Meu pai está na cozinha "preparando" algo para a janta. Realmente espero que não seja macarrão instantâneo ou algum enlatado. Se eu tivesse um nutricionista, com certeza ele surtaria ao saber do meu cardápio semanal.
Sempre fico com o quarto maior. Deve ser é uma forma de "presente" do meu pai.
Creio que esse seja o maior que já tive mas... vou me manter com minhas coisas no canto onde a luz da janela não bate diretamente. Logo logo iremos embora novamente, então não vou tirar nada além do essencial das malas. Penduro meus casacos em alguns cabides na parte de fora de um guarda-roupas antigo; Meus dois pares de sapatos ficam no canto debaixo da cama perto do baú que há no pé da cama; Tiro três livros de uma das malas e coloco em cima do criado-mudo que tem ao lado da cama; Minha mala de roupas coloco em cima do baú; Junto dos livros eu coloco meu caderno e um estojo de canetinhas. Pronto. Acampamento montado para dois meses.
Enquanto procuro uma tomada para recarregar meu celular ouço o barulho de panelas e latas caindo vindo da cozinha, no andar de baixo.
-Eu estou bem...- Gritou meu pai lá de baixo.
-Onde estão os lençóis limpos?-Grito em resposta.
-Na mala de fivelas no meu quarto.
-Okay...
Vou até o quarto e me deparo com um labirinto de caixas, malas e maletas. Não sei como ele pode ter espalhado tanto em tão pouco tempo. Em cima da cama os lençóis antigos estavam melados de óleo que escorrera de uma estrutura metálica, algum tipo de máquina que estava próximo dali. Início a busca pela mala de fivelas em meio àquela floresta desconhecida que aparentemente foi poupada de nossa faxina. Não posso esbarrar nas caixas, não sei o que há dentro delas ou quão frágeis são. Na ponta dos pés vou me encaixando entre as bagagens até chegar próximo ao guarda roupas. Lá finalmente avisto o tesouro perdido. Mas ele não poderia estar livre de armadilhas... Em cima da mala tem uma caixa de frascos de vidro, um deslize e o desastre está feito. Me aproximo lentamente à mala e suspendo a caixa até a cama. Feito. Abro as fivelas e pego um lençol azul bebê junto com cobertores e fronha. Refaço o caminho que fiz para vir e levo-os até minha cama.
Termino de arrumar a cama e sento-me próximo ao criado mudo. Pego meu caderno e começo a escrever mais uma carta que nunca será entregue.
"Querida Jenny.
Chamar de querida é bem falso né? Mas ignora é sempre assim que se iniciam cartas era isso ou 'Exelentissima Jennyfer'. Estou no fim do mundo. Dormi no meio do caminho então não sei nem como voltar a pé. Início essa jornada com muita bravura e coragem, que os deuses me ajudem "- Cola ou soda? - Grita meu pai lá de baixo.
- Soda, claro! - fecho meu caderno e vou ao encontro do meu pai.
Quando chego na cozinha, duas tigelas enormes de lámen acompanhas de duas latinhas de refrigerante e uma petisqueira de nuggets de frango. Que combinação esquisita, a cada dia ele se supera. Lavo as mãos e sento-me à mesa enquanto ele tira o avental xadrez que de tão sujo parece ter ido a guerra.
Diferente das outras mudanças, nossa primeira refeição foi bem silenciosa. Quando me inclino para sair da mesa ele inicia:
- As compras chegam amanhã. Estou pensando em colocar a tv acima da lareira na sala de estar, o que você acha?
- Pode ser.. - Me acomodo novamente ao banco da ilha.
- Estive pensando também em um aparelho de som no banheiro, o que acha?
- Pode ser, pai.
- E que tal uma reforma no jardim dos fundos?
- Pode ser... - Na verdade eu nem sabia que tinha um jardim nos fundos
- E o elefante no seu quarto?
- Pode ser...
- Anne, estás me ouvindo?
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Infinity
FantasyQueria poder ir ao baile que se passa no salão ou lutar com os guerreiros que vivem no vilarejo depois da minha cama ou quem sabe passar um tempo pintando flores juntos às fadas que vivem no jardim ao lado da pia... Esse é meu primeiro livro, então...