𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟎𝟓𝟏

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Os olhos de Christopher encararam o enorme outdoor que naquele instante, debaixo do sol escaldante do México, estava enfim sendo trocado.

Debruçou-se na janela do hospital, curioso por saber qual foto se formaria naquele grande espaço em branco.

Não evitou sentir-se estranho, porque de fato aquele lugar em sua mente pertencia a uma só imagem, a um só olhar e a um só nome. Dulce Torredo.

A televisão ainda dava as notícias sensacionalistas sobre a doença de Dulce.

Os jornalistas ainda estavam em peso na frente do hospital, esperando por explicações, por uma entrevista exclusiva com Dulce ou algum parente próximo. Maite havia assumido a Torredo, mas nem esse fato fazia com que a televisão deixasse Dulce de lado, nem esse fato fazia com que as pessoas se perguntassem como uma desgraça daquela podia ter acontecido com a Rainha Torredo.

Estranho, essa era a palavra que novamente lhe veio à cabeça ao ver a imagem de Maite sendo formada no grande espaço em branco há tantos metros de distância de onde Christopher se encontrava. Havia por tantas noites e dias parado na frente daquele grande espaço. Havia por tantas vezes conversado mentalmente com a imagem poderosa e bela de Dulce, garantindo a mesma que estava chegando, pedindo para que esperasse um pouco mais, que aguentasse um pouco mais.

Seus olhos se fecharam por longos instantes e sua cabeça se virou de forma imediata para a cama onde Dulce encontrava-se profundamente adormecida.

Ele ficava horas ali, dezenas de horas a mirando, com o sol sobre sua cabeça o aquecendo do frio e do medo que sentia conforme as horas passavam e o rosto dela tornava-se cada vez mais pálido e debilitado.

Dali podia ver a fina capa de suor que cobria o rosto e o pescoço de Dulce. Assim como podia ver a falta de cor em seus lábios, o contraste do vermelho de seus cabelos com o branco do travesseiro, o contraste do tom pálido daquela pele, com o tom de sua própria pele quando a tocava.

Preferia quando ela estava dormindo.

Por mais que a expressão de dor ainda estivesse presente naquele belo rosto, ele não podia ver o olhar dela. Um olhar que o matava. Um olhar que vinha acompanhado de um silêncio profundo, que pedia perdão a ele por aquela tortura. Ela adormecia logo após as intensas sessões de quimioterapia. E quando acordava de forma discreta levava as mãos aos cabelos, os puxando levemente, certificando-se de que ainda estavam ali. As drogas eram ingratas, a enjoavam e faziam dela uma escrava da dor e da esperança. Às vezes Blanca deitava-se na cama com ela, a abraçando com força, murmurando uma breve prece para que seus anjos se juntassem aos anjos de Dulce e lhe aliviassem aquelas dores. Às vezes Blanca deixava o quarto, por não suportar a forma como Dulce adormecia, ficando tão imóvel, tão pálida...

Mas ele não podia sair. Porque seu coração, sua alma e seus pensamentos eram daquela mulher naquela cama. A força que fazia para controlar seus nervos e seus sentimentos às vezes ameaçava o sufocar. As crianças a visitava, as enfermeiras tentavam a alegrar, o quarto recebia novos vasos de flores a cada instante.

Mas algo além do medo e da dor, fazia com que toda vez que ela acordasse voltasse rapidamente a cabeça para o lugar onde Christopher se encontrava e permanecesse em silêncio... o mirando com aquela intensidade assustadora sem nada dizer, sem nada pedir ou mandar.

E eram aqueles olhares que o matava.

O silêncio dela, a forma como ele sabia que ela se desculpava, imaginando a dor que ele sentia, imaginando se ele via Lavínia em vez dela deitada sobre aquela cama, sem ter qualquer coisa a fazer a não ser lutar contra a morte.

Aproximou-se da cama com pressa, como se a distância que os separasse fosse demais para ele. Sentou-se na cama, checando os batimentos cardíacos no monitor, checando o soro pendurado ao lado da cama. Logo suas mãos foram até o rosto de Dulce, lhe medindo a febre, limpando-lhe o fino e frio suor.

Um Lindo HomemOnde histórias criam vida. Descubra agora