Prelúdio

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São Paulo, Brasil - início do século XXI

A primeira vez aconteceu em um ônibus, eu estava embriagado mas a sensação era irresistível mais forte que qualquer autocontrole meu.

Encostado no encosto do assento, de olhos fechado e a mente vagando, eu senti o repulso do meu corpo, não do meu corpo, mas da minha alma, do meu Ser.

A sensação era inebriante e me dominou tão de repente quanto chegou, nem ao menos percebi o que tinha acontecido, se eu estivesse de olhos abertos diria que durou menos de um piscar de olhos.

Eu simplesmente me deixei ser levado pela correnteza, foi neste exato momento em que eu senti a falta de ar, essa seria minha acompanhante durante todas as minhas viagens.

Eu nunca entendi como isso acontecia, nem para onde iria me levar, mas sabia que duraria mais lá do que aqui, tinha a mesma certeza de quem se tem um sonho lúcido, a certeza de que era apenas um sonho.

A sensação me abateu.

Quando tornei a abrir meus olhos, eu já não estava mais no ônibus, estava no meio de um salão de festas antigo. Pessoas com trajes formais dançavam a meu redor, todas muito sorridentes e alegres, eu também estava sorrindo, mas eu senti a tristeza avassaladora que abatia aquele corpo. "Aquele", porque desde o início das viagens, eu tive a consciência de que aquele corpo não era meu.

Eu era apenas um convidado, e convidados não ditam as regras, eles a seguem ou são expulsos, mas isso eu aprendi com o tempo.

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