3º Filha

Bruxas

Eu sabia que tinha acontecido algo mais quando eu acompanhei minha irmã, na manhã seguinte, para fazer o pagamento e ela tinha um brilho diferente ao seu redor. Era tênue, mas sua aura estava diferente, muito mais verde do que o normal. O sol nascia no horizonte e todos dormiam.

Eu tinha saído do quarto com o máximo de cuidado possível para não acordar nenhum dos dois, afinal a noite de ontem foi tensa, apesar das coisas boas, e eu não queria que Kai despertasse e caísse em si, de que tudo foi um erro e desse seu show de ciúmes de novo. Aquilo exauria minha alma e meu coração. Estava apaixonada por ele, mas não era de ferro, Kai era uma pessoa difícil e eu me se sentia fraca cada vez que ele surtava.

E assim como eu percebi que ela estava radiante aquela manhã, ela percebeu meu estado aflito e cansado. Nos sentamos juntas para tomar um café leve na área aberta do pequeno motel e minha irmã pegou em minhas mãos.

— O que houve?

— Lay está lidando bem, sabe, mas Kai não. Ele pende, uma hora quer, outra não quer, uma hora aceita, outra pira, estou cansada. Eu dormi, mas não descansei, será que isso é certo Laine, ou será que estou pedindo demais? É bom estar com eles, mas eu sinto que embora eu me sinta feliz, confortável e querida, há algo errado, fico triste com isso.

— Aceitação é algo que precisa de tempo, meu amor, e lembre-se, eles são muito jovens. Homens amadurecem mais lentamente do que nós.

— Verdade – Eu mexi o café da minha xícara e então olhei em direção ao nosso quarto – E Min, Laine? Vocês... Bem... Você sabe.

Me senti sem graça, eu era a que tinha dois namorados ali, que inclusive tinha passado a noite toda nos braços deles, mas era totalmente diferente, eu ainda estava no começo, nossa relação era em outra esfera, mas a Laine era adulta...

Ela riu baixo.

— Digamos que Min está bem cansado agora.

— Ah, não quero saber, esquece.

Resmunguei aflita, era melhor mesmo deixar para lá, uma porque ele era agora meu cunhado e era estranho, outra que eu não estava preparada para passar por aquela linha ainda.

Falando sobre aquilo, tinha consciência que Lay tinha noção daquilo, mas talvez Kai não tivesse...

Outro problema.

Suspirei cansada, ele era impulsivo, e não sabia de outros detalhes, do tipo que eu era protegida e bem protegida naquele âmbito. Existia uma linha invisível, e noite passada quase chegamos nela, perigoso. Para ambos.

— Bem, nosso tempo está no fim, pronta para dirigir mais um pouco? Eu não consegui falar com tio Ali, mas tenho fé de que vai dar tudo certo.

— Vamos embora!

Fiz sinal de ok animada, estava cansada, mas as coisas boas do dia anterior compensavam, como a declaração de Lay por exemplo. Uau, as palavras dele me seguiram em sonhos. Era bom, era maravilhoso.

"Aqui é onde você já mora alguns dias, espero que seja para sempre, você aceita que seja para sempre, Luana?"

Ele tinha perguntado mantendo a minha mão sobre seu coração. Havia declaração mais amorosa do que aquela? Carregaria aquela nossa conversa na caminhonete para sempre em minhas lembranças. Estava gravado em meu coração, como as ondas que batiam incessante e eternas nas areias da praia.

— Seja o que for mantenha essa lembrança com você, sua aura fica mais azul com ela.

Minha irmã me lançou um sorriso doce antes de se erguer. Voltamos para a estrada meia hora depois. E eu procurei manter minha aura o mais leve possível. Por mim, e por eles.