O prédio de fato foi bastante atingido com os tremores, certeza disso é as paredes da escada, outrora com buracos com vista externas, poeira engolindo os degraus. Sem luzes para iluminar a passagem, o que sustentava a claridade era a lanterna, agora segurada firme pelas mãos da moça degraus acima.
A lanterna insistia em piscar, falhando.
Ela ofegava, com o rosto molhado. O de Racheu acumulava suores, assim como o delirante Josh, apoiado na parede.
Por barulhos externos, sabiam que ainda tinha pessoas em seus veículos fugindo dali. Cantadas de pneus por toda direção, gritos vazios, tudo vinha lá de baixo, da rua.
Cadê o exército?
Foi o que Josh pensou, encostado. Já era pra se ouvir disparos revidando ou jatos cortando os ares, mas não ouviram nada.
- É as minhas chaves - respondeu a mulher, pendurando ela no cós da calça e voltou a apontar a lanterna para Josh e Racheu – obrigado.
Mas Racheu não disse nada, esperava a resposta que havia feito, tentando não perder o contato visual da mulher.
Era nítido os ruídos finos de mais paredes talvez se rachando. E rachou, uma das encanações de água que passavam por cima dos três, jorrando instantaneamente.
No susto, Racheu agarrou seu pai, que se apoiou nela. A mulher, próximo a eles virou-se para esconder as pastas, enquanto a maior parte da água caía sobre os outros dois. Teriam que descer naquele momento, a qualquer custo, mesmo que sem resposta da mulher.- É... vamos – finalmente respondeu a moça, jogando seus cabelos molhados para trás.
Desceram.
Aproximando dos primeiros andares, esbarravam com outras pessoas que transitavam erroneamente para todos os lados. Seguiram para o Saguão de entrada e lá estava concentrado talvez o que seria o maior grupo de pessoas refugiadas.
Alguns dos funcionários, desesperados, ainda teriam que acalmar os turistas, os visitantes, disponibilizando os telefones no balcão central. A fila estava enorme.
- Não vai dá certo por ai – sussurra a mulher quase inaudível.
- O-oque? - pergunta Josh, com uma das mãos levada a cabeça.
Sem respostas. A mulher retornou a escadas, desceria mais alguns degraus. Racheu não exitou, a seguiu.
Os olhares dela mostravam o quanto vazios estavam, diferente do medo exalado no saguão pelos turistas desesperados, querendo voltar para suas casas. Olhando por cima do ombro, percebia que Racheu e Josh também transmitiam medo.
- Qual o seu nome? – perguntou Josh quando pisaram no subsolo do prédio.
- Me chamo Susan – responde ela.
Susan esticava o pescoço a procura de onde estava o carro dela naquele enorme emaranhado de carros. No mesmo instante, gritos soaram dos andares de cima. Vinham do saguão ou até mesmo dos andares de apartamentos. Estrondos de correria começou.
Susan rapidamente sinalizou silêncio com o dedo e amedrontada começou a passar a passadas apressadas pelos carros, seguidos por Josh e sua filha. Teriam que ser rápidos. Eles estavam ali no andar de cima.
- Ali está! - exaltou Susan, apontando para esquerda – E-3. É um azul.
Procurando pela coluna, Josh enxergou o carro dela. Susan correu até ele os dois seguiram.
Chegando no carro, um estrondo maior e bem mais próximo retumbou em seus ouvidos. Só puderam se agachar e levar as mãos a cabeça.
Nas vagas da coluna M,N e O o peso do teto arreou, desabando aquela parte, afundando carros estacionados ali. Racheu olhando pelos vidros dos carros a sua frente, pode ver o desabamento em partes do prédio, conjuntamente de pessoas caindo de qualquer jeito pelo buraco, outras já descendo pelas escadas que momentos antes desceu.
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Entre Nós (Revisando)
Ficção CientíficaO que fazer quando aqueles que nos vigiavam cada passo nosso aqui na Terra, o que fazíamos, o que comemos, nossos atos fúteis, o nosso jeito de "desperdiçar" a vida, descerem em nosso solo? Seria o ápice da desordem humana. Nesta obra trago emoções...