Caminhos

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Muitos passos caminham em direção aos seus destinos, muitos em silêncio, andando distraídos, entretidos com as conversas nos seus celulares ou nos seus jogos recém-baixados. Muitos estão com a sua turma conversando e eu aqui, caminhando para meu destino em meio a essa multidão de variadas pessoas de todas as idades e pensamentos diversos. Talvez quando você me vê caminhando, nem perceba as cicatrizes que a vida me deixou, você me vê bem vestido porque não sabe os trapos em que eu andava, você me sente perfumado porque não se lembra quando se desviava de mim nos caminhos dessa cidade.

Não importa para onde vou e nem mesmo onde cheguei, o que importa mesmo é como foi que cheguei lá. Talvez você já deva ter chegado a conclusão de quem era, e isso é bom, porque não precisarei explicar muito mais do que já descrevi para vocês.

As noites são tão duras quanto o gelo do Ártico que dizem que é eterno, assim são algumas noites gélidas (tanto do calor humano, quanto de algo que poderia nos aquecer), talvez você não se importe, quando tudo que precisava era de um jornal para me aquecer ou até mesmo um cobertor, mas a melhor parte era encontrar a humanidade perdida em meus amigos companheiros de rua – uma família surge onde menos esperamos. Quando a noite acabava, podíamos contemplar o alvorecer tingindo o céu e anunciando que o sol iria começar a brilhar e nos aquecer.

A mudança ou parte dela começa quando começo a caminhar pelas ruas e observo um prédio bonito, e vejo que era uma biblioteca: "Estranho uma biblioteca tão bonita assim, faz tanto tempo que não leio alguma coisa". Quando entrei tinha algumas pessoas, e como queria buscar algo e não sabia o quê, fui até as estantes procurar algo que pudesse me dar algum conhecimento. Encontrei um livro chamado "A Resposta" de Kathryn Stockett, que narrava a história de empregadas domésticas negras da década de 60 que, com a ajuda de uma jornalista branca, escreveram um livro narrando as humilhações sofridas por elas na casa de suas patroas em plena época de reivindicação dos direitos civis. Gostei e me sentei para ler; depois de algum tempo, uma moça veio me perguntar:

— O senhor está gostando da leitura?

— Estou sim.

— Caso precise de alguma coisa ou queira levar este livro emprestado, é só falar comigo.

Que estranho, por que ela estava falando comigo, pegar emprestado um livro? Por que eu faria isso? Bibliotecária estranha, porque ela não me tratou como as outras pessoas? Com a indiferença que ela deveria me tratar e até mesmo me expulsar, já que poderia incomodar as outras pessoas que estavam naquele ambiente. São perguntas que me fazia, mas hoje posso entender um pouco a postura dela, pois ela me indicou outras leituras com o passar do tempo e sempre me ajudava quando podia, e assim fui adquirindo mais e mais informações úteis que me ajudaram de alguma maneira, e a estar caminhado agora bem vestido rumo ao trabalho, completamente diferente. Talvez você fique curioso para saber como uma bibliotecária pôde me ajudar a sair da minha condição, algum dia conto esta parte da história, mas por hora fica o que ela sempre me dizia: "Leia sempre que puder, o que você puder, adquira conhecimento, pois na rua podem te tirar tudo, seus cobertores, seus pertences, mas jamais poderão tirar o seu conhecimento, isso meu amigo, permanecerá com você para sempre".

CaminhosWhere stories live. Discover now