Primeira noite

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Eu me sentia um pouco fora de mim, mas evitava demonstrar, porque tolamente ainda temia que tudo aquilo podia ser minha imaginação. E também porque Baek estava com a gente no carro, e tínhamos combinado de por enquanto não comentar nada com os outros meninos.

Nós três precisávamos nos habituar e eu tinha consciência que não seria uma coisa simples, Kai ainda olhava Lay com ironia tensa e desafio enquanto este o tratava como um jovem rebelde. Quem via Lay nas entrevistas e tudo, jamais imaginaria que além de ser um fofo responsável e sincero, ainda era tolerante e maduro como se mostrava pessoalmente.

E tinha derretido todo o meu cérebro com aqueles beijos ao ponto de que eu tinha muita e completa noção que ao contrário do que Kai disse sobre tê-los em seus dedos, na verdade eles me tinham nos seus, muito e muito rápido.

Quando caí apaixonada por aqueles dois homens tão diferentes? Ou já estava e ao aceitar, acabei internalizando o sentimento? Ou me dei conta que não poderia perdê-los naquela madrugada diante daquele horrível pesadelo?

Não sabia ao certo, mas tinha certeza que iria lutar para que desse certo, mesmo sabendo das impossibilidades que o futuro traria, afinal, eles moravam do outro lado do mundo, eram ídolos pop e muito, muito famosos. Quais eram minhas chances reais?

Desviei meus pensamentos para a realidade do momento, viveria um dia de cada vez, seria menos doloroso.

Minha irmã desacelerou e eu vi a placa sinalizando a próxima BR, a 210, que nos levaria para a capital. Respirei aliviada, Caracaraí estava próxima, poderíamos parar para tomar banho e jantar, naquelas circunstâncias era o paraíso.

Os meninos já deviam estar meio loucos por algo civilizado, como Baek falava. Então Laine parou e saiu do jipe vindo até nós, eu também parei e saltei do carro, ela me encarou séria.

— Se vamos precisar parar, vamos fazer isso em um motel que já estive, lá eles não vão pedir documentos, lembre-se, os meninos estão sem nada, não podemos ser paradas até alcançarmos Porto Velho. Lá vamos até tio Ali, se der tudo certo, seguimos para São Paulo.

— Você pretende ligar para o tio Ali desse motel?

— Sim, e torcer para ele atender.

Nos encaramos por algum tempo preocupadas.

Tio Ali vivia em uma reserva de retiro espiritual, longe de tecnologias e afins, só se dava ao luxo de ter um único celular para emergências, ou seja, nem sempre estava ligado. Mas ele era a melhor opção, ele tinha contatos importantes em Rondônia e isso podia facilitar ao menos documentos provisórios para os meninos até que nós pudéssemos recorrer a uma embaixada.

— Podemos alugar o motel todo pela noite? Acha que dá? Assim será mais seguro, colocamos pares em cada quarto, será mais confortável. Eles vão poder comer direito, dormir e descansar, depois daqui a viagem será bem longa.

— Eles têm cinco quartos, acho que dá para ser feito – E minha irmã sorriu – Você se resolveu com seus noivos?

Eu suspirei, não era exatamente resolver, as coisas não eram tão simples, mas estava caminhando.

— Não sei se resolver é a palavra certa.

— Não se preocupe, meu amor, vai dar tudo certo. Agora vamos correr para alcançar o motel antes do anoitecer.

E ela me deu um peteleco na testa e riu antes de voltar para o jipe.

Eu rolei os olhos e voltei para a caminhonete. Baek saltitava no banco ansioso.

3º FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora