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Apaixonar-se pela sua melhor amiga é a pior coisa que você pode fazer no mundo inteiro, dentre todas as outras coisas. Por mim, é considerado um suicídio interno, onde todas as suas vontades tornam-se nulas e qualquer outra coisa sem sentido. Você fica obcecado e encurralado, visto que a pessoa por quem seu coração pede está em todos os aspectos da sua vida; é a sua influência mais marcante e vê-se sem ânimo com sua ausência. É uma saudade eterna. É como se jogar repetidamente de um penhasco; você mesmo já sabe que está ferrado, está ciente, mas prefere continuar.

Amar em si pode ser um infinito de coisas — libertador, confinador, congelante, o motivo da sua derrota, uma prisão invisível —, todavia você coloca tudo a perder nesse caso. No meu caso. No caso das melhores amigas perdidamente apaixonadas. E falar sobre isso é um erro enorme, mesmo que para as pessoas mais confiáveis, principalmente para sua melhor amiga, e eu tenho muitas delas — não que eu esteja apaixonada por todas. Tenso.

Quando admiti verdadeiramente para mim mesma que meu coração era de ninguém mais ninguém menos que de Miyeon, fiquei de luto por mim mesma por um dia inteiro, deitada na minha cama com um enorme copo de água e montes de frutas cortadinhas, sentindo pena de meu pobre espírito formado em gostar das pessoas erradas. A primeira pessoa que amo tinha que ser a mais impossível de todas?

Para começar, Cho Miyeon não é capaz de amar, romanticamente falando, e jamais se colocaria em um relacionamento. Ela deixa seu medo de dar errado e montes de coisas mais impedir que tente; sem riscos, sem corações partidos. Em segundo, mora há quase duas horas da minha casa e me corta sempre que toco no assunto "crush", com a desculpa de nunca gostar de ninguém, e eu acredito plenamente, pois não faz o tipo dela.

Não sei por que droga deixei-me cair por alguém tão inalcançável, o ser humano parece ter certo fetiche por coisas e pessoas que não podem ter.

Amar tão intensamente quanto a amo destrói minha vida dia após dia, em cada flerte que tocamos e ela trata como brincadeira, em cada vez que nos vemos e ela não dedica seu tempo a mim — Miyeon é uma garota popular —, em cada aproximação que tem com qualquer outra menina e eu tremo, em cada vez que a vejo com as meninas que beija. Miyeon não gosta de falar comigo sobre esse último tópico, como se, de algum modo, soubesse sobre os meus sentimentos e tivesse pena, tentando apaziguar minha dor, mas tento insistir e demonstrar interesse para mostrar o contrário, mesmo que me doa a alma.

Soyeon, uma grande amiga minha, disse certa vez que não importava com quantas pessoas eu ficasse, namorasse ou gostasse, pois voltaria a pensar em Miyeon de um jeito ou de outro. Ela desconfia de meu amor por Miyeon há meses, mas eu não lhe disse nada e nem pretendo. Jamais guardei tão bem um segredo.

— O que 'tá fazendo aqui
sozinha, Minnie? — perguntou Soojin, namorada de Soyeon. Olhou para minhas mãos e fez careta ao ver o livro que eu segurava e apoiava em minhas pernas, de braços cruzados e feição chateada. — Eu não acredito que você está lendo em um baile!

— Há pessoas que nasceram para dançar, como você e Soyeon; há pessoas que nasceram para cantar, como Yuqi e Miyeon; há até mesmo pessoas que nasceram só para fazer pão; e, no meio disso tudo, existe eu, que não nasci para nada disso — sorri docemente sob seu olhar reprovador. — Estou fadada à companhia daqueles que Eu ensinam sem falar, falam sem dizer, dizem ensinando e ensinam a sentir.

Soojin enrugou a testa, descruzou os braços e ficou paralisada a minha frente por o que eu conter ser um minuto, para depois correr ao socorro da namorada, gritando.

— Soyeon, sua amiga está sendo estranha outra vez!

Revirando os olhos ao ver minha amiga olhar-me de modo assassino ao ser chamada atenção pela ruiva, pus meu companheiro de todas as horas — mais conhecido como Quem é você, Alaska, livro preferido de Miyeon — de volta na bolsa e levantei.

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