Capítulo 08 - Por Manuela

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Ouvindo Clara tagarelar mais do que o normal, narrando toda a história por trás daquela briga com o John e também sobre o tal de Andrew, estaciono na primeira vaga que vejo livre e ambas saímos do carro, em direção ao supermercado.

– Então, quer dizer que a culpada de tudo foi aquela garota? – pergunto, apanhando um carrinho, e a minha amiga consente – Eu teria dado na cara dela!

– E você acha que não faltou vontade?! – retruca, aborrecida – Só que, infelizmente, tive que segurar as mãos ao lado do corpo. Sei que ela não teria coragem de contar, mas o que eu menos precisava era de uma acusação "anônima" de que esbofeteei uma aluna. Sem falar que John e eu poderíamos ser descobertos.

– Bem, de qualquer forma, você conseguiu colocá-la no devido lugar, ameaçando levar as autoridades o tal papel que a mãe dela assinou para que pudesse abortar.

– Sinceramente, Manu, eu espero que isso sirva para alguma coisa. Mesmo que eu tenha tocado na ferida, se a Scarlett foi capaz de fazer tudo o que fez, temo que ela seja capaz de cometer qualquer besteira. Independente das consequências.

– Olha, eu duvido muito. – jogo uma caixa de cereal dentro do carrinho – Se você, por um acaso, levar a ameaça adiante e entregar o documento para a polícia, não é apenas essa cretina da Scarlett que sairá prejudicada. Imagina o escândalo que vai ser para a família dela?! Além disso, com certeza essa história acabaria vazando para o colégio.

– Falando dessa forma, até parece que eu sou uma grande filha da puta por ameaçá-la, sabendo tudo o que pode acontecer. De qualquer forma, não penso em levar isso adiante. Eu só quis assustá-la para que não faça mais esse tipo de coisa.

– Vamos lá, amiga. Sem crises de bom samaritanismo, okay?! Lembre-se de todas as coisas horríveis que aquela sujeitinha fez e todo o sofrimento que causou ao John e, principalmente, ao pobre do Andrew.

– 'Tá bem, 'tá bem. – ela respira fundo.

– Eu te conheço bem para saber que não vai fazer nada sem uma boa razão, se fizer. Assim como eu sei que você não vai simplesmente.... O que está escrito aqui?

Aponto para a pequena lista de compras em minha mão, a qual foi escrita por Clara e a sua letra que mais parece inscrições egípcias.

– Sabão em pó, oras.

– Aqui pode estar escrito qualquer droga, menos sabão em pó. – aperto os olhos, tentando distinguir as palavras – É sério. Às vezes, eu me pergunto como você pode ser professora com um garrancho desses.

– Eu só escrevo dessa maneira quando estou com pressa. – defende-se, arrancando o papel de mim – E a senhora praticamente me chutou para o mercado. Não me admira a lista estar assim, se eu tive que escrevê-la às pressas dentro do carro.

– Que seja! Ainda é um garrancho.

– Enfim. – ela suspira – O que você dizia?

– Ah, sim. Eu dizia que a conheço bem o suficiente para saber que não vai simplesmente se beneficiar disso para coagi-la. Quer dizer, se fizer algo.

– Óbvio que não. Sou ruim, mas nem tanto.

Nós nos olhamos e rimos. Ambas sabemos que a sua pose de durona é só fachada.

Ou nem tanto assim.

– De toda essa história, o que realmente me preocupa é o Andrew. – Clara volta a dizer – O Johnie e eu já estamos bem. A inescrupulosa da Scarlett, bom, também já teve o que merecia. Mas o Andrew... Aaahh... Eu preciso ficar de olho nele.

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