Prólogo

874 66 75
                                    

Ele desligou o computador e se sentou ao lado da garota de cabelo azul, ainda havia um pouco de pipoca no pote, o filme era bom mas nada tirava sua ansiedade, passou a mão no bolso novamente sentindo as alianças, ia pedi-la em namoro, já estava passando da hora.

— Então esse foi o filme filosófico da noite?— Ela riu se sentando

— Eu não ia deixar você colocar Donnie Darko de novo. — Pegou o pote de pipoca— Quer mais? 

— Não, mas quero meu açaí!— Ela se sentou na cama prendendo o cabelo em um rabo de cavalo

— Fazem dez minutos que eu pedi, acalme-se. — Colocou o pote de pipoca em cima da cômoda e andou até ela, a encarando — Eu queria falar uma coisa... É que... sabe... meio que...

— Você sabe que pode falar qualquer coisa! — ela o puxou para cima da cama, enquanto encarava o rosto dele — Você é bonito, já falei isso hoje? 

Ele riu e a beijou, as mãos dela rapidamente tocaram a barra da blusa dele, a puxando para cima e ele fez o mesmo, rindo ao ver o sutiã rendado que ela usava, ela chegou a sua calça, estava prestes a tirá-la, mas ele parou, se tirasse a calça, certamente as alianças que estavam no bolso iam acabar indo para algum lugar do quarto e nunca mais seriam encontradas.

— Eu acho melhor ir com calma hoje.

— Claro. — Ela riu, vendo — o rolar para o lado da cama — O que foi? 

— Tenho uma coisa para te falar e eu preciso que você preste atenção em cada palavrinha que eu disser. — Os dois se sentaram na cama

— Ok.

— A gente se conhece a bastante tempo, muito mesmo, e passamos por um bocado de coisa juntos, nós sobrevivemos ao ensino médio… — Ele riu

— Cá entre nós, as pessoas que tinham que sobreviver a nós. — Ela piscou

— E aquela merda toda, dois anos. Dois anos... a gente era tão diferente... Acho que não dava pra nem pensar nos dois aqui, nesse momento....

— Éramos somente, Diego, o fornecedor de bebidas para as festas e Sofia, a pequena patricinha tapada. — Sofia respirou fundo — E nós perdemos o nosso grupo, as amizades foram desfeitas e a Mara se foi.

— Parece tão distante e é por isso que eu quero te pe... 

Batidas na porta. 

— Nossos açaís. 

— Eu já volto, não saia daí.

Diego sorriu e se colocou em pé, vasculhou a cômoda atrás da carteira, separou o dinheiro, eles estavam sozinhos na casa do rapaz, os pais já haviam se separado a um bom tempo, sua mãe estava estava na casa de uma amiga e só voltava tarde, era o momento perfeito para um pedido de namoro.

— Já to indo! — gritou ao ouvir a batida insistente na porta 

Correu e abriu a porta, estranhamente não era o entregador.

— Oi, com quem você quer falar? Minha mãe não tá aqui.

— Sofia...— sussurrou lentamente 

— Ela tá lá dentro...— ele analisou a figura desconhecida, era menor que ele, o rosto encarava o chão, usando capuz e se vestia totalmente de preto, mantendo as mãos escondidas atrás do corpo — Se quiser deixar algum recado, eu falo com ela... Mas se for urgen...

Diego mal viu quando a faca cruzou o ar e acertou sua barriga em cheio, o rapaz não emitiu nenhum som, apenas levou a mão a barriga quando a faca foi retirada, ele cambaleou para trás e acabou dando espaço para que aquela pessoa passasse, ainda com a faca em punho, se virou novamente para Diego acertando uma nova facada, o rapaz caiu com um baque no chão. 

— Diego? — o chamado de Sofia pode ser escutado do quarto — Tá tudo bem aí? 

O assassino se virou para Diego encarando o rapaz que tentava se pronunciar mas apenas engasgava com o próprio sangue, e fez sinal de silêncio para ele antes de começar a correr em direção ao quarto.

Sofia estava deitada de bruços sobre a cama, enquanto mexia no celular, trocando mensagens com as amigas, não percebendo a sinistra aproximação, o assassino chegou perto da cama, levantando a faca ensanguentada e tossiu para chamar a atenção da garota.

— Diego...— ela se virou e logo seus olhos se arregalaram, soltando um grito estridente 

A figura moveu a faca rapidamente, acertando a perna de Sofia, a garota se debatia tentando se salvar enquanto gritava por Diego, a faca foi aprofundada ainda mais, ela sentiu a mão enluvada agarrar sua outra perna e foi puxada com uma força brutal para perto do assassino, a lâmina da faca rasgou sua pele, o sangue jorrava para fora, subindo em cima dela, uma das mãos agarrou o pescoço de Sofia e a outra arrancou a faca, levantando-a na direção do peito da garota.

Sofia ainda não tinha desistido, usou as mãos para tentar se livrar da morte certa, se debatendo com ferocidade mas não era suficiente. A faca foi cravada em sua barriga, a dor era profunda, o metal gelado saiu com a mesma rapidez que havia entrado, a faca foi cravada mais algumas vezes, formando vários cortes espalhados pela pele da moça, Sofia deixou os braços caírem em cima da cama, praguejou algo em meio a dor, emitindo um chiado indecifrável e passou a engasgar com o próprio sangue, parando logo em seguida, sem vida.

Tendo a certeza que a garota estava morta, o assassino segurou a mão sem vida e a espalmou na cama, mirando sua faca afiada no dedo mindinho de Sofia, puxou um saco plástico de dentro do bolso e guardou aquilo como se fosse uma peça rara de museu, se levantou de cima da cama indo em direção ao corpo do rapaz no chão, estava prestes a passar direto por ele.

Diego soltou um enorme chiado, trazendo a atenção do assassino para ele. Do bolso da blusa de frio, a figura puxou outro pequeno saco transparente, novamente a faca brandou pelo ar e acertou o mindinho do rapaz, que urrou de dor enquanto o sangue jorrava pelo buraco do dedo que faltava, guardado o dedo, o assassino voltou sua atenção ao rapaz no chão, com a faca, apontou para a garganta de Diego e então fez um corte na horizontal, o sangue voou para as proximidades, incluindo a roupa do assassino, que pouco se importou. 

Sofia e Diego estavam mortos e a figura de preto apenas se levantou e deixou a casa, nem ao menos se importando em fechar a porta. Saiu, como se nada tivesse acabado de acontecer.


Laços da DiscórdiaOnde histórias criam vida. Descubra agora