47: Melissa

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- Quando é que você iria me contar? - perguntou ele gritando.

Eu me encolho assustada com o seu tom de voz alto, mas ele nem percebe. Ou se percebe ignora-me por completo.

Droga, droga, droga!

Zayn está andando de um lado para o outro da pequena sala de estar da minha casa, visivelmente tenso e preocupado. Ele passa as mãos no cabelo, a carranca no belo rosto, e bufa com impaciência.

- Ok. – ele diz – Deixe-me ver se entendi.

Anuo rapidamente e ele continua:

- Você se inscreveu em uma faculdade em Washington, sem eu saber, e passou. Agora está me largando. É isso?

- Não, não é nada disso. – levanto-me do sofá e vou até ele que dá um passo para trás fugindo do meu toque.

Uau, isso doeu!

Ele faz uma carranca e assume uma postura firme.

- O que é então? – indaga ele rispidamente. – Pois, até agora, parece que você está me punindo por algo que eu nem sei o que é.

Engulo em seco, nervosa, e respondo:

- Eu vou estudar inglês porque é o meu sonho, não é para te punir.

- E nós dois, como é que fica?

Ele cruza os braços e infla o peito, parece que está duas vezes maior do que o normal.

- Continuamos normais, ué. – balanço os ombros – Você pode sempre ir me visitar no apartamento que irei dividir com um amigo e eu posso sempre ir te ver.

- Não! – ele ruge alto – Eu não namoro a distancia.

- Você também não namorava, lembra? – eu digo fazendo-o se lembrar e ver se, pelo menos com isso, amoleço o seu coração.

- É verdade. – ele ri ironicamente – E olha no que deu quando eu tentei.

Ouvi-lo referir-se a nós dois no passado faz com que o nó em minha garganta aperte, quase impedindo-me de respirar.

- Ah, para de drama Zayn! Eu vou para faculdade e ponto.

- O quê? – ele põe as mãos na cintura, a testa cheia de vinco.

- Eu vou para a faculdade e ponto. – repito pausadamente gesticulando com as mãos.

Ele dá um risinho sem emoção e posso ver os milhares de sentimentos cruzarem seu rosto, Zayn volta a andar pelo lugar. Anda, anda e anda. Até que se vira para mim e diz:

- Certo, e o que você sugere que façamos? Quanto tempo você acha que o nosso lance ia durar? Humm? Um mês? Uma semana? – seu olhar é glacial e me faz tremer de frio.

- Esse negócio de distancia é bobeira. A gente pode conseguir se realmente quisermos.

- Não, claro que não. – ele diz sacodindo os ombros – Quer saber de uma coisa? Se você for para faculdade, é o fim. O nosso fim. Não iremos mais ficar juntos.

Sinto-me tonta e enjoada. Eu me sento no sofá e afundo o rosto nas mãos, pensando em alguma resposta para persuadir Zayn que, nesse momento, parece irrevogável. Parece que todo o oxigênio do planeta desapareceu e respirar acaba tornando-se uma tarefa difícil, quase impossível. Fico ali, sentada por um momento, sem reação, tentando digerir o que havia acontecido.

Pensa, pensa, pensa...

Estou exausta, cansada demais de nossas brigas e mais brigas. Parece que estou andando em círculos.

- Então é assim que acaba? Não vai nem tentar? Todos os beijos, abraços e as noites de amor foram em vão?

- Esse é o meu veredicto. – ele fala erguendo o queixo, todo autoritário. – Ou eu ou essa faculdade de merda. A escolha é sua.

Essas palavras acabam comigo mais do que qualquer outras que já ouvi ao longo da minha vida.

Respiro fundo e levanto-me. O que estou prestes a fazer vai doer muito em mim, mas, não vou abrir mão dos meus sonhos, minha felicidade, nem por Zayn e nem por ninguém. Caminho, lentamente, até a porta e o encaro.

- Namoro é a dois. Os dois correm atrás, os dois tentam, os dois pedem desculpas... E, se você está me fazendo escolher um só, está errado. Você deveria ficar feliz que estou, finalmente, realizando o meu sonho e não me atacar com paus e pedras fazendo-me escolher entre você e a faculdade. Sabe de uma coisa, Zayn? Eu te amo. Intensa e profundamente, juro. Mas, pelas suas atitudes e escolhas, vejo que não é recíproco. Você não me ama, você quer ser o meu dono.

Ele abre a boca para dizer algo, então balança a cabeça, mudando de ideia e me encara. Vou até a porta e a abro.

- Vá embora Zayn, por favor. – peço mirando o chão.

- O-o quê? – ele pergunta confuso.

- É isso, a minha escolha. Eu escolho a minha felicidade e se você não está disposto a viver ela comigo, vá embora.

Seu semblante de raiva de desfaz quando ele se dá conta do que me fez escolher. Zayn fica parado me encarando por um momento, atônito. Seus ombros, antes petulantes, desabam em sinal de derrota, seus olhos estão opacos e sem vida. Sinto o peso esmagador de minha decisão em meu peito, fazendo tudo em mim doer. Pela maneira com ele enrije o seu corpo empalidece, presumo que, finalmente, caiu na real. Meus olhos se prendem aos dele, meu coração bombeando rapidamente o sangue em meu corpo, minhas mãos suando frio. Expiro longamente, tentando manter a calma que eu não sinto.

Então é isso. É o fim.

Ele passa pela porta e se vira, com uma expressão abatida, e, antes que possa dizer qualquer coisa, bato a porta em sua cara e subo correndo para o meu quarto.

Louco por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora