Capítulo 10

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Sem conseguir mover um músculo sequer, lutando para não sufocar a cada lufada de ar que dou, continuo encarando o homem que tanto rezei para não voltar a ver e que agora está, ironicamente, parado a poucos passos de mim. Com o mesmo semblante presunçoso que deixei para trás e o par de olhos mentirosos, que tolamente acreditei um dia serem os mais sinceros, e os quais eu passei a detestar.

As lembranças e sentimentos amargos que tranquei por tanto tempo, retornam com tamanha força, que agradeço ao universo por ainda ser capaz de me manter em pé.

Divago até três anos atrás. A todos os momentos, todos os beijos, todas as carícias e promessas, assim como todas as mentiras e humilhações. E meu estômago revira. A antiga Clara se faz tão vívida como jamais fora em todo esse tempo, e só o que tenho vontade é de sair daqui e fingir que essa merda de reencontro nunca aconteceu.

Perdida em uma avalanche de emoções, sendo raiva a mais forte entre elas, nem ao menos percebo o instante em que o sujeito do qual quero distância, se põe a minha frente. Observo sua mão estendida para me cumprimentar e tenho vontade de afastá-la com um tapa, mas, inconvenientemente e para a sua sorte, todos os olhares da sala estão sobre nós e não pegaria nada bem eu ser rude com o novo investidor do colégio.

Respiro fundo, querendo me recompor.

Preciso me acalmar.

Tenho que ficar calma ou não sobrará pedra sobre pedra, e certeza de que o corpo docente irá de brinde e o meu trabalho também.

Preciso me acalmar!

Estar outra vez tão próxima a ele, de longe, traz boas sensações. Olhar para o seu rosto, menos ainda. Odeio estar nessa posição e como odeio. Porém, ciente de que não há nada que eu possa fazer contra isso, o que resta é bancar a profissional. O que não significa que não lhe darei todo o meu desprezo. Bem, mais do que ele já tem.

– Muito prazer em conhecê-la. – ele diz em inglês, quebrando o silêncio e sorrindo cordialmente, como se fossemos realmente estranhos.

Será que posso ser despedida se der um soco nele ao invés de apertar a sua mão?

– Eu sou Adrian, o novo investidor desse colégio. E você é...

– Clara. – respondo, mesmo relutante – Sou a professora Clara, de literatura.

Adotando o melhor estilo inglês, dou-lhe um apertar de mão breve. Sem mais.

Voltamos a nos encarar, isso até a voz da diretora Charlotte soar um tanto dura.

– Podemos começar?

Viro-me para ela e digo que sim. Recolho os meus pertences até então caídos e vou em direção a cadeira vazia mais distante da ponta da mesa, onde Adrian se posta novamente.

Com todos em seus lugares, enfim, a reunião começa. O incomodo em meu peito parece aumentar a cada segundo que estou dentro dessa sala, tão perto daquele homem. Finjo prestar atenção assim como os demais professores, enquanto, na verdade, rabisco qualquer coisa no meu bloco de anotações, o qual sempre trago comigo para momentos como este.

Ele fala, fala e fala. Mas sequer lhe dou ouvidos. Continuo rabiscando o papel, simulando ser algo bem mais interessante do que a tal proposta de investimento, porém, ainda assim, tenho plena consciência de que seu olhar não sai de mim. Posso sentir o peso de sua mirada, buscando o que não estou nem um pouco disposta a ceder.

Penso em John e no que fizemos antes do mundo cair sobre a minha cabeça, querendo, de alguma forma, tirar o foco da situação atual. Contudo, o que consigo é exatamente o contrário. Sinto-me culpada e não sei o porquê. Talvez o fato de que o meu ex-namorado agora seja um dos principais investidores do colégio possa ser o motivo. Pois, assim como eu não estou nenhum pouco contente com isso, sei que Johnie também não ficará. E, principalmente, porque eu não quero envolvê-lo nisso.

InabalávelOnde histórias criam vida. Descubra agora