Mais uma chance

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 Em um belo dia de segunda-feira, estava eu na fila de acesso da empresa onde trabalhava, sem saber o que o destino me reservava. Era encarregado no setor de manutenção e ganhava um salário até que razoável, nunca faltava sem motivo e sempre fui considerado um ótimo funcionário. Gostava de ajudar toda minha equipe, tínhamos um clima bem tranquilo.

Com o passar do tempo minha família foi aumentando junto aos gastos, meu orçamento já não estava ajudando em casa. Meu filho mais velho estava fazendo o exército e pensei que assim que ele terminasse podíamos procurar um emprego para que ele pudesse ajudar.

Após um ano segurando as contas com muita dificuldade, meu filho terminou o exército e começamos a procurar um emprego. Pensei na possibilidade de conseguir uma vaga na empresa onde trabalhava, mas naquele momento não havia nenhuma em aberto para indicar. Parecia impossível conseguir, mas continuei tentando achar uma possibilidade de colocá-lo lá. Os dias se passaram, e nada, acabei sendo vencido pelo desgaste.

Depois de um dia inteiro de trabalho, fui para casa e após um banho sentei em frente ao telefone e fiquei pensando em como iria conseguir um emprego para meu filho. Até peguei no sono devido ao cansaço, quando acordei já era de manhã, tomei meu café e fui para empresa disposto a fazer qualquer coisa pra conseguir um emprego para meu filho.

Foi daí que tive a ideia de perturbar um funcionário do meu setor, tudo que ele fazia eu colocava defeito mesmo sendo perfeito o trabalho dele e foi assim em vários meses. O mais interessante foi que ele nem se importava com tudo aquilo, estava sempre sorrindo e não ficava bravo com nada. Os meses se passaram e nada de conseguir irrita-lo, cheguei até a colocar peças na bolsa dele para que fosse demitido por furto, mas nada resolveu, ele sempre devolvia, em fim foi uma luta perdida.

Pela manhã peguei meu carro e fui trabalhar pensando que naquele dia daria certo meu plano, quando me dei por mim acordei em um quarto de hospital. Fiquei sem saber o que tinha acontecido, só conseguia ver os médicos e enfermeiros em volta da cama que eu estava deitado com muita dor em meu corpo. Fiquei vários meses no hospital sendo alimentado por sonda, foram terríveis meses. Quando recebi alta do hospital e os médicos me avisaram que minha família teriam que cuidar mim, mas pelo que me contaram fui abandonado pelo grande trabalho que daria a eles. Minha família não suportou ver minha situação sempre deitado e dependendo de aparelhos para sobreviver. 

 Chegando em casa peguei o telefone, mas não lembrava de ninguém para ligar. Fui até minha cama onde abri a lista e fiquei sem saber o que fazer, notei que tinha um número marcado com a seguinte frase "Sinto muito", achei estranho mas não lembrava de nada. Resolvi ligar e pedir ajuda, pois não tinha outro jeito. Liguei para o número onde um homem me atendeu dizendo que era meu colega, pedi ajuda e expliquei o que havia acontecido sobre o acidente e minha família.

O rapaz sem pensar muito se prontificou e rápido foi até a minha casa, fiquei contente pois achava que já não tinha mais ninguém por mim. Pedi que entrasse, e ele me perguntando o que poderia fazer por mim, mostrei minhas dificuldades e o homem me ajudou o dia todo, me disse que era folga dele no trabalho e sempre que folgasse estaria lá para me ajudar.

Fiquei muito agradecido, pois não poderia recompensar tamanha gentileza, já com mais liberdade, perguntei onde ele trabalhava mas ele ficou em silencio. Não liguei, pois o que me importava era que ele estava lá me ajudando. Os dias foram se passando e ele sempre indo em minha casa para me ajudar. Depois de várias semanas, eu já estava bem melhor, me alimentando sozinho. Ele percebeu minha melhora e foi diminuindo suas visitas, me lembro que no último dia que o vi, ainda perguntei de onde ele me conhecia.

O rapaz me deu um abraço e me disse que trabalhava na mesma empresa onde eu estava empregado antes do acidente. Depois disso não o vi mais, fiquei vários dias esperando-o, mas nada. Fiquei preocupado, fui ao telefone para ligar novamente para ele, e li aquelas palavras de novo "Sinto muito". Fiquei intrigado com aquilo, mas até hoje não consigo entender o porquê dessa frase.

Voltei a trabalhar na mesma empresa depois de meses em recuperação, perguntei sobre o rapaz que me ajudou e me informaram que ele havia sido demitido, fiquei triste por ele, pois era uma pessoa muito boa e não merecia isso. Todos os dias acordo e vejo aquela agenda sem entender nada e sinto que tem alguma coisa relacionada com o meu passado e ações que não deveriam ter sido feitas antes do acidente.

"Só estamos de passagem aqui, e não sabemos o dia que iremos embora, por isso devemos tratar bem o nosso próximo como gostaríamos de ser tratados, pois não sabemos o dia de amanhã."

Escrito por Angelo Reda Filho

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⏰ Last updated: Nov 17, 2018 ⏰

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