e não quero a deixar solta por aí, já tou legal de confusão com o Mattos !"Gaguejei, articulando uma desculpa convincente.
" Pô, cara, é que eu já tou de saída..." - Tirei o corpo fora. Queria distância daquela alucinada. Ela era bem capaz de se jogar em cima de mim. Era um homem fiel, mas a carne é fraca e eu preferia não dar sorte pro azar.
" Não vou demorar." - Disse e sumiu para dentro do elevador. Suspirei, resignado.
Eu era professor e não babá de crianças grandes - E mal comportadas.
" Vou pedir um drink para nós." - Lavinia murmurou. Ante minha cara de apreensão, ela sorriu, tocando-me o joelho. - " Relaxa, advogato. Eu não mordo. Só se você quiser..." - Insinuou.
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Beijo Triplo - Haddad + Ciro + Personagem Original
FanfictionNos bastidores da política brasileira, poder, dinheiro e prazer ditam as normas do jogo. Em meio a reta final da campanha eleitoral, os amigos Ciro Gomes e Fernando Haddad se envolvem em um triângulo amoroso com a sobrinha de um rico empresário. Por...