Bip... Bip... Bip...
O som do aparelho ecoava por meus ouvidos até encontrar o meu coração.
Há tempos aquele quarto branco e o cheiro horrível de álcool haviam me entediado.
Já havia me cansado de tudo aquilo.
Da minha família alimentando falsas esperanças, das enfermeiras e suas frases de motivação, e o pior, dos milhares de remédios que me obrigavam a tomar, mesmo que eles já não fizessem mais efeito há muito tempo atrás.
Aquilo não era vida.
Aquilo não era morte.
Aquilo era o verdadeiro purgatório.
Lembro-me de todos os caminhos que trilhei até aqui.
Das brincadeiras de criança, das amizades que se diziam eternas, dos amores esquecidos, dos meus lindos cabelos vermelhos, de todos os sonhos realizados e dos que certamente não irão se concretizar.
Lembro-me de todas as noites que dormi naquele hospital, da mesma frase que fiquei repetindo por horas, após a morte de minha avó.
" Queria um mundo sem sangue, para que as pessoas não morressem quando o perdessem. "
Mas ele não ligava para isto, apenas apareceu em sua forma negra, sem dizer uma palavra e a levou, assim como levou muitas outras pessoas da minha vida. E agora, ele se recusa a me conceder a paz que tanto almejo.
Lembro-me daquele dia.
Do fatídico dia em que fui diagnosticada com esta doença.
Preferia a morte, do que viver está vida que não é uma vida.
Já disse isto a ele, mas como sempre, ele se recusa a me ouvir, somente fica parado, me olhando enquanto sofro com as fortes dores que parecem nunca cessar.
Enquanto eu imploro para que ele faça algo.
Enquanto eu imploro para que tudo isso acabe.
Mas hoje foi diferente, ele não apareceu próximo a janela como sempre faz.
Ele estava ao meu lado.
Estendeu suas mãos para me ajudar a descer daquela cama e me guiou até a janela.
E eu pude observar o maravilhoso véu da noite cobrindo todo o céu, a lua estava no seu auge, brilhando majestosa e iluminando tudo que estava ao seu alcance.
Virei-me em sua direção, tentei decifrar a sua expressão e assustei ao chegar ao fim de minha analise.
Tudo era negro.
Tudo era frio.
Tudo era desconhecido para mim.
No entanto, eu me sentia segura perto de sua imensa escuridão.
Segurei suas mãos gélidas, enfim eu havia entendido.
Disse-lhe que não era culpa dele ter de trilhar todos estes caminhos de sangue, que está era a sua missão e ela tinha que ser finalizada.
Ele me observou por alguns segundos e logo me vi sendo rodeada por seus braços.
Um abraço calmo e doloroso.
Suavemente minhas pálpebras foram se fechando e a última cena de que me lembro.
São meus lindos cabelos vermelhos esvoaçantes se perdendo em meio ao seu corpo...
Em meio a escuridão, repleta de estrelas!
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Caminhos de Sangue - COMPLETO
Short StoryUm... dois... três... passos dados naquele caminho. Era doloroso! Era feito pelo meu sangue. PLÁGIO É CRIME, IMAGINAÇÃO NÃO!!