Em um país qualquer... Uma cidade qualquer... A dor de um passado tenta regressar...
1 - Não preciso de você seu ignorante! Você não perde por esperar! Eu te mato seu idiota, eu te mato! Após bater o telefone com uma força desproporcional, Joel deparou-se com dezenas de olhares que o observavam como que o querendo devorar. Alguns demonstravam certo tipo de desprezo pela atitude de certa forma ríspida que acabara de ter com quem quer que fosse que estivesse do outro lado da linha. Já outros pareciam assustados e nem mesmo ousavam fitálo diretamente nos olhos. Não era a primeira vez que seus gritos ecoavam por dentro daquele escritório, fazendo com que todos os seus colegas de função deixassem de lado tudo o que estavam fazendo e se pusessem apenas a observá-lo. - O que estão olhando? Perderam alguma coisa aqui? Joel estava furioso. Parecia que nada daria certo naquele dia. Havia acordado atrasado e nem mesmo conseguira tomar o café da manhã. Suas roupas estavam amarrotadas e seu cigarro havia acabado. E para que sua manhã ficasse completa só faltava mesmo encontrar aquela correspondência sobre sua mesa.
Prezado Senhor Joel; Lamentamos informar que seu original foi examinado e que sua obra não se enquadra no nosso perfil editorial. Agradecemos por sua compreensão; Editor chefe. Nicholas Kurt Era a terceira vez que seu original era rejeitado pela mesma editora, a qual dizia publicar apenas romances. E o que mais o revoltava era o fato de que seu original era sim um romance, o qual havia intitulado de “Meus Últimos Dias na Terra”, onde contava a história de uma menina que aos três anos de idade, mesmo acometida por uma doença terminal, ajuda seus pais a se curarem da dor e da angústia usando de palavras consoladoras, as quais nunca haviam ouvido antes. A menininha consola seus pais sempre que os vê chorar e os ensina valiosas lições de amor e companheirismo. Isso faz com que o casamento dos dois se fortaleça, e no fim da história, quando os dois já haviam recuperado o amor que sentiam um pelo outro,a menininha parte. Quando seus pais entram em seu quarto, para lhe dar o café da
manhã, encontram-na sem vida em sua cama. Ao lado da cama, sobre o criado mudo encontram um bilhete, escrito pela menina – “Queridos Papai e mamãe, hoje tive de partir. Sinto não ter podido dar-lhes um abraço de despedida, mas não queria vê-los chorar. Sinto que minha missão com vocês foi cumprida. Espero que possam de hoje em diante cultivar o amor que existe em cada um de vocês, e que possam servir de exemplo para os outros casais que passam por problemas. E que por motivo algum se esqueçam do amor que um dia os uniu. Sinto-me privilegiada por tê-los conhecido. Foram três anos de muita luta que no fim valeram muito. Sou feliz por ter sido na companhia de vocês e de forma tão agradável meus últimos dias de vida. Espero vocês no paraíso”. Era difícil para Joel ver seus originais serem rejeitados um após outro. Sentia seus sonhos naufragarem e sua vida aos poucos perder o sentido. Toda vez que fechava os olhos, podia ouvir sua mãe lhe dizendo quando garoto: - Sinto orgulho de você meu filho! Com certeza será um grande escritor! - Acha mesmo, mamãe? - Claro que sim meu amor! Seus poemas estão cada dia mais lindos! É só questão de tempo para ouvirmos seu nome por todos os lugares! Você vai ver!
E lá ia ele, com um sorriso largo pegar seu caderno e seu lápis desfigurado pelas mordidas que costumava dar em sua ponta. Seus pensamentos voavam enquanto escrevia. Parecia viver cada frase por ele escrita. Costumava sentarse em sua cama e olhar para a janela de seu quarto, onde através da vidraça transparente observava as folhas sendo carregadas pelo vento, anunciando mais uma chuva forte que viria para banhar seus pensamentos e despertar-lhe os mais puros sentimentos. A casa em que Joel vivia era bastante antiga. Fora construída por alguns exploradores que haviam vindo de Portugal procurar riquezas naquele solo. Estava já bem castigada pelo tempo. As paredes feitas de madeira iam aos poucos se esfarelando consumida por cupins e todo tipo de praga. No meio da sala havia uma grande escora de madeira que dava sustentação ao telhado, o qual ameaçava desabar a qualquer momento. As escadas rangiam a cada passo dado. Era preciso subir com cuidado, nas pontas dos pés para que não acabasse com um pé preso entre as tábuas já ocas dos degraus. No andar de cima ficavam os dois quartos da casa. Joel por ser o único homem da casa após a morte de seu pai acabou herdando um dos quartos. Era pequeno e muito úmido, é verdade, mas servia como o seu refúgio, seu esconderijo. Era lá que Joel costumava viajar por seu mundo imaginário, onde era um grande escritor, conhecido por todos e morando em uma grande casa, toda pintada de amarelo com um telhado gigante e um jardim coberto de flores que nunca murchavam e que esperavam ansiosas por