Overdose

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  Kai se sentia lânguido, leve e preguiçoso, não se lembrava da última vez que passou um dia todo sem fazer nada, sem preocupação, sem trabalho, sem treino, só comer, se divertir e dormir. Por isso se sentia pior do que um urso panda esticado ali, em uma esteira de palha de baixo da árvore do balanço ao lado da casa.

Era fim de tarde, o sol se punha tão lento quanto ele se esticava ali, na sombra fresca do pé de manga carregado. Fechou os olhos e se recordou da manhã que ficou se divertindo na cachoeira com a Luana, Baek, Dae e Chan. Foi divertido e relaxante.

Ele estava fascinado com ela também e se sentia confuso com isso, ainda assim aproveitou o dia sabendo que precisava disso. Se sentia seguro ali, alguns membros podiam ainda ter dúvidas, mas ele sabia, sentia melhor do que sabia, que aquelas mulheres não se aproveitariam deles, não usariam eles para ganhar nada, elas eram legais.

Eram diferentes, mas legais, e a prova disso era o que Min informou a todos no almoço, que elas iam levá-los em três dias para São Paulo para que pudessem voltar para casa seguros. Para Kai, aquilo era prova o suficiente. Então decidiu aproveitar aqueles dias ali para relaxar, descansar e se preparar para o que ele soube ser uma longa viagem. Iriam praticamente atravessar o país todo. E o Brasil era imenso, continental.

— Ei Kai, vai ficar aí até anoitecer mesmo?

A voz estridente de Baek chegou antes dele. Kai sentiu alguém sentar ao seu lado e evitou bufar, já era sua paz e tranquilidade.

— Estou dormindo Baek, vá embora.

— Ok, eu vou, mas depois não reclama que ficou de fora...

— Fiquei de fora do que?

Kai abriu os olhos e se sentou encarando um Baek com cara de fofoqueiro e risonho.

— Eu acabei de saber que a Lu, as irmãs e as tias vão para a floresta essa noite comemorar alguma coisa que eu não entendi o que era, mas que nós íamos ficar sozinhos por umas horas.

— Onde você ouviu isso?

— Lu estava dizendo isso para o Lay, em mandarim, mas eu estava passando pela porta e ouvi. Ela deixou alguns frascos de remédio para ele e disse que voltava antes do amanhecer e que se precisasse de algo devia pedir ao Min.

— Desde quando você a chama de Lu?

— Desde que ela pediu, aliás, as irmãs dela chamam ela assim e eu gostei do som, mas isso não é o importante, você me ouviu? Elas vão fazer alguma coisa na floresta, tipo algum encontro secreto, não é legal? Eu quero saber o que é!

— Deixe de ser curioso Baek, o que elas vão fazer não importa!

— Importa sim, e se vão sei lá... Sei lá, acender uma fogueira e fazerem algum feitiço.

— Sabe, você lê mangás demais.

— Estou falando sério, eu quero saber – E ele diminuiu a voz – Min ganhou um trevo de quatro folhas da irmã mais velha, e Lay ia devolver o colar para ela, mas Lu deu para ele, disse que era para protegê-lo do mau. Estou dizendo, elas são bruxas. Elas cozinham em caldeirões, fazem chás estranhos, colocaram Lay dentro de um círculo que disseram que era de cura e olha só, ele devia estar morrendo de dor e com a perna travada, mas ele está bem e já consegue andar, você lembra do tamanho do corte dele e de como era profundo? Porque eu lembro!

— Que seja, Baek, mas elas são legais, tem cuidado de nós e você não deveria se intrometer aonde não foi chamado, o que elas vão fazer diz respeito somente a elas.

3º FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora