Capitulo único

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As únicas feridas que já vi foram aquelas por onde estudei. Mas apesar disso eu estava preparada, ou pelo menos achava que estava afinal eu estudei para isso, não eu não tenho repulsa sangue.
Mas, agora aqui nesse enorme e silencioso hospital, eu não me sinto tão preparada assim. Não sei se são os barulhos de bombas lá fora ou o desespero dos enfermos. Para ser bem sincera desde que o fascismo se alastrou junto com a guerra o medo tomou conta das pessoas. Mas agora a única alternativa que me restava era fazer meu trabalho da melhor forma possível.
Já era madrugada e o dia havia sido exaustivo, a única coisa que eu queria agora era uma cama e tentar descansar um pouco. Quando eu vir pra cá eu sabia que nada seria fácil, afinal estamos em guerra e até meus pais não queriam me deixar vir para cá, mas sou teimosa demais para deixar alguém cuidar da minha vida, mas por mais que eu soubesse disso eu jamais imaginei que seria como estava sendo. Em apenas duas semanas já havíamos socorrido milhares de enfermos e já tivemos algumas baixas em nosso hospital, a pior parte do nosso trabalho, pelo menos para mim é dar a noticia de que alguém morreu claro tirando algumas outras coisas como, por exemplo, quando algum soldado se machuca muito e somos obrigadas a amputar um braço ou uma perna, a dor, o choro, o sangue dos feridos, é estar em uma guerra não tem nada glorioso, ao menos para nós que cuidados dos soldados feridos.
— Mandou me chamar? — minhas mãos estavam um tanto trêmulas por algum motivo eu estava nervosa, era como quase se meu espirito soubesse que algo estava errado, antes mesmo do meu consciente.
— Esse rapaz — A mulher de aproximadamente seus 50 anos mirava seus tênis brancos — Esse rapaz não para de chamar seu nome — Ela disse por fim — Ele chegou aqui faz uns dias — Ela engole em seco antes de continuar — Ao que parece ele foi baleado, e como estava em uma região que demorar em procurar feridos, demorar em acha-lo o que pode dificultar sua melhora — Ela limpava suas mãos em seu avental branco, embora elas não estivessem sujas, talvez fosse nervosismo.
— Erick? — Eu o reconhecia em qual quer lugar e em qual quer situação. Por um segundo eu voltei para o dia em que eu deixei minha casa para vir cá, para esse inferno que é a guerra.
— Eleanor — A sua voz estava fraca, em pensar que ele agora estava assim por minha causa. Quando eu estava atendendo em campo de batalha uma bomba quase me atingiu, se não fosse ele correr na minha direção, talvez agora eu estivesse morta.
Quando parti para a guerra obvio que deixei alguém para trás se eu o amava? Não sei, mas aquele momento esse pensamento me pareceu tão trivial.
Ver Erick assim me deixava mal e por um impulso eu o beijei, seus lábios já quase sem cor e gélidos mal correspondiam aos meus. Com toda certeza se fosse há outros tempos Erick seria um bom partido, e se não fosse essa guerra, quem sabe poderíamos nos conhecer melhor. Mas infelizmente isso já não seria possível, pois ele morreu minutos depois que nos encontramos. Agora lá no alto da colina do cemitério todos vão saber onde ele está enterrado, pois em sua sepultura há uma flor para todos se lembrarem da bravura dele nessa guerra, para lembrarem-se da sua resistência contra o inimigo. 

A flor da resistênciaWhere stories live. Discover now