O odor é agradável. O cheiro de orvalho da manhã é predominante nas narinas sensíveis; forte como o vento e dominante como fogo.
Jungkook exala esse cheiro todas as manhãs. Talvez porque impregna-se em sua roupa quando vem pela floresta, ou talvez, porque parece enraizado em sua essência. Sempre exalara o mesmo odor agradável, porém ambíguo.
Por vezes, doce e sublime, por outros, forte e dominante. Contudo, nunca fora ruim, na realidade.
No entanto, nesta manhã, o cheiro não se enquadrara em nenhum aspecto. Não é forte nem doce; está sério e quieto.
Sem piadas sem graça ou toques exagerados. Apenas transpira um suor amargo.
— É hoje? — notou a tensão naqueles ombros largos.
O dia nasceu cinza, nublado. A neblina cobre toda a base da floresta que se inicia a pouco mais de cem metros do local.
É inverno. E por mais que o relógio marque a começo do amanhecer, o sol não surgiu.
Entendeu o motivos dos ombros tensos; finalmente ele escolhera o dia.
— É a oportunidade, Taehyung — explicou — o dia está difícil para os sentinelas, irão dobrar a guarda.
Então é isso, o tempo de troca será maior, pensou.
Distanciou-se do par de janelas com os olhos ávidos para as paredes do quarto mal iluminado. Havia marcas nelas; marcas antigas demais. Essas que guardam segredos dolorosos e lembranças alucinantes.
Algumas, tão antigas que tomaram um aspecto arroxeado; outras, mais antigas ainda, tinham o tom acobreado. São dolorosas demais para encarar por muito tempo, por isso, as mais assustadoras estão tapadas pelo criado-mudo, outras por um sofá velho e acabado. Mas, mesmo assim, são visíveis.
Houve um dia, a cerca de dois anos, em que Taehyung furtou produtos de limpeza, um balde transbordando de água e um esfregão. E passou a manhã, tarde e noite esfregando cada mancha. Mas nada saíra daquelas paredes. A marca perfeita do impacto continuara naquelas paredes mal pintadas.
Há também tinturas, uma encima da outra, que tentam encobrir aquelas manchas.
Nada funciona, nunca.
O próprio quarto parecia o condenar, deixando, a cada dia que se passa, ainda mais visíveis; mais ávidas e escuras.
Há três anos que está preso neste quarto. Há quase dois anos que não pisa mais para o lado de fora. Quase um ano sem notícias de nada. De ninguém.
E quase seis meses que não dorme mais que três horas.
Está pior, muito pior que antes.
Não estão medicando, mas sedando-o.
Só que, ainda mais agora, dormir é a pior coisa do dia.
É a única hora que não pode conter-se, e a única que não sente dor.
E esse é o grande problema, ele não sente nada. E não sentir nada, principalmente a dor, quer dizer não ser humano. E esse é o pior pesadelo.
Não sabe o que é nem de onde surgiu.
— Não pense muito, já sabemos o que acontece quando faz isso. — Jungkook passara a ponta dos dedos pelas costas ásperas do outro.
Há quanto tempo Jungkook está ajudando-o?, pensou.
Três anos? A quanto tempo todos estão ali? Não se lembrara.
Quando fora que acabaram assim?
— Estou refletindo. — sussurrou.
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Memórias Roubadas: Gonjiam
FanfictionAconteceu algo há muitos anos atrás. Algo segredado às sete chaves; perigoso demais para ser descoberto. Seis garotos foram mandados para um hospício. Há um em especial, Kim Taehyung; o único que, de alguma forma, está ligado ao ocorrido. Ninguém sa...