Quando saímos, vimos todas as crianças encolhidas em torno da porta da sala de estar. Mesmo que não tivessem ouvido tudo o que fora dito pela srta. Avocet, tinham entendido o mais importante, o que ficará evidente pela expressão em seus rostos pálidos e cansados.
— Coitada da senhorita Avocet! — choramingou Claire, os lábios trêmulos.
— Coitadas das crianças da senhorita Avocet! — disse Olive.
— Elas vêm ficar com a gente agora, senhorita Peregrine? — perguntou Horace.
— Vamos precisar de armas! — gritou Millard.
— Machados de guerra! — disse Enoch.
— Bombas! — disse Hugh.
— Parem com isso! — gritou a srta. Peregrine, levantando a mão para pedir silêncio. — Todos devemos permanecer calmos. Sim, o que aconteceu coma senhorita Avocet foi trágico, extremamente trágico, mas foi uma tragédia que não vai necessariamente se repetir aqui. Entretanto, temos de ficar em alerta. A partir de agora, vocês só podem sair da casa com meu consentimento, e sempre em dupla. Se notarem alguém desconhecido, mesmo que pareça peculiar, venham me informar imediatamente. Vamos discutir estas e outras medidas preventivas de manhã. Até lá, vão todos para a cama! Isso não é hora para uma
reunião.
— Mas senhorita Pe... — tentou Enoch.
— Para a cama!
As crianças foram correndo para seus quartos.
— E em relação ao senhor e a senhorita, não gosto muito da ideia de vocês voltarem sozinhos. Acho que talvez seja melhor ficar, pelo menos até as coisas se acalmarem um pouco.
— Não posso simplesmente desaparecer assim. Meu pai ia surtar. -- disse Jake
— É claro — disse ela. — Nesse caso, insisto que pelo menos passem a noite aqui.
— Eu fico — falei sem hesitar.
— Eu fico também — Jake falou —, se vocês me contarem tudo o que sabe sobre as
criaturas que mataram meu avô.
Ela inclinou a cabeça e ficou o observando, com a expressão de quem quase achava graça.
— Está bem, senhor Portman, não vou desprezar essa sua necessidade de saber. Instale-se no divã para dormir e discutimos isso assim que acordarmos.
— Não — Jake retrucou ela lançou um olhar severo. — Te de ser agora.
— Às vezes, meu jovem, você anda numa linha muito tênue entre ser um rapaz interessante de personalidade forte e um cabeça-dura terrível. — Ela se virou para Emma. — Senhorita Bloom, poderia buscar minha garrafa de vinho de coca? Parece que não vou dormir esta noite, então terei de me permitir isso, já que tenho de me manter acordada.
Enoch me deu boa noite e voltou para o quarto dele.
A biblioteca era perto demais do quarto das crianças para uma conversa na madrugada, então nós fomos para uma estufa que ficava no limiar da floresta. Sentamos sobre vasos virados de cabeça para baixo em meio a rosas em crescimento, com um lampião a querosene entre nós, antes de o amanhecer romper através das paredes de vidro. A srta. Peregrine pegou um cachimbo do bolso e se inclinou para acendê-lo na chama do lampião. Deu algumas baforadas pensativas, soltando espirais de fumaça azul, e depois começou:
— Em épocas remotas, as pessoas nos tomavam por deuses — começou ela —, mas nós, peculiares, não somos menos mortais que as pessoas comuns. As fendas de tempo apenas retardam o inevitável, e o preço que pagamos por usá las é considerável: um divórcio irrevogável do presente real. Como você sabe, pessoas que passam muitos anos dentro das fendas podem ficar pouquíssimo tempo no presente, senão murcham e morrem. Essa tem sido a ordem das coisas desde eras imemoriais.
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Peculiar history
FanfictionUma historia sobre os livros do Orfanato da sta. Peregrine para crianças peculiares mas na visão da irmã mais velha de Jacob Portman, porém, mais focada em um romance um tanto quanto peculiar. Emoção, drama, romance, são algumas das sensações que vo...